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A Bíblia e a Pessoa Idosa

Em alusão ao dia da Pessoa Idosa (27/02), o CEBI partilha o artigo de nossa irmã Wania Scarpetto


1. O entardecer da vida

Na juventude, poucas pessoas se preocupam com a velhice, até que ela vai envolvendo cada pessoa, trazendo também a preocupação com a morte. Na terceira idade, a preocupação com a morte é uma constante. Então, aparece a pergunta pelo sentido da vida. No Primeiro Testamento, aparecem vários textos que falam dessa preocupação, bem como do medo e da angústia das pessoas idosas pelo fato de serem esquecidas e abandonadas. Os Salmos, além dessa preocupação, refletem a confiança na fidelidade de Deus: “Não me rejeites agora que estou na velhice, não me abandones quando me faltam as forças…Agora que estou velho e de cabelos brancos, não me abandones, ó Deus até que eu descreva o teu braço à geração futura” (Sl 71,9.18).

Ao se alcançar a idade avançada, aprofunda-se a reflexão sobre a caminhada de vida com Deus, pelo seu cuidado. Também é momento propício para ver que tudo tem o seu tempo neste mundo, e que a idade avançada é um tempo dentro do propósito divino: “Há tempo pra nascer e tempo pra morrer” (Ecl 3,2).Para Qoheletno livro de Eclesiastes, a consciência da morte inevitável deve levar o ser humano a viver com intensidade toda a sua vida, procurando sempre a sua felicidade. A certeza da morte deve nos levar a viver plenamente a vida, a amar e celebrar a vida até mesmo na idade avançada. Para Qohelet, falar da vida e de todo o seu sentido requer que também falemos da morte. A partir da morte se descobre a vida. “Na vida, há tempo para tudo […] Quem compreende esse mistério vive a vida com intensidade. Viver é a arte de viver intensamente no amor. Morrer é arte, desde que se tenha vivido com intensidade” (Jacir de Freitas Faria, em A morte como sentido da vida em Eclesiastes. CEBI/MG).

O sentido da vida está em perceber, mesmo na dor e no sentimento de abandono, a presença e a ternura de Deus que não nos abandona, que nos cria e cuida de nós desde a concepção até a morte: “Eu vos carrego desde o nascimento, eu vos levo nos braços desde o útero. Até a vossa velhice, eu continuo o mesmo. Até cobrir-vos de cabelos brancos, eu continuo a carregar-vos” (cf. Is 46,3-4).

Para Jesus de Nazaré, a dignidade do ser humano consiste em viver uma vida com maior sentido, conforme o propósito do próprio Deus: “Eu vim para que tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10).

Afinal, o que a Bíblia tem a dizer sobre o sentido da vida, sobre a longevidade garantida para aqueles que buscam a fidelidade a Deus? Abordaremos alguns aspectos para conduzir nossa reflexão.

2. As pessoas idosas no Antigo Israel

Os textos da Bíblia Hebraica, ao se referirem às pessoas idosas, anciãs ou velhas, usavam zaqen. Eram pessoas com alto grau de dignidade e respeito.

Ao percorrermos o Primeiro Testamento, podemos observar o respeito e a valorização das pessoas idosas na cultura judaica. Os patriarcas, como líderes dos clãs familiares, mantinham uma estrutura social, voltada para as tradições antigas. Sua palavra, experiência e decisão eram extremamente importantes. Eram os anciãos os responsáveis para guardar a memória e a experiência do passado do povo (cf. Sl 78,3). A história do casal idoso, Abraão e Sara, contada no contexto do Exílio, foi um sinal vigoroso da ação de Javé num tempo de muita dor e sofrimento. O ventre estéril de Sara é depositário da semente que não envelhece. Nela, a Aliança entre Abraão e Javé se torna perene.

A experiência das pessoas idosas, portadoras de conhecimento, sabedoria e prudência, lhes conferiam uma posição de destaque nas famílias, nos clãs e na vida pública.

1. O simbolismo das idades

A respeito das idades avançadas, temos que ser categóricos: os números são simbólicos. Os textos bíblicos que falam das idades avançadas têm como objetivo mostrar que, quanto mais próximas as pessoas estão de Deus, elas vivem melhor. À medida que as pessoas se afastam do projeto de seu criador, a vida perde sentido, torna-se efêmera. E morre-se mais cedo.

Podemos observar que os personagens bíblicos que viveram antes do dilúvio, de Adão até Noé, viveram de 969 a 600 anos (Gn 5,27; 7,6). Isso mostra que, até o dilúvio, eles viviam muitos anos, pois eram “próximos” de Deus. “Noé era justo, íntegro e andava com Deus” (Gn 6,9).

A partir do dilúvio, a expectativa de vida cai. Os capítulos 5 a 11 de Gênesis mostram que a maldade, a perversão e a violência são as causas da diminuição da qualidade de vida. “E Javé disse: Meu espírito não animará o ser humano para sempre. Sendo apenas carne, não viverá mais do que 120 anos. Javé viu o quanto havia crescido a maldade das pessoas na terra e como todos os projetos de seus corações tendiam unicamente para o mal. Mas a terra se perverteu diante de Deus e encheu-se de violência. E Deus viu que a terra estava pervertida: toda a humanidade tinha pervertido sua conduta na terra. Então, Deus disse a Noé: Decidi pôr fim a toda humanidade, pois, por sua causa, a terra está cheia de violência” (Gn 6,3.5; 6,11-13).

De Noé até Abraão, a idade das pessoas varia entre 600 e 205 anos (Gn 11,32). No período que vai de Abraão até Josué, a Bíblia fala de uma média de vida que vai de 180 a 110 anos: Sara, 127 anos (Gn 23,1); Isaac, 180 (Gn 35,28); José, 110 (Gn 50,26); Moisés, 120 (Dt 34,7) e Josué,110 anos (Js 24,29).

É ilusão pensar que alguém tenha vivido tanto tempo assim. A informação bíblica é um recurso literário com um significado teológico. O autor bíblico quer dar ênfases ao fato de que, com o passar do tempo, a qualidade de vida vai se comprometendo, porque as pessoas não estão em comunhão com o projeto de Deus, praticado a maldade, a perversão e a violência. Deus fez o ser humano para a vida, no entanto, esse escolhe outro caminho e se afasta de Deus, tendo como conseqüência a diminuição da qualidade e duração da vida.

2. Teologia da Retribuição

“Meu filho, ouve e acolhe as minhas palavras, e os anos de tua vida se multiplicarão” (Pr 4,10).

Em várias passagens, o texto bíblico informa que a longevidade é dom de Deus que é concedida àqueles que vivem segundo a obediência à sua lei: “Se ouvirem e obedecerem, completarão seus dias na felicidade e seus anos em delícias” (Jó 36,11). “Meu filho, não te esqueças da minha instrução, e teu coração guarde meus preceitos, pois eles trarão dias duradouros para ti, muitos anos de vida e a paz” (Pr 3,1-2).

Também o 4º mandamento liga o número de anos à observância do decálogo: “Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te deu Javé, teu Deus” (Ex 20,12). “Cabelos brancos são coroa de honra, a qual se encontra nos caminhos da justiça” (Pr 16,31).

De outro lado, quem desobedece a lei é punido antes que alcance a velhice: “Virá o momento em que cortarei o teu braço e o poder da casa de teu pai, para que em tua casa ninguém mais chegue à velhice. Verás no templo teu rival e tudo o que alegra Israel, enquanto em tua casa ninguém mais chegará à velhice” (1Sm 2,31-32). “O temor de Javé prolonga os dias, enquanto os anos dos ímpios serão abreviados” (Pr 10,27).

É por isso que, mais tarde, na literatura sapiencial, o fato de os ímpios viverem mais do que os justos torna-se motivo de escândalo e questionamento à Teologia da Retribuição. Tal reflexão é latente no livro de Jó: “Por que os ímpios continuam a viver e, ao envelhecer, se tornam ainda mais ricos?” (Jó 21,7).

Num primeiro momento, a vida de Jó era vista como bênção, pois estava repleta de riqueza, de saúde e promessa de vida longa. Porém, ao longo do livro, Jó resiste contra essa teologia que o acusa de ser o culpado pelo suposto castigo da pobreza, da doença e da morte prematura de seus filhos.

Todo livro de Jó é resistência popular contra essa catequese oficial do templo, representada pelos “amigos”. Eles compreendiam Javé como um Deus justiceiro que retribui a cada pessoa segundo o cumprimento da lei. Aos bons observantes da lei, a bênção, isto é, riqueza, vida longa, saúde, descendência e honra. Aos maus cumpridores da lei, o castigo, isto é, pobreza, morte prematura, doença, esterilidade e desonra. Esta era a teologia oficial do templo no pós-exílio. Jó superou esta visão de Deus e experimenta, no cotidiano, um Deus solidário e defensor dos pobres. É a experiência da gratuidade nas relações com o sagrado em oposição a um relacionamento com bases comerciais, de troca.

3. Os anciãos como representantes do povo

Na época do Êxodo, os anciãos exerciam um importante papel na liderança: “Vai e reúne os anciãos de Israel para dizer-lhes: Javé, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, apareceu-me, dizendo: Eu vos visitei e vi tudo o que vos sucede no Egito… Eles te escutarão, e tu, com os anciãos de Israel, irás ao rei do Egito” (cf. Ex 3,16-18; 4,29; 24,1ss).

Esses anciãos exerciam funções de autoridade política, religiosa e jurídica. Além de respeitados como líderes experientes e sábios, eram considerados portadores do espírito divino e tinham grande autoridade como guias do povo, participando ativamente no processo de libertação do Egito e na doação da Lei (Dt 27,1; 5,23; 29,9). “Reúne setenta homens dentre os anciãos de Israel, que tu conheces como sendo anciãos e magistrados do povo, e traze-os à Tenda do Encontro, onde devem esperar contigo. Descerei ali para falar contigo. Retirarei um pouco do espírito que há em ti e o darei a eles, para que te ajudem a carregar o peso do povo e não sejas sozinho a suportá-lo” (Nm 11,16-17).

Na época dos juízes, o exercício da autoridade também cabia aos anciãos. Eles tinham a tarefa de aconselhar e orientar o povo em questões de ordem e moral: “Josué reuniu em Siquém todas as tribos de Israel e convocou os anciãos, os chefes, os juízes e os magistrados, e eles se apresentaram diante de Deus” (cf. Js 8,10; 9,11; 24,1.31; Jz 11,5ss). Samuel, quando velho, atende aos pedidos dos anciãos para que indique um rei: “Então os anciãos de Israel se reuniram e foram até Samuel em Ramá. Disseram a Samuel: ‘Veja, você já está velho e seus filhos não seguem o seu exemplo. Por isso, escolha para nós um rei, para que ele nos governe como acontece em outras nações” (1Sm 8,4-5). Samuel, porém, alerta sobre os riscos da monarquia para a vida do seu povo (cf. 1Sm 8,10-17).

No reinado, era responsabilidade dos anciãos indicarem e ungir reis: “e eles ungiram Davi como rei de Israel” (2Sm 3,17; 5,3). Também eram seus conselheiros. Como representantes do povo, constituíam um conselho: “Então o rei mandou que se apresentassem diante dele todos os anciãos de Judá e de Jerusalém”. (cf. 1Rs 20,7ss; 2Rs 10,1; 23,1). Em outro caso, quando o conselho dos anciãos não foi ouvido pelo rei Roboão em favor do conselho dos jovens, houve consequências ruins para o rei, de um lado e, de outro, possibilitou a libertação das tribos do norte (cf. 1Rs 12,6-11).

Jeremias, ao ser acusado de profetizar contra a cidade, seria condenado à morte se não fosse pelas palavras do conselho dos anciãos: “Alguns dos anciãos do país tomaram, então, a palavra, dirigindo-se àquela assembleia do povo” (cf. Jr 26,7-19). Para ser ouvido, Jeremias se serve da companhia de autoridades civis e religiosas: “Assim disse Javé a Jeremias: Vai comprar uma bilha de barro, acompanhado de alguns anciãos do povo e alguns sacerdotes mais velhos” (Jr 19,1). Na linguagem apocalíptica, Deus é representado como um ancião de cabelos brancos, com vestes brancas sentado no trono (Dn 7,9).

Tal como hoje, também naquele tempo, as lideranças estavam marcadas por muitas contradições. E o povo sofria as consequências por causa da corrupção, exploração dos pobres e violação dos direitos cometida por anciãos (chefes e poderosos): “Javé está vindo para fazer um julgamento contra os anciãos e contra os chefes do seu povo” (Is 3,14).

4. Os anciãos como corpo jurídico

Mesmo sob a dominação babilônica, os idosos continuaram exercendo seu papel de guias e conselheiros. Após a deportação, tiveram atuação fundamental na reorganização dos pobres da terra. Mais tarde, como membros do colégio dos anciãos nas sinagogas junto com os sacerdotes e doutores da lei, sua função era quase que exclusivamente jurídica, cuidando para que a Lei fosse cumprida. No episódio de Rute, encontramos um exemplo. Ali, Booz chama dez anciãos da cidade para julgarem o caso de Rute com base nas leis do Resgate e do Levirato ou Cunhado (cf. Rt 4,2). Junta às portas das cidades, os anciãos também resolviam, entre outras questões, dúvidas em relação à virgindade: “o pai e a mãe da jovem pegarão a prova da virgindade dela e levarão a prova aos anciãos da cidade para que julguem o caso” (Dt 22,15). Conforme Js 20,4, os anciãos, na porta das cidades de refúgio, acolhem e protegem um homicida involuntário contra a vingança do redentor que quer fazer justiça: “o homicida poderá fugir para uma dessas cidades e, colocando-se junto à entrada da porta da cidade, poderá expor o caso aos anciãos dessas cidades. Estes o acolherão na cidade…” (cf. Dt 19,12; Nm 35,9-15). Há caso sem que esses anciãos usam mal o direito. Uma narrativa muito conhecida está em 1Rs 21,8ss, no episódio da vinha de Nabot. Os anciãos e notáveis da cidade, representantes da religião e da justiça, são manipulados pela rainha Jezabel, fazer falso o julgamento, matar e roubar a vinha de Nabot.

5. Respeito e cuidado para com pessoas idosas

No 4º mandamento do Decálogo, vemos o alerta aos mais jovens sobre a responsabilidade do respeito e do cuidado do pai e da mãe com idade avançada. Isso mostra que o cuidado e o respeito às pessoas idosas eram uma questão perene, merecendo um lugar de destaque nos mandamentos. As relações sociais justas devem iniciar no seio da família. Fora dela, no tempo do Antigo Testamento, não havia nenhuma forma de amparo e proteção às pessoas idosas ou doentes.

Não são poucos os textos da Escritura que orientam quanto ao respeito a quem vive na velhice. Exemplos: “Cada um de vós reverencie sua mãe e seu pai, e guarde os meus sábados. Eu sou Javé, vosso Deus… Levanta-te diante de uma cabeça branca e honra o ancião. Teme o teu Deus. Eu sou Javé” (Lv 19,3-4.32). Meu filho, guarda os preceitos de teu pai e não desprezes os ensinamento de tua mãe” (Pr 6,20). “O orgulho do jovem é a força, e a honra do ancião está nos cabelos brancos” (Pr 20,29). “Dá ouvidos a teu pai, porque ele te gerou, e não desprezes a velhice de tua mãe” (Pr 23,22).

O livro do Eclesiástico contém um comentário ao quarto mandamento, insistindo no respeito e no cuidado para com os pais, como princípio fundamental da identidade do povo (Eclo 3,1-16). “Meu filho, cuida de teu pai na velhice e não o abandones enquanto ele viver. Mesmo que ele fique caduco, seja compreensivo e não o desprezes, enquanto estás com pleno vigor” (Eclo 3,12-13).

3. As pessoas idosas no Segundo Testamento

A palavra grega para pessoas idosas é presbyteros. No Segundo Testamento, que foi escrito em grego, é usada fundamentalmente para pessoas líderes, coordenadoras ou supervisoras (epíscopos), seja no judaísmo como nas comunidades cristãs das origens.

1. Autoridades judaicas

É comum, nas narrativas dos evangelhos, encontrarmos os anciãos como autoridades ao lado de escribas e sacerdotes (cf. Mc 7,3.5; Lc 7,3). “Jesus voltou ao templo. Enquanto ensinava, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se dele, perguntando: Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu essa autoridade?” (Mt 21,23). Exerciam autoridade junto ao corpo jurídico, contribuindo para a perseguição e condenação de Jesus: “De fato, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo haviam-se reunido no palácio do sumo sacerdote Caifás. Ali, armaram um complô para prender e matar a Jesus” (Mt 26,3-4). “Jesus ainda falava, quando veio Judas, um dos Doze, com uma grande multidão armada de espadas e paus; vinham da parte dos sumos sacerdotes e dos anciãos do povo… Os que prenderam Jesus levaram-no à casa do sumo sacerdote Caifás, onde estavam reunidos os escribas e os anciãos” (Mt 26,47.57). Neste mesmo sentido, podemos encontrar os anciãos deliberando junto aos sumos sacerdotes para condenar Jesus à morte (cf. Mt 27,1.3.12).

Na Igreja nascente no período dos apóstolos, os anciãos junto com os chefes e escribas, exerciam forte influência na perseguição contra as comunidades cristãs: “Cinco dias depois, o sumo sacerdote Ananias foi a Cesareia com alguns anciãos e um advogado chamado Tertulo. Eles apresentaram-se ao governador como acusadores de Paulo” (At 24,1). “No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalém os chefes, os anciãos e os escribas… Fizeram Pedro e João comparecer diante deles e os interrogaram: Com que poder ou em virtude de que nome vós fizestes isso? Então, Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes: Chefes do povo e anciãos, hoje estamos sendo interrogados por termos feito o bem a um enfermo e pelo modo como foi curado… Logo que foram postos em liberdade, Pedro e João voltaram para junto dos irmãos e contaram tudo quanto os sumos sacerdotes e os anciãos haviam dito” (At 4,5.8-9.23).

Como pudemos ver, os anciãos tinham autoridade junto ao sinédrio. Sabemos, contudo, que a sociedade israelita valorizava as experiências culturais e religiosas acumuladas por décadas pelos idosos. Eram respeitados, pois exerciam papéis de destaque e preservavam as tradições de seu povo. Chegam a questionar Jesus por alterar as antigas tradições dos pais: “Por que os teus discípulos desobedecem à tradição dos antigos?” (Mc 7,5). No entanto, Jesus acusa judeus por oferecerem fielmente “sacrifícios”, “ofertas” ou “oblações” (corban) sobre o altar do templo, mas descuidarem do cuidado dos pais.Com efeito, Moisés ordenou: Honre seu pai e sua mãe. Mas vocês ensinam que é lícito a alguém dizer a seu pai e à sua mãe: O sustento que vocês poderiam receber de mim é corban, isto é, consagrado a Deus. E essa pessoa fica dispensada de ajudar seu pai ou sua mãe” (Mc 7,10-12).

2. Presbíteras e presbíteros no movimento de Jesus

Nas comunidades que se reuniam em casas, presbíteras e presbíteros eram líderes nos mais diferentes serviços. Ali, as pessoas idosas tinham valor: “Recordo-me também da fé sincera que há em ti, fé que habitou primeiro em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e que certamente habita também em ti” (2Tm 1,5). Paulo recorda com alegria a importância que Eunice e Loide, mãe e avó do jovem Timóteo, tiveram na formação cristã dele. A experiência de fé de Timóteo vem da vida dessas duas presbíteras. Por isso, merecem respeito e consideração (1Tm 5,1).

Também Jesus teve abertura à acolhida de mulheres idosas nas comunidades: “Saíram da sinagoga e foram logo para a casa de Simão e André, junto com Tiago e João. A sogra de Simão estava de cama, com febre. E logo eles contaram isso a Jesus. Jesus foi onde ela estava, segurou a sua mão e ajudou-a a se levantar. Então, a febre deixou a mulher, e ela começou a servi-los” (Mc 1,29-31). Uma mulher doente e idosa, uma vez reintegrada na convivência da casa, encontra um novo sentido na vida e, com alegria e gratidão, põe-se a serviço na comunidade.

Igualmente, Zacarias e Isabel, ambos de idade avançada e sem filhos, resgatam a esperança no novo que está por chegar: “Não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada… Assim o Senhor fez comigo nestes dias: ele dignou-se tirar a vergonha que pesava sobre mim” (Lc 1,7.25). Essa alegria que surge do ventre da presbítera Izabel é a fonte da promessa e da esperança manifestada na profecia de Maria: “Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre” (Lc 1,44).

Também o velho Simeão, ao ver o menino Jesus, exalta de alegria: “Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixa teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo” (Lc 2,25-35). Logo na sequência, aparece a profetisa Ana, viúva e idosa, com 84 anos: “Naquela hora, Ana chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém” (Lc 2,36-38). Percebemos que, nas palavras de Simeão e de Ana, mesmo na velhice, é possível encontrar o verdadeiro sentido para a vida e, ainda, proclamar a boa nova da chegada do Salvador a todos os povos.

Essa esperança já era alimentada pela profecia séculos antes: “Não haverá mais crianças que vivam poucos dias, nem pessoas velhas que não cumpram os seus dias, porque morrer aos 100 anos é morrer ainda jovem” (Is 65,20). “E acontecerá, nos últimos dias, que derramarei o meu Espírito sobre toda gente. Vossos filhos e filhas profetizarão, vossos jovens terão visões e as pessoas idosas terão sonhos” (Jl 3,1). Pedro faz memória dessa profecia de Joel na festa da doação do Espírito Santo (cf. At 2,17-21).

3. Nas comunidades de Atos

Nas primeiras comunidades, a participação das pessoas idosas, por sua experiência e sabedoria, foi importante, pois eles contribuíam na construção dos valores éticos, sobretudo na transmissão da fé e da cultura. Como presbíteros, exerciam papéis importantes nas assembleias. Foram eles que, nas comunidades de Jerusalém, acolheram a solidariedade financeira das igrejas fundadas pela equipe missionária de Paulo no mundo greco-romano: “E enviaram a ajuda aos anciãos, por meio de Barnabé e Saulo” (At 11,30).

Essa importância aumentou na medida em que iam exercendo autoridade sobre determinadas regiões e não apenas em comunidades locais, onde passaram a receber o título de “bispos ou supervisores” (epíscopos). “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos estabeleceu como guardiães, como pastores da Igreja de Deus que ele adquiriu com o seu sangue” (At 20,28). Em diversos relatos, é comum encontrar anciãos junto aos apóstolos na condução das comunidades: “Chegando a Jerusalém, foram recebidos pelos apóstolos e os anciãos, e narraram as maravilhas que Deus tinha realizado por meio deles… Nós, os apóstolos e os anciãos, vossos irmãos, saudamos os irmãos vindos do paganismo e que estão em Antioquia, na Síria e na Cilícia” (At 15,1-31; cf. vv. 4.22).

4. Nas cartas de Tiago e de Pedro

Nas comunidades de Tiago e de Pedro, há anciãos que exercem a função de orar por quem sofre doenças: “Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo no nome do Senhor. A oração feita na fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará. E se tiver cometido pecados, receberá o perdão” (Tg 5,14-15). Eles também são exortados a cuidar bem do rebanho de Cristo: “Aos anciãos entre vós, exorto eu, ancião como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, participante da glória que está para se revelar: sede pastores do rebanho de Deus, confiado a vós; cuidai dele, não por coação, mas de coração generoso; não por torpe ganância, mas livremente; não como dominadores da herança a vós confiada, mas antes, como modelos do rebanho. Assim, quando aparecer o pastor dos pastores, recebereis a coroa imperecível da glória. Igualmente vós, os jovens, sede submissos aos anciãos. Revesti-vos todos de humildade no relacionamento mútuo, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes” (1Pd 5,1-5).

5. Nas comunidades das cartas Pastorais

Em se tratando das funções das lideranças junto a comunidades já institucionalizadas no início do segundo século, vemos que os presbíteros eram ordenados por imposição das mãos: “Não te descuides do carisma que está em ti, que te foi dado mediante uma profecia acompanhada da imposição das mãos dos presbíteros” (1Tm 4,14). A partir do ano 100, já temos um colegiado com poderes para ensinar e pregar, ordenar e supervisionar os trabalhos da comunidade. Recebiam remuneração diferenciada e eram protegidos diante de acusações e de calúnias: “Os presbíteros que dirigem bem a comunidade sejam distinguidos com dupla honra, principalmente os que se dedicam à pregação e ao ensino… O trabalhador merece o seu salário. Não recebas acusação contra um presbítero, a menos que seja apoiada por duas ou três testemunhas” (1Tm 5,17-19).

Das lideranças, alguns requisitos básicos eram esperados para serem designadas para a função: “Eu te deixei em Creta para organizares o que ainda falta e constituíres presbíteros em cada cidade, conforme as instruções que te dei” (Tt 1,5). “Que os anciãos sejam sóbrios, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na paciência. Igualmente, as anciãs tenham uma compostura própria de pessoas respeitosas, não sejam caluniadoras nem escravas do vinho, mas mestras do bem” (Tt 2,2-3).

Podemos perceber certo conflito de gerações presente nessas comunidades: “A um mais velho não repreendas, mas aconselha como a um pai. Aos mais moços, como a irmãos. Às idosas, como a mães. Às mais jovens, como a tuas irmãs, com toda a castidade” (1Tm 5,1-2).

Nestas últimas referências bíblicas, é importante perceber que as advertências também são dirigidas às presbíteras, o que é indício de que a liderança nas comunidades também era exercida por mulheres, uma vez que também elas eram “mestras do bem” (Tt 2,3c).

Concluindo, podemos afirmar que esses textos das Escrituras alimentam nossas esperanças, de um lado, e, de outro, nossa inconformidade com a falta de amor e de compreensão, com a insensibilidade e a exploração em relação às pessoas idosas.

Por fim, lembramos novamente o carinho de Deus também por quem já tem cabelos brancos: “Eu vos carrego desde o nascimento, eu vos levo nos braços desde o útero. Até a vossa velhice, eu continuo o mesmo. Até cobrir-vos de cabelos brancos, eu continuo a carregar-vos” (cf. Is 46,3-4). “Assim diz Javé que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te libertei; chamei-te pelo teu nome, tu és meu” (Is 43,1).

Wania Scarpetto
CEBI – Paraná

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