Esse é, como nesses 30 anos tem sido, o tema do Grito dos Excluídos e Excluídas deste 2024. De fato, mais do que tema, é um programa que indica como a sociedade civil precisa se organizar. Neste ano, o lema explicita: “Todas as formas de vida importam, mas quem se importa?”.
O objetivo do Grito é insistir que precisamos continuar e atualizar o grito da independência do Brasil. Não é possível pensar em verdadeira independência um país considerado, no mundo, como o terceiro em desigualdade social. Como é possível povo livre e soberano em uma sociedade na qual menos de dez pessoas possuem a renda equivalente à metade da população brasileira?
O Grito dos excluídos e excluídas se contrapõe ao desfile militar. Infelizmente, esse parece mostrar suas armas, não para defender a população e sim para garantir os privilégios da elite que domina o país. A verdadeira defesa da pátria precisa acontecer de outras formas e para outros fins. Atualmente, seus inimigos não invadem o país com caravelas, nem precisam nos dominar militarmente. Eles combatem povos indígenas, se apoderam de suas terras, destroem biomas como a Amazônia e o Cerrado, privilegiam as mineradoras e compram as fontes de água. Provocam queimadas e contam com o Congresso Nacional para tornar o Brasil dependente das grandes potências.
Diante da barbárie a que estamos diariamente expostos, os movimentos sociais e representantes de diversos setores da sociedade civil se unem em Frentes Populares. Organizam iniciativas educativas que conscientizam a população. Anualmente, no 07 de setembro, através da criatividade e do protagonismo dos grupos de base, fazem manifestações e caminhadas para fazer ressoar o Grito dos Excluídos e Excluídas. Pela participação direta, ou sendo solidários/as com essa movimentação, precisamos todos e todas expressar que projeto de país queremos para o Brasil e como devemos pensar a relação entre governo e sociedade civil.
Nestes tempos difíceis que vivemos, parece que o Grito dos Excluídos e Excluídas se torna ainda mais necessário e urgente do que era há 30 anos quando nasceu, como fruto da Semana Social Brasileira. As pastorais sociais da Igreja Católica, outras Igrejas irmãs, movimentos sociais, sindicatos e várias organizações da sociedade civil têm garantido que o Grito não seja apenas o evento que ganha as ruas de nossas cidades no 7 de setembro. Ele precisa se constituir como processo contínuo de reflexão e de tomada de posição das categorias mais exploradas da sociedade diante de tantas injustiças que dominam o nosso dia a dia.
As recentes notícias de ataques a povos indígenas, no norte da Amazônia, no Mato Grosso do Sul e em outras regiões do país, assim como a fumaça que, em diversas regiões do país, sinaliza as queimadas que toma conta das serras, vales e campinas, tornam mais urgente e dramático esse grito permanente pela valorização da vida humana e de todos os seres vivos.
As comunidades cristãs são chamadas a se lembrarem de que, etimologicamente, o termo grego Igreja significa assembleia. No seu tempo, o apóstolo Paulo chamou de Igrejas as comunidades de discípulos e discípulas de Jesus que ele e os apóstolos tinham formado. A proposta era que esses grupos fossem ensaios de uma humanidade nova e unida. Igreja deveria existir em função do projeto divino da paz, da justiça e da comunhão universal no mundo. Por isso, hoje, mais do que nunca, as Igrejas cristãs deveriam fortalecer essas iniciativas de diálogo e unidade de toda a humanidade. Só assim, poderão ser o que o papa Francisco tem proposto: Igreja em saída.
Irmão Marcelo Barros