Olá, me chamo Thallya, tenho 14 anos, sou co- fundadora do CEBI criança, como diz o Frei João Osmar aqui do CEBI RS, e atualmente faço parte do CEBI Juventude. Devo confessar-lhes que fiquei nervosíssima com o convite, mas, por outro lado, fiquei muito ansiosa para dar o meu melhor na realização deste artigo, pois o CEBI sempre será muito especial e extremamente importante para mim, sendo assim, sempre em que realizo alguma atividade dentro do CEBI procuro me esforçar e dar o meu melhor, com amor e muita dedicação!
Em 2019, aos 8 anos, eu tive uma das melhores descobertas da minha vida, após passar por momentos difíceis para mim, a minha adaptação em um novo lar com meus pais de coração, Angélica e Ronildo, me apoiaram e me mostraram que o mundo era muito maior do que eu imaginava, e que eu poderia confiar em adultos, em alguns, né? Mal sabia eu o que essa grande descoberta mudaria na minha vida, o CEBI não só me abriu portas, como me ajudou e ainda continua me ajudando na minha formação como uma discípula de Jesus nos tempos atuais. Lembro-me perfeitamente do dia em que conheci a o CEBI pela primeira vez, minha mãe é uma colaboradora e é a ela em que devo agradecer por me proporcionar este feito maravilhoso. Lembro das sensações que me acompanharam naquele dia, me recordo que era um daqueles dias fabulosos de inverno em que há uma leve brisa fria, o que é de costume aqui no Sul, mas havia um sol de inverno forte o suficiente para nos manter aquecidos. Logo ao entrar na sede do CEBI, que fica localizada aqui em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, conheci duas pessoas muito especiais que desde então vem me acompanhando na minha trajetória de vida. Renê Cerentini, ou como eu gosto de falar ‘tio Rene’, ele sempre foi muito querido comigo, e dizia às vezes: Muito bem, Thallya, e Ildo Bohn Gass, que sempre me ajudou a interpretar situações com parábolas da bíblia. Conheci a livraria que para mim, sempre foi um lugar de conexão tanto mental como físico. O CEBI me ajudou na minha alfabetização, me recordo de sentar na mesa da cozinha e ficar ali tomando chá e tentando unir as silabas formando palavras e frases que encontrava nas revistas do CEBI. Minha mãe sempre ressaltava: “Thallya, não vai fazer arte, brinque, mas com sabedoria”.
Com o tempo fui me familiarizando com o CEBI, descobrindo mais da história do CEBI e de seus fundadores, o Frei Carlos e a Ir. Agostinha, que sempre me encantava com os seus belos poemas. Através do CEBI fui conhecendo várias pessoas que sempre me inspiraram e me incentivavam, Silvia do CEBI-PE e Fatinha do CEBI-ES, ambas sempre foram amorosas comigo e adorava ouvir as suas histórias e experiências vividas por meio do CEBI e com elas aprendi que o CEBI não possui idade nem religião, o CEBI acolhe todas as pessoas. Eu tinha a autoestima baixa, por conta do meu cabelo e de tudo que ouvi quando menor, mas as duas tem cabelo crespo, e sempre exaltavam que meu cabelo é lindo, eu ficava toda boba. Fatinha, sempre chegava com um presente, e que criança que não gosta de presente, né? Silvia brincava comigo “Thallya, gostaria de comprar livros “, eu amava isso.
A dificuldade de ser jovem dentro das igrejas:
A escolha de ser católica partiu da minha vontade, com 9 anos. Meus pais, por outro lado, sempre me apoiaram e deixara claro que não iriam interferir na escolha da minha religião, minha mãe é espírita e meu pai é evangélico, mas ambos são totalmente abertos a novas experiencias, inclusive participam comigo quando podem. Por outro lado, minhas madrinhas de batismo são católicas e muito devotas, são mulheres de muita fé, a quem eu tenho muito amor, Laurete e Juliana. Eu faço parte da Santo Expedito, uma comunidade pequena que se encontra todos os Domingos pela manhã em uma capelinha ainda em construção na esquina da rua da minha casa, eu participo das missas desde os meus 9 anos. No início eu ficava envergonhada por ser uma das poucas crianças sozinhas dentro da igreja, mas depois fui me soltando e com o tempo fui ajudando no que eu podia, desde a liturgia como na organização, sempre muito feliz, pois acreditava que aquele espaço me ligava com a minha espiritualidade divina e eu sinto um amor tão grande quando olha para Jesus.
Porém, com o tempo em que fui crescendo e vendo coisas que passavam despercebidas. Estas questões começaram a me intrigar e incomodar, e sempre participava dos encontros on-line de formação do CEBI . Aprendi com o CEBI a ter uma visão geral e solidaria, aprendi que uma mulher não tem que ser submissas aos vossos maridos, (como já ouvi dentro da igreja que as mulheres têm que ser submissas) aprendi também sobre igualdade de gênero e a respeitar todas as religiões. Afinal, o CEBI sempre teve essa linguagem ecumênica e inclusiva . Naquela época, em que eu entrei na igreja, eu era muito pequena e ainda estava me autoconhecendo na fé – ainda estou – mas com um olhar um pouco mais desenvolvido, graças ao CEBI. Com o tempo, dentro da igreja, percebi falas machistas, descriminadoras e preconceituosas com as quais eu não concordava, até mesmo já me julgaram por ser vegetariana (Que absurdo!), o que de fato me magoou muito foi o fato das pessoas me acharem incapacitada para estar ali na frente representando a juventude, até mesmo o fato de estar mostrando o meu ponto de vista e dando opiniões, eu era a menina metida que achava que sabia de tudo. Por um bom tempo fiquei sem ir, comecei a frequentar outra capela que também tem aqui no meu bairro, participei de alguns retiros de jovens com as Irmãs Salesiana e as Aparecidinha que conheci por meio do CEBI. Relatei a situação para outras meninas que também passaram por isso, então elas me disseram que também passavam por isso, após alguns dias, conversei com o Ildo e algumas outras pessoas sabias. Foi aí que me dei conta de que não importa onde eu esteja, isso sempre iria acontecer, sendo normal ou não, mas eu não poderia ficar parada diante desta situação, eu sabia que fazia parte de uma organização incrível que incentiva muitas pessoas a não desistir e continuar lutando pelos seus direitos, foi aí que eu me questionei “se Jesus não desistiu, quem sou eu para desistir’’?
Tomei partido da situação em que estava passando e como se dizem “Dei a volta por cima” ou melhor, estou dando, não desisti dos meus sonhos, não dei bola para falas indesejadas que duvidavam do meu potencial, eu sabia que muitos jovens estão sendo silenciados por diversas igrejas por aí e se eu preciso se ser a voz deles eu serei, mas acima de tudo honraria a voz que Jesus me deu. Afinal, essas situações não são normais, mas infelizmente quase sempre iram acontecer, mas é nessa hora em que devemos nos posicionar e ser firme no que Jesus nos pede, para uma JUVENTUDE mais pé no chão!
Ser jovem no CEBI:
Este ano, tive o privilégio de conhecer pessoalmente a direção do CEBI, e devo confessar que fique muito feliz, pois me senti importante, acolhida e ouvida.
Conversei com o Erivaldo sobre algumas situações que precisam ter um olhar mais atendo da direção, e Erivaldo acolheu minhas palavras e meus sentimentos, e até mesmo indignações, e ele disse que iria lutar por isso, isso me deixou contente, pois percebo que minha voz está tendo valor.
A direção me perguntou o que eu estava achando da juventude do CEBI, nisso relatei que está havendo um movimento promovido pelas juventudes em alguns estados, o que é ótimo, pois até pouco tempo tínhamos poucos jovens no CEBI, acho admirável que a juventude está correndo atrás e buscando protagonismo, mas acredito que a juventude precisa mostrar protagonismo, sabe aquele ditado em que diz: “Grandes poderes vem com grandes responsabilidades’’, pois é, vem mesmo, e temos que correr atrás. Afinal, o CEBI ajuda no que pode, mas é uma Ong ecumênica, precisa do apoio das pessoas que gostam dele, divulgando e colaborando.
Outro ponto importantíssimo de ser ressaltado é o adultocentrismo, sei que muitas vezes, como jovens dentro do CEBI, acontece algumas situações, mas quero dizer-lhes, de jovem para jovem, que alguns adultos são assim, ainda mais os que tem mais idade, mas eles não fazem isso por que eles se acham os “senhores da razão”. Eles só estão tentando nos passar o que foi passado para eles, e sinceramente, não vejo problema nenhum nisso, por que eu mesma aprendi e muitas vezes continuo aprender com os que possuem mais experiência, e nós que estamos entrando agora e começando a nossa caminhada devemos honrar e sentir gratidão por eles que vieram antes e fizeram o caminho juntos com outros irmãos até aqui, eles esperam que nós continuemos o legado do CEBI, mas que seja um legado de comprometimento e não de aproveitamento.
Após esses anos de vivências e partilhas dentro do CEBI, percebo que o meu encanto, amor, carinho e acolhimento que eu senti no início continua o mesmo, porém mais evoluído. Dentro do CEBI eu me encontrei, fui acolhida com muito carinho e tive a chance de conviver com pessoas incríveis que eu nunca imaginaria conhecer. Gratidão por todas as pessoas que me acompanharam nessa jornada até aqui, gratidão pela sede do CEBI que foi a “casa da mãe” que me acolheu e acolhe todos , amo aquele espaço preservo ele junto com as demais pessoas que estão lá , para que ele seja eterno, para mim aquela sede sempre foi mais do que só uma casa, ela é a história do CEBI, a história que se depender de mim será contada e vivenciada pelas próximas gerações.
Obrigada!



