A Igreja na Era do Capital

A IGREJA NA ERA DO CAPITAL

Autor: Guilherme Aguiar Magalhães *

Resumo

Este artigo tem como objetivo refletir sobre a práxis espiritual da Igreja neste tempo histórico. Tendo em vista a relação dialética entre o modo de produção capitalista e o agir da Igreja, entende-se ser vital uma análise da proposta da teologia da prosperidade e seu alinhamento com o mercado econômico, pois tal concepção tem transformado a Igreja em um espaço para o comércio das “bênçãos de Deus” por meio da lógica econômica que tem promovido uma cegueira espiritual e para isso a vocação pastoral e a pregação têm sido usadas como ferramentas de instrumento de divulgação. No entanto, a Igreja, isto é, a comunidade daqueles e daquelas que creem em Jesus Cristo, precisam contrapor-se à tal teologia que reproduz o modelo de sociedade, através do agir consciente que promoverá à verdadeira práxis cristã.

Palavras-chave: Igreja; Capitalismo; Práxis Cristã.

 

Introdução

            Ao refletir-se sobre a Igreja e sua práxis na sociedade atual precisa-se a priori apresentar o conceito de Igreja, pois, toda a estrutura que se baseia na definição Igreja-empresa- instituição não representa o sentido de Ekklesia. Tem-se consciência, assim como Lutero[1] que é impossível não existir uma estrutura organizacional. Contudo, questionamos o modelo centralizador, hierárquico, rígido e voltado para a lógica do mercado. Ao longo de um processo histórico é possível chegarmos a ser Ekklesia e, nesse sentido, precisamos contribuir por meio de um agir consciente de nossa atuação na Igreja.

            Na primeira seção do artigo é apresentado o conceito de Igreja e três interpretações sobre o texto de Mateus 16.18 no tocante a pedra, isto é, o alicerce da Igreja. Ademais, dialogaremos com uma interpretação que defende que Jesus Cristo é a Pedra da Igreja. Entende-se que a interpretação correta sobre a Rocha é fundamental para a vida da comunidade, e arriscaremos em apresentar pelas Escrituras o suporte necessário para nossa interpretação, não com uma visão preconcebida e arraigada de ideologias, mas com uma análise rica e verdadeira, a saber, que Jesus Cristo é o cumprimento da profecia.

            Na segunda seção reflete-se sobre o atual modo de produção e sua relação com a Igreja pela perspectiva do materialismo histórico[2]. Perceberemos que a infraestrutura e superestrutura não podem se relacionar de uma forma determinista e mecânica, mas sim dialeticamente. Assim, é importante perceber se a Igreja como um dos aparelhos ideológicos na sociedade tem se portado como agente de libertação por meio da mensagem oficial (Bíblia) ou de manutenção da lógica do mercado na vida espiritual.

            Na terceira seção veremos a influência do capitalismo[3] na Igreja, sobretudo, na teologia da prosperidade[4], onde o sucesso financeiro é sinônimo das “bênçãos de Deus”, com a transformação do conceito de vocação pastoral para um gestor empresarial. Essa lógica estabelece a religião como mercadoria e a inversão total da mensagem bíblica, já, que, as pregações tem sido não a Palavra de Deus (As Escrituras), mas, sim, do dinheiro. Porém, vamos concluir o artigo refutando a clássica frase, a saber, de que “a religião é o ópio do povo”. Ainda que vejamos uma cegueira espiritual sendo estabelecida pela teologia da prosperidade, como um processo histórico a práxis da Igreja não está definida, mas, em aberto por meio de um agir consciente da Comunidade de Jesus Cristo.

 

Igreja

Na primeira seção temos como proposta a priori apresentar os conceitos de alguns termos, como, práxis[5], pedra e igreja, para que a posteriori possamos discorrer sobre a práxis espiritual da Igreja em nosso tempo histórico[6]. Segundo, José D’Assunção Barros no tocante a práxis:

Em Marx esse conceito partilha pelo menos três diferentes significados, a saber, a práxis como ação revolucionária (“mudar o mundo, além de interpretá-lo”); a práxis como caráter ativo e consciente que se estabelece sobre o perceber, o pensar e o fazer humanos (uma relação com a realidade que se coloca com atividade prática sensível) e a práxis que permitiu a espécie humana mudar o mundo e si mesmo por meio do trabalho. (BARROS, 2011, p.131).

Com base na perspectiva da práxis apresentada entendemos que nossa atuação na sociedade enquanto Igreja precisa promover uma ação reflexiva-crítica e consciente de nossa práxis espiritual e não meramente reproduzir o modelo vigente atual em nossa esfera. Dessa forma, temos visto o modelo Igreja-Empresa-Instituição promovendo a ótica da lógica da sociedade. Assim, para debatermos aquilo que a Igreja deveria ser daquilo que tem sido é fundamental avaliarmos o seu conceito.

No Evangelho de Mateus[7] 16.18, Jesus Cristo, declara: Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja[8], e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Antes de discorrermos sobre a origem do termo Igreja, vamos apresentar, a saber, três interpretações que refletem sobre a pedra, e, nesse sentido, torna-se fundamental a correta interpretação, pois, a Igreja está alicerçada sobre este fundamento.

De acordo com Hernandes Dias Lopes[9], existem três interpretações no tocante ao significado da pedra fundamental sobre a qual a Igreja está edificada. “Primeiro, há aqueles que acham que Pedro é a pedra. Segundo, outros dizem que a pedra é a declaração de Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Terceiro, a pedra é o próprio Cristo” (LOPES, 2018, p.39). Para o autor a interpretação de que Pedro seja a pedra é falsa e usurpa o lugar de Deus Pai, o lugar de Deus filho e do Deus Espírito Santo.

Dialogamos com a interpretação de Lopes que declara “que a pedra se refere ao próprio Jesus Cristo e não a Pedro[10]”, fundamentado pelas Escrituras (Antigo Testamento e Novo Testamento), por um estudo etimológico, pelas contradições e fragilidades de Pedro, pelas decisões que eram tomadas em conjunto na comunidade primitiva e por fim pelo fato do mesmo nunca ter reivindicado tal posição. Assim, defendemos a interpretação de que Jesus Cristo é a Pedra e, portanto, o fundamento da Igreja.

Além disso, o texto de Apocalipse 19.10, nos diz, “... o testemunho de Jesus é o espírito da profecia[11]” e, o Evangelho de João 5.39, nos fala, “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim”. E para completar nossa perspectiva e com base em Lopes, o autor afirma: tudo o que se refere à pedra (Pétra) no Antigo Testamento[12] nunca é usado em referência a nenhum ser humano, mas só em referência a Deus[13] e/ou Jesus Cristo.

Desse modo, dentro da temática, da pedra, quando, Jesus disse “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” é imprescindível entender o significado na língua cujo texto foi escrito. Conforme Hernandes Dias Lopes[14], a palavra Pedro (Pétros em grego) significa fragmento de pedra, enquanto, que pedra (Pétra em grego) significa rocha. Assim, Jesus, estava dizendo que Ele mesmo é a pedra e/ou rocha[15] por qual sua Igreja será edificada. Além disso, o autor lembra-nos outra passagem onde Jesus também se referiu a ele na terceira pessoa, a saber, no Evangelho de Jo 2.19-20.

Por fim, os próprios autores do Novo Testamento, referem-se a Jesus Cristo, como sendo, a Pedra Angular. Como podemos observar nos seguintes textos: At 4.11 / 1Co 3.11 / 10.4; 1Pe 2.1-8, que declaram ser Jesus Cristo o fundamento e a pedra angular. Dessa forma, fica claro que a Igreja é fundamentada por Jesus Cristo, que, conforme 1Tm 2.5 “...é o único mediador entre Deus e os homens”. Por isso, segundo o Evangelho de Jo.14.6, Jesus, declara: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” Agora podemos partir para o conceito do termo Igreja.

No que se refere ao termo Igreja é necessário salientar a sua origem em uma palavra grega (Ekklesia). A maioria dos dicionários[16] normalmente apresenta o conceito de Ekklesia como uma assembleia e/ou congregação de cristãos em comunhão com um objetivo religioso. Além disso, é importante ressaltar que no contexto histórico tratava-se de uma convocação para assuntos sociopolíticos. No entanto, a perspectiva de Ekklesia para os cristãos torna-se de fato em uma reunião cúltica.

Contudo, o dicionário de James Strong apresenta uma proposta de definição “de um chamado para fora de um ponto a partir do qual um movimento ou ação se origina[17]”. Entendemos que essa perspectiva de definição soma no tocante à missão de envio da Igreja, pois a comunidade não se limitará apenas numa ação interna, mas se envolverá no anúncio da mensagem salvífica de Deus para o mundo. Podemos dizer que o cumprimento da missão trata-se de uma tarefa de todos(a) que foram reconciliados com Deus mediante a fé em Jesus Cristo, isto é, prestarem o serviço de testemunhas da ação de Deus no mundo, uma vez que todos(a) foram enviados conforme Jo 20.21 e 1P 2.1-10.

A Igreja Metodista do Brasil[18], por exemplo, afirma que sua missão[19] é participar da ação de Deus no Seu propósito de salvar[20] o mundo. Cremos à luz do Evangelho de Mateus 28.18-20; que a atuação da Igreja se realiza tanto na esfera local, ou seja, fazendo a missão que se refere a fazer discípulos, ensinar e batizar[21] na comunidade local. Pois o ide ou indo precisa ser entendido como algo que acontece nesse espaço, já que a comunhão envolve um relacionamento, o ensino envolve um encontro e os sacramentos um espaço cúltico, quanto no sentido de ir a outro lugar por meio do envio da Igreja. Aqui, citamos, como exemplo, a Igreja de Antioquia, que por meio da ação do Espírito Santo envia o apóstolo Paulo e Barnabé para a missão, onde os mesmos pregam a mensagem de salvação e a posteriori estabelecem comunidades locais para aqueles(a) que creram. Não eliminamos a existência da Igreja com certa organização e nem acreditamos numa Igreja que não se reúna em volta da mesa e que cultive os dons do Espírito Santo juntos. Entretanto, como será exposto em breve, questionamos uma lógica voltada para o mercado tendo como influência o atual modelo econômico vigente, ou seja, o capitalismo.

A Igreja de Jesus Cristo transcende a lógica humana e seus aparatos, pois foi estabelecida por Deus em seu propósito. Para Walter Klaiber e Manfred Marquardt:

A origem da Igreja cristã, isto é, seu começo e base permanente, não está, portanto, nas decisões de homens, mas na ação de Deus para a salvação do mundo, fato que se deu em Cristo, uma vez e para sempre. A comunhão de homens (mulheres[22]) que pertence a Deus, não consiste mais, unicamente, nas doze tribos de Israel. Um novo povo, originário de todo o mundo, foi acrescentado ao povo de DEUS, como os profetas predisseram e os testemunhos neo-testamentários a viram seguir. O Cristo exaltado aos céus uniu numa nova comunhão, de caráter especial, homens (mulheres) de diferentes culturas, raças e nações. (KLAIBER; MARQUARDT, 2006, p. 347).

Por esta razão, a Igreja, ou seja, a assembleia daqueles (as) que creram na mensagem salvífica, é descrita pelo apóstolo Paulo em 1Co 12.12-31 como um corpo onde todos foram introduzidos por Deus, sendo Jesus Cristo a cabeça desse corpo (Ef 4.15). Além disso, a Igreja é narrada como a Igreja de Deus independentemente de denominações, mas que se constata pelo fato de todos(as) estarem sendo santificados em Cristo Jesus, a Pedra Angular, selados pelo Espírito Santo e iluminados pela Palavra em Koinonia (comunhão).

O conceito de Lutero sobre Igreja pode ser sintetizado em sua frase que apresenta seu pensamento eclesiológico: “Graças a Deus, uma criança de sete anos sabe o que é a igreja, a saber, os santos crentes e os cordeirinhos que ouvem a voz do pastor” (Citação retirada no livro de Altmann, 2016, p 148). Para, Walter Altmann, Lutero, exclui elementos institucionais, salvo aqueles simples dados pela existência da congregação dos crentes, isto é, pelo fato de se reunir.

Podemos observar que dois pontos são essenciais na concepção de Lutero: a presença da Palavra e a comunhão, ou melhor, a assembleia que se reune em volta do bom pastor, Jesus Cristo, pois no Novo Testamento a Igreja só ganha vida por meio do Evangelho. Como foi dito, Lutero tinha certa aversão institucional, porém, o mesmo sabia que era impossível eliminar totalmente questões administrativas.

Por isso, entendemos a necessidade de avaliarmos a grosso modo como tem sido a atuação da Igreja[23] em nosso tempo histórico, devido à institucionalização[24] que inevitavelmente existe. Será que temos exercido uma práxis espiritual evangélica na sociedade? Ou simplesmente temos reproduzido os valores do mundo capitalista? Dessa forma, a seguir estaremos discorrendo sobre a relação dialética entre a infraestrutura[25] e a superestrutura[26], pois nessa relação a Igreja não está isenta em sua atuação, ou seja, ela pode contribuir ou não para a manutenção do status quo.

 

Capitalismo

Diante da problemática apresentada, isto é, a relação da Igreja na atual sociedade cabe-nos agora examinar, sobretudo, o modelo econômico vigente e, posteriormente, aprofundaremos nossa análise de como tem sido sua influência na Igreja. Teremos como arcabouço teórico o materialismo histórico[27] dialético[28] para refletirmos sobre o capitalismo e a crítica à religião, ou melhor, sua práxis espiritual. Segundo o professor José D’Assunção Barros:

O Materialismo Histórico começou a se organizar em torno da possibilidade de construir uma História que contribuísse para impulsionar o desenvolvimento humano como um todo, contra o pano de fundo dos interesses das elites e dos poderes dominantes. No limite, este paradigma acena com a possibilidade de que a História seja posta a serviço dos movimentos sociais, das classes socialmente revolucionárias, dos oprimidos pela própria história, da desalienação do ser humano em múltiplos sentidos, dando-lhe a perceber as forças invisíveis que o estariam aprisionando e determinando, em última instância, seu próprio destino. Por isso, podemos dizer que o Materialismo Histórico é um paradigma particularmente revolucionário, sentido mais tradicional dessa expressão. (BARROS, 2011, p.11).

Acreditamos que o materialismo histórico é um pressuposto teórico, ou seja, um campo de hipóteses, na tentativa de interpretar as relações sociais ao longo da história, e, para os seus adeptos, marxistas[29] ortodoxos, tal pressuposto transforma-se assim num paradigma, que passam a interpretar a história por um viés puramente determinista, impedindo-os de dialogar com outras correntes[30] que por si mesmas também não possuem uma verdade absoluta.

Contudo, na busca por um aperfeiçoamento na tentativa de uma melhora na interpretação dos fatos sociais que envolvem nossa temática, dialogaremos com tal corrente, pois a mesma como uma teoria da história nos fornece conceitos que entendemos serem fundamentais para nossa análise. Ainda sobre o materialismo histórico, conforme, Barros[31], no núcleo mínimo da corrente existem três fundamentos (Dialética, Materialismo e Historicidade) e três conceitos incontornáveis “práxis, luta de classes e modo de produção”. No momento, tendo em vista nossa proposta de análise, reflete-se um pouco sobre o modo de produção capitalista e na terceira seção nos concentraremos no conceito de práxis.

A famosa citação de Karl Marx no manifesto comunista de 1848 declara que a história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes e o mesmo prossegue dizendo:

Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de uma corporação e o aprendiz, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em oposição, travaram uma luta ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou sempre com uma transformação revolucionária". (MARX, 2005, p. 40)

Podemos observar nesta célebre frase a perspectiva do desenvolvimento histórico por meio de uma relação de luta entre as classes onde novas classes se desenvolvem introduzindo novas relações econômicas e sociais. Assim, Marx, declara que a “moderna sociedade burguesa[32], que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez mais do que colocar novas classes, novas condições de opressão, novos aspectos da luta no lugar das que estiveram no passado”.

Diante disso, para Marx, o Estado[33] é a forma na qual os indivíduos de uma classe dominante fazem valer seus interesses. Sua definição exposta no manifesto comunista é que “o poder político do Estado Moderno não é mais do que um comitê para gerir os negócios de toda a burguesia” (MARX, 2005, p.40). Dessa forma a atual classe dominante, ou seja, a burguesia controla o poder econômico e político.

O modelo econômico capitalista é o atual modo de produção, que, segundo os fundadores do materialismo histórico, a saber, Karl Marx e Friedrich Engels, representa “o modo de vida”. (BARROS, 2011, p. 49). O conceito de modo de produção envolve uma análise mais complexa, isto é, a relação dialética entre as forças de produção e as relações de produção, e, além disso, é um conceito que traz vertentes de autores diferentes dentro do materialismo histórico em seu significado.

No dicionário do pensamento marxista temos a definição de Capitalismo “como modo de produção em que o capital[34], sob suas diferentes formas, é o principal meio de produção” e ainda acrescenta “qualquer que seja sua forma, é a propriedade privada do capital nas mãos de uma classe, a classe dos capitalistas, com a exclusão do restante da população, que constitui a característica básica do capitalismo como modo de produção[35]”.

Já o dicionário de política de Norberto Bobbio nos apresenta o problema da definição conceitual:

“Na cultura corrente, ao termo Capitalismo se atribuem conotações e conteúdos frequentemente muito diferentes, reconduzíveis, todavia a duas grandes acepções. Uma primeira acepção restrita de Capitalismo designa uma forma particular, historicamente específica, de agir econômico, ou um modo de produção em sentido estrito ou subsistema econômico. Uma segunda acepção de Capitalismo, ao invés, atinge a sociedade no seu todo como formação social, historicamente qualificada, de forma determinante, pelo seu modo de produção. Capitalismo, nesta acepção, designa, portanto, uma relação social geral”. (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 2004, p 141).

Grosso modo usa-se o termo capitalismo referindo-se ao atual modelo econômico com sua relação social, que tem a burguesia como dona dos meios de produção e por outro lado os proletários que vendem a força de trabalho em troca de salário. Assim, no modelo econômico capitalista queremos destacar o conceito de mercadoria, pois entendemos que o mesmo é fundamental para nossa análise da práxis espiritual.

Para Marx no tocante a mercadoria[36], “a riqueza das sociedades onde reina o modo de produção capitalista aparece como uma enorme coleção de mercadorias, e a mercadoria individual como sua forma elementar[37]”. E o autor declara:

A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa que, por meio de suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de um tipo qualquer. A natureza dessas mercadorias – se, por exemplo, elas provêm do estômago ou da imaginação – não altera em nada a questão. Tampouco se trata aqui de como a coisa satisfaz a necessidade humana, se diretamente, como meio de subsistência, isto é, como objeto de fruição, ou indiretamente, como meio de produção. (MARX, 2013, p 113).

Diante dessa breve definição de mercadoria que visa à satisfação das necessidades humanas não importando sua origem, na próxima seção vamos apresentar um modelo de práxis espiritual defendida por uma linha teológica que entendemos que busca transformar a religião em mera mercadoria.

Assim, como se vê recentemente para os fundadores do materialismo histórico, Karl Marx e Friedrich Engels, que partem do pressuposto da luta de classes[38] para a leitura da história e também como motor da mesma, e fundamentam-se as suas doutrinas na primazia[39] da infraestrutura sobre a superestrutura, ou seja, para a superação do status quo e/ou do modelo econômico capitalista tem-se também como uma arena de luta o campo das ideias, isto é, aparelhos ideológicos[40] que podem contribuir para a manutenção ou superação das relações sociais da ordem vigente ou histórica.

Sendo, assim, é compreensível a crítica a priori de Marx no tocante a religião[41], quando disse “a religião é o ópio do povo[42]”. Para Marx e Engels a religião interage com a sociedade, pois faz parte da superestrutura. Entretanto, sua influência não gera a força motora da história, mas ela pode contribuir ideologicamente. Contudo discorda-se de Karl Marx, pois entendemos que a religião e/ou igreja não é o ópio do povo. Conforme, Pedrinho Guareschi, “a religião torna-se o ópio do povo. Ou seja, ela não é, mas torna-se quando é usada de uma forma acrítica, domesticadora e alienadora[43]”.

Dessa forma, a seguir, analisa-se sobre a práxis espiritual de uma corrente teológica no meio evangélico. Apresentaremos o que se transformou a vocação pastoral e as pregações por meio desse viés. Além disso, dialogaremos com os conceitos de Antônio Gramsci no tocante a práxis.

 

 

Teologia da prosperidade

Para a análise de como tem sido a práxis[44] espiritual da Igreja[45] na sociedade capitalista faremos uso do conceito de Karl Marx, que, segundo o dicionário do pensamento marxista:

A expressão práxis refere-se, em geral, a ação, a atividade, e, no sentido que lhe atribui Marx, à atividade livre, universal, criativa e auto - criativa, por meio da qual o homem cria (faz, produz), e transforma (conforma) seu mundo humano e histórico e a si mesmo; atividade específica ao homem, que o torna basicamente diferente de todos os outros seres. (BOTTOMORE, 2001, p 292).

Assim, o conceito de práxis envolve uma dimensão histórica que permitirá o desenvolvimento do ser humano e do mundo por ele habitado. Para José D’Assunção Barros[46] o conceito em Marx: “tem três diferentes significados, a saber, tem-se a práxis como ação revolucionária, a práxis como caráter ativo e consciente que se estabelece sobre o perceber, o pensar e o fazer humano e por fim tem-se a práxis que permitiu ao homem mudar a si mesmo por meio do trabalho”.

Dialogamos com a segunda perspectiva apresentada por Barros sobre o conceito da práxis em Marx, que interage a teoria e ação, isto é, a práxis, pois envolve uma ação reflexiva e consciente no fazer. Permitindo, assim, ao ser humano desenvolver sua atividade sem alienação, portanto, difere-se da pura prática, isto é, o labor sem consciência. Para Marx “a práxis é o agir consciente que integra a teoria (pensar) e a prática (fazer) ou como resultado dialético do confronto entre as duas instâncias[47]”.

Para Antônio Gramsci que precisou alterar o termo de materialismo histórico para filosofia da práxis, devido sua prisão durante o regime fascista de Benito Mussolini, e assim continuar escrevendo suas cartas, vai desenvolver o conceito de práxis, segundo, Barros: “como o fazer-se da própria História, o que se dá a partir da interferência do gênero humano nas condições ambientais (ambiente natural e ambiente social)”. (BARROS, 2011, p 142).

Nesse sentido percebemos o papel importante que Gramsci estabelece aos intelectuais orgânicos, que, para Giovanni Semeraro:

 “São os intelectuais que fazem parte do organismo vivo e em expansão. Por isso, estão ao mesmo tempo conectados com o mundo do trabalho, com as organizações políticas e culturais mais avançadas que o seu grupo social desenvolve para dirigir a sociedade. E Gramsci define que são orgânicos os intelectuais, que além de especialistas na sua profissão que os vincula profundamente ao modo de produção de seu tempo, elaboram uma concepção ético-política que os habilita a exercer funções culturais, educativas e organizativas para assegurar a hegemonia social e o domínio estatal da classe que representam”(SEMERARO, 2004, p 134 e 135).

Dito isto, refletiremos a relação entre a proposta da teologia da prosperidade[48] que brota a partir do modo de produção capitalista e sua prática espiritual na sociedade, que acreditamos existir um distanciamento da práxis, isto é, o agir com consciência, principalmente em relação aqueles(a) que “consomem” os “bens espirituais oferecidos”.

Diante do uso equivocado do termo bíblico em relação à prosperidade precisamos, antes, apresentar o conceito conforme está nas Escrituras Sagradas, e segundo Tércio Machado Siqueira:

Na Bíblia Hebraica, o verbo prosperar é salah, que carrega o significado de sair-se bem e ter êxito. Na Bíblia, encontramos dois verbos que são sinônimos de salar: o primeiro é Kasar, dar certo, ser correto (Ec 11.6; Et 8.5), e outro é sakal, ser sábio, agir sabiamente (Dt 29.8; 1Sm 18.30). Todos esses três verbos possuem o sentido de prosperar. Entretanto, o significado bíblico de prosperar possui um sentido muito característico. Assim, ser próspero é o mesmo que dar frutos (Ez 17.1-10); é ser forte, corajoso, não temer e andar nos caminhos de Deus (Js 1.1-9); é praticar misericórdia e ser leal a Deus e ao povo (Ne 1.11); é andar com sabedoria e discernir as instruções de Deus (Dt 29.9; 1Rs 2.3); é promover a paz no mundo (Sl 122. 6-7); é promover o bem e agir corretamente (Jó 21.13; Sl 106.5). Esses exemplos reforçam a ideia segundo a qual prosperar não é necessariamente obter vantagens pessoais ou acumular riquezas (Jr 12.1-6). A Bíblia ensina que o maior valor da vida é promover o xalom, paz, na terra e no mundo, isto é, trabalhar para que a vida abundante e feliz, ou seja, a prosperidade possa acontecer plenamente entre as pessoas. (SIQUEIRA, 2005, p 143).

Todavia temos visto um foco totalmente diferente. O significado de prosperidade tornou-se sinônimo de sucesso econômico e/ou financeiro, sendo o reflexo da “bênção de Deus” como casas, carros, apartamentos e o sucesso profissional por meio de uma troca com Deus através dos sacrifícios, isto é, o dinheiro. Assim, o objetivo não é conhecer e relacionar-se com Deus através de sua graça e misericórdia, mas conquistar o sucesso na vida material.

 Dessa forma, o momento cúltico, que deveria ser um espaço de adoração a Deus e edificação da fé pelas Escrituras Sagradas, tem sido um ambiente que exalta a prosperidade não no sentido Bíblico apresentado, a saber, que trata-se da relação direta da aplicação das verdades do Evangelho ao longo da vida cotidiana, na postura ética nas relações intrapessoais e interpessoais, nas decisões de cada dia, nas ações que provam a  defesa da vida, da justiça  e da paz nas esperas espirituais, matérias e emocionais.

Entende-se ser necessário relatarmos quando iniciou tal concepção voltada para a lógica do sucesso financeiro, pois a mesma influenciará na prática cristã. Segundo, Magali do Nascimento Cunha:

 A doutrina neoliberal[49] procura responder às aspirações/desejos que emergem na sociedade oferecendo o mercado de consumo como fonte da satisfação dessas aspirações/desejos e autora prossegue dizendo que a partir de 1990 a ideologia neoliberal influenciou o jeito de ser das igrejas evangélicas, à medida que os ideais de eficiência e resultados quantitativos e da prosperidade (aquisição de bens) como benção divina, passaram a ser trabalhados por suas lideranças e disseminados pela mídia evangélica. (Artigo. Revista Caminhando. CUNHA, 2002, p 17 e 18).

Assim, observa-se a influência da infraestrutura, isto é, o modo de produção econômico capitalista sobre a superestrutura[50](Igreja), que, neste caso, promove uma relação dialética onde não existe crítica da teologia da prosperidade em relação ao modelo econômico e suas contradições ou mesmo uma proposta para diminuir a desigualdade social na sociedade, mas sim uma promessa de sucesso no atual modelo econômico e assim contribuem para a permanência do status quo.

 No momento, apresenta-se dois pontos que entendemos serem essenciais para a propagação da teologia da prosperidade, a saber: a vocação pastoral e a pregação. No tocante à vocação, Tércio Machado Siqueira[51] apresenta, a partir de Moisés e dentre os vários pontos analisados pelo autor, queremos destacar, sobretudo, o que se refere à legitimação do chamado. Assim, o autor declara: “que tanto no livro de Êxodo quanto em toda a Bíblia, o chamado sempre é legitimado por Javé e envolve um envio”. Segundo o mesmo:

A Igreja não pode permitir que alguém assume o lugar de Javé na tarefa de separar e eleger pessoas como seus vocacionados. Essa tarefa pertence, pelo testemunho bíblico, somente a Javé, pois somente Ele vê intensamente, com conhecimento perspicaz. Obediente ao chamado divino, a Igreja pode ajudar no preparo dos vocacionados (a)[52], através de um ver intensamente os dons e o caráter daqueles e daquelas que se propõem a ser profetas e profetisas de nosso tempo. (SIQUEIRA, 2005, 94).

Deus é o único responsável por convocar, certificar e conceder os meios para o cumprimento do serviço que será anunciar a ação salvífica de Deus por meio de sua Palavra. No Antigo Testamento o foco era a ação de Deus em favor do seu povo diante de alguma calamidade social, pelo fato do mesmo ter abandonado a instrução do Senhor. Já no Novo Testamento, além da ação de Deus diante de alguma dificuldade, a mensagem tem seu foco principal no tocante à salvação eterna que, para isso, são necessários o arrependimento e a conversão mediante a fé em Jesus Cristo, a Pedra Angular.

Porém, tem-se visto o reflexo do modelo de sociedade capitalista com sua influência, ou seja, a busca por poder, status e dinheiro sobre a Igreja, onde, por um lado o poder religioso-institucional tem exercido a primazia no chamado estabelecendo requisitos, e, além disso, promovendo uma cultura de medo com possíveis represálias para aqueles e aquelas que não se encaixam na filosofia da liderança eclesiástica. Por outro lado, a Igreja contribui para a lógica do pastor – empreendedor[53] (contribui para que a organização seja lucrativa). Dessa forma a vocação espiritual do pastor(a) tem caminhado para a lógica de uma espiritualidade de consumo. Relacionando a vocação pastoral com a religião de consumo na realidade norte-americana, Eugene Peterson, diz:

A religião americana é basicamente uma religião de consumo. Os norte-americanos vêem Deus como um produto que irá ajudá-los a viver bem, ou melhor. Movidos por essa visão, eles fazem o que consumidores em geral fazem: procuram a melhor oferta. Pastores, que mal vêem o que estamos fazendo, começam a fazer acordos, “marketizando” a linha de produto de Deus a fim de atrair as pessoas e depois criar maneiras de superar os que competem pelo mercado. A religião nunca esteve tão envolvida com relações públicas, com a imagem diante do público, vendas, técnicas de propaganda e marketing e espírito competitivo. Pastores que crescem nessa atmosfera não vêem nada de errado nessas práticas. (PETERSON, 2006, p 43).

Podemos perceber que de um modo geral e principalmente pela linha teológica que enfatiza a prosperidade, infelizmente não estamos fora deste relato e assim as pregações têm um papel vital para a reprodução de uma religião de consumo que tem transformado os bens espirituais em mercadoria com o objetivo de satisfazer as necessidades das pessoas, que alienadas, consomem tal produto.

Entende-se também que tal teologia promove um trânsito religioso constante. O cliente representado pelo fiel que está em busca de satisfação pessoal, não tem dificuldade de trocar de denominação, visto o que importa para ele é encontrar a mercadoria que o satisfaça. Assim, o vínculo relacional com a comunidade de fé e com Deus permanece na esfera meramente comercial.

Tal prática diverge da essência do pastorado, pois o mesmo deve ser exercido como uma busca espiritual e não como um negócio. Eugene Peterson, afirma: “o pastorado não é dirigir um negócio religioso, mas uma busca espiritual”.

Em relação ao conceito de pregação, Stuart Olyoott apresenta-nos quatro palavras, a saber, mensagem, evangelização, testemunho e ensino, que nos ajudam a compreender o seu significado:

1- (Kerusso). É proclamar a mensagem oficial de Deus, isto nos fala sobre a fonte da mensagem e a autoridade que a acompanha. 2- (euangelizo). É anunciar boas – novas isto nos fala sobre a qualidade da mensagem e o espírito com que ela é apresentada. 3- (martureo). É dar testemunho dos fatos, isto nos fala sobre a natureza da mensagem e a base na qual ela está construída. 4- (didasko). É um esclarecimento das implicações da mensagem, isto nos fala sobre o alvo da mensagem (a consciência do ouvinte) e a medida do sucesso (ela muda a vida de alguém?). (OLYOOTT, 2008, p 19).

Para Olyoott, a mensagem a ser pregada[54] precisa declarar apenas a mensagem oficial, ou seja; As Escrituras Sagradas (A.T e N.T). Isto significa em primeiro lugar fidelidade ao conteúdo, e em segundo lugar as ferramentas para uma boa interpretação[55]. E por fim, o autor declara que a mensagem precisa ser cristocêntrica, o que não vemos na teologia da prosperidade, cuja mensagem central é o sucesso do ser humano em várias áreas de sua vida, sobretudo, a financeira.

Ainda sobre o conteúdo da pregação, Hernandes Dias Lopes, declara:

Não devemos pregar sobre a Bíblia, mas pregar a Bíblia. O mandamento apostólico é: “prega a palavra” (2 Tm 4.2). Devemos proclamar Sola Scriptura e Tota Scriptura. A Escritura é a fonte do sermão. A mensagem deve ser extraída do texto bíblico, sem impor ideias humanas ao texto. Devemos abordá-lo exegeticamente, não “eisegeticamente”, como afirma John Stott: “O oposto da exposição é a ‘imposição’, que significa impor ao texto o que ele não contém” (LOPES, 2010, p 81).

Porém, tendo em vista às pregações no modelo econômico capitalista via a proposta da teologia da prosperidade, percebe-se um distanciamento no tocante ao conceito apresentado acima, pois as pregações têm sido instrumento de reprodução da lógica do mercado na relação com Deus, que gira em torno dos bens materiais. Nessa teologia é nítido o desprezo pela liturgia[56], pois o objetivo não é a conscientização da reconciliação do ser humano com Deus.

Conforme Messias Valverde na tradição das Igrejas da Reforma Protestante no tocante ao papel da pregação e seu reflexo:

Tem um lugar de destaque na liturgia, especialmente por causa do papel da fé na relação salvífica entre as pessoas e Deus. Na certeza de que a fé que justifica também é dom de Deus, e vem pela pregação, os reformadores cuidaram de referir-se a ela como algo que, ao mesmo tempo, é um ato de fé e produz fé nos ouvintes. (VALVERDE, 2006, p 163).

A Igreja Metodista “do Brasil”, no que se refere à liturgia, tem como base o texto de Isaías 6.1-8 (Adoração, Confissão, Louvor, Edificação e Dedicação[57]). Nesse modelo observamos o cuidado e o ensinamento no crescimento espiritual, por meio do momento cúltico que envolve a oração, confissão, ação de graças, instrução bíblica e consagração. Portanto, o objetivo segundo Lucas 24.25-27; Atos 2.14-36; 8.34-37 e Romanos 1.16; 10.17 é apresentar pelas Escrituras mediante a fé que Jesus de Nazaré, é o Cristo e o Senhor, isto é, o cumprimento da profecia. Por outro lado, a proposta da teologia da prosperidade tem transformado o ambiente cúltico em um ambiente de entretenimento, com jogos de luzes, fumaças, ênfase no ministério de louvor e mensagens de autoajuda.

Dessa forma, para Luiz Carlos Ramos sobre a influência da mercadoria na religião e seu reflexo na homilética[58], principalmente por meio da mídia[59], afirma:

Pode-se traçar um paralelo com a ideia do evangelho como mercadoria que representa o avesso do seu real valor. Se o princípio evangélico maior é a graça, o da mercadoria é o preço. Daí que já não vigora mais o princípio de que se deve buscar primeiro o reino sem se preocupar com as demais coisas, pois essas seriam acrescentadas naturalmente, conforme registro evangélico da pregação de Jesus no Sermão do Monte (Mt 6), o que se importa é buscar primeiro as demais coisas. Quanto ao reino, este será acrescentando com brinde. (RAMOS, 2016, p 167).

O autor ainda declara que a ideologia da religião-mercadoria é sustentada e promovida por uma homilética segundo os princípios e valores da sociedade do espetáculo num mercado globalizado. Ou seja, os dois pontos que apresentamos, a saber, a vocação pastoral e a pregação na sociedade atual têm de fato sido essenciais para a divulgação dessa concepção teológica.

Mesmo diante desse cenário atual entendemos que não pode haver um determinismo vulgar e mecânico em relação à práxis definitiva da Igreja na história, como foi defendido pelos fundadores do materialismo histórico, a saber, “que a religião é o ópio do povo” já, que isso, envolve também um processo de conscientização ao longo da história e da atuação dos intelectuais orgânicos cristãos.

Por fim, acreditamos que o exercício da vocação pastoral e a pregação são os pilares que irão fazer com que esse pensamento de que a religião é ópio do povo seja citado apenas como algo do passado. Na medida que os pastores e pastoras se comprometerem com o genuíno Evangelho de Cristo, consequentemente suas pregações terão como ênfase a mensagem bíblica, o testemunho cristão, a evangelização e o ensino que proporcionará a conscientização do real sentido da Igreja e assim entende-se que teremos uma práxis pastoral cristã.

 

Considerações finais       

Ao longo do artigo apresentamos a relação dialética entre a infraestrutura, isto é, a base econômica da sociedade com a superestrutura, sobretudo, a Igreja. Com o objetivo de refletir-se a práxis espiritual cristã na era do capital. Dentre várias linhas teológicas discorremos sobre a teologia da prosperidade, pois, a mesma, tem demostrado certo alinhamento com o capitalismo e dessa forma tem praticado uma religião como mercadoria por meio de sacrifícios que envolve uma troca com Deus através do dinheiro para receber suas bênçãos.

Na primeira seção demostramos que o significado de Ekklesia é uma reunião cúltica daqueles e daquelas que creem em Jesus Cristo, a Pedra Angular. Nesse espaço, em comunhão, a voz do bom pastor é central para o desenvolvimento e crescimento espiritual da comunidade.  No entanto, grosso modo, a Igreja ao longo da história tem sido moldada pela institucionalização e consequentemente a sua práxis tem apenas reproduzido o modelo de sociedade em cada período histórico. Contudo, não ousaríamos em afirmar que na história não houve momentos em que a Igreja agiu com lucidez, ou melhor, exerceu um agir consciente.

Nossa reflexão na segunda seção no tocante ao agir da Igreja pautou-se neste período histórico dentro do modelo econômico capitalista. Dessa forma, analisamos o modo de produção econômico pela perspectiva do materialismo histórico. Vimos que nesse modelo econômico a mercadoria tem como função a satisfação das necessidades humanas e entendemos que a teologia da prosperidade tem feito uso desse conceito transformando em produtos as necessidades espirituais. Assim, como um dos aparelhos ideológicos da superestrutura, a Igreja tem contribuído para a alienação espiritual reproduzindo a lógica do mercado no relacionamento com Deus.

Por fim, na terceira seção pontuamos o uso distorcido bíblico do termo prosperidade, que, nessa linha teológica representa o sucesso na vida material por meio de bens. Para a propagação dessa visão uma mudança foi feita no ambiente cúltico, ou seja, a centralidade da mensagem, isto é, ouvir a voz do bom pastor pelas Escrituras (A.T e N.T) passou a ter como ênfase Mâmon (dinheiro - riquezas), o púlpito transformou-se num palco que oferece entretenimento por meio dos shows dos grupos de louvores e mensagens de autoajuda, sobretudo o sucesso financeiro, e, a vocação pastoral um instrumento de dominação, pois as Igrejas tem assumido o papel que cabe a Deus exigindo requisitos institucionais para aprovação ou reprovação do chamado pastoral no lugar de apenas fornecer meios para a formação desse serviço e assim muitos pastores (a) submetem-se ao modelo Igreja-Instituição-Empresa.

A práxis espiritual cristã não está definida na história, por isso discordamos da famosa frase “que a religião é o ópio do povo” e refutamos a concepção da teologia da prosperidade, pois, como visto no artigo, não exercem uma práxis bíblica promovendo uma relação espiritual mediante a graça e misericórdia de Deus, mas uma promessa de sucesso pelo empenho dos seres humanos através do sacrifício em dinheiro.  Sabemos que a Igreja de Jesus Cristo não se limita a denominações, mas as comunidades ao redor do mundo identificadas pelo alicerce, pela Palavra e pelo Espírito Santo. Desse modo, temos certeza de que a emancipação pelo Evangelho promoverá o agir consciente naqueles (as) que estão alicerçados na Pedra Angular.

 

Referências bibliográficas

ALTMANN, Walter. Lutero e libertação: releitura de Lutero em perspectiva latino-americana: São Leopoldo: Sinodal, 2016.

BARROS, José D’Assunção. Teoria da História: Volume III. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

BÍBLIA, Bíblia de Estudo da Reforma. Almeida Revista e Atualizada. Barueri-São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.

BÍBLIA, Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego. Almeida Revista e Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil. Bangu, Rio de Janeiro: CPAD, 2015.

BÍBLIA, Bíblia de Estudo John Wesley. Nova Almeida e Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2020.

BOBBIO, Norberto; NILOCA, Matteucci; GIANFRANCO, Pasquino. Dicionário de política. Volume I, II. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004.

BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.

DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2006.

GARCIA, Maria Cristina. A religião segundo o marxismo e a teologia da libertação. São Paulo: Edicon, 2008.

GUARESCHI, Pedrinho. Sociologia crítica: alternativas de mudança. Porto Alegre: Mundo Jovem, 2003.

HAUBECK, Wilfrid; SIEBENTHAL, Heinrich Von. Nova Chave Linguística do Novo Testamento Grego: Mateus – Apocalipse. São Paulo: Hagnos, 2009.

IGREJA, Metodista. Cânones da Igreja Metodista. Piracicaba: Equilíbrio Editora, 2012.

KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça de Deus: Um Compêndio de Teologia Wesleyana. São Bernardo do Campo: Editeo, 2006.

LOPES, Hernandes Dias. Panorama da história cristã: a intervenção divina na história. São Paulo: Hagnos, 2018.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus: Jesus, o rei dos reis. São Paulo: Hagnos, 2019.

LOPES, Hernandes Dias. Pregação expositiva: sua importância para o crescimento da igreja. São Paulo: Hagnos, 2010.

LOUW, Johannes; NIDA, Eugene. Léxico Grego – Português do Novo Testamento baseado em domínios semânticos. Barueri, São Paulo. Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 2005.

MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. São Paulo: Boitempo, 2005.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política: Livro I: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.

OLYOTT, Stuart. Pregação pura e simples. São José dos Campos: Editora Fiel, 2012.

PETERSON, Eugene. A vocação espiritual do pastor: redescobrindo o chamado ministerial. São Paulo: Mundo Cristão, 2006.

RAMOS, Luiz Carlos. A pregação na idade da mídia: os desafios da sociedade do espetáculo para a prática homilética contemporânea. São Bernardo do Campo: Editeo, 2016.

RITUAL, Igreja Metodista. São Paulo: Editora Cedro, 2005.

RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 2003.

SEMERARO, Giovanni. Gramsci e os novos embates da filosofia da práxis. Aparecida, São Paulo: Ideias & Letras, 2006.

SIQUEIRA, Tércio Machado. Tirando o pó das palavras. São Paulo: Cedro, 2005.

SHOLZ, Vilson. Dicionário Grego-Português do Novo Testamento. Barueri, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2018.

VALVERDE, Messias. Liturgia e Pregação. São Paulo: Cedro, 2006.

Artigo

CUNHA, Magali do Nascimento. A influência da ideologia neoliberal na religiosidade evangélica. In: RAMOS, Luiz Carlos. Espaço aberto para a reflexão teológica. São Bernardo do Campo: Editeo, 2002.

SIQUEIRA, Tércio Machado. Discutindo a vocação a partir de Moisés. In:                              RENDERS, Helmut.  Vocação Pastora em debate. São Bernardo do Campo: Editeo, 2005.

 

Bibliografia sugerida

CARDOSO, Silas Klein. Para ler a Bíblia: introdução de boas práticas hermenêuticas. São Paulo: Três Um Três, 2006.

GONZÁLEZ, Justo L. História Ilustrada do Cristianismo V. I, II. São Paulo: Vida Nova, 2011.

HARVEY, David. Para entender O Capital I. São Paulo: Boitempo, 2013.

KLEI, Carlos Jeremias. Curso de história da Igreja, São Paulo: Fonte Editorial, 2007.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política: Livro I: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.

RENDERS, Helmut. Andar como Cristo andou: a salvação social em John Wesley. São Bernardo do Campo: Editeo, 2010.

 

“E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus”.

2Coríntios 3.4-5

 

Notas

  • * Bacharel em Teologia (UMESP) e Licenciado em História (UGB); Especialista (lato sensu) em Bíblia (Faculdades EST), em Ciência da Religião (UCAM) e em História do Brasil (UGB). Com Mestrado (livre) em Ministério (EETAD). Pastor da Igreja Metodista em Ano Bom - 1ªRE, RJ; e, professor de história na Seeduc-RJ. E-mail: [email protected]

  • [1] Martinho Lutero (1483-1546).  Tornou-se monge agostiniano e professor de teologia na Universidade de Wittenberg, considerado um dos principais líderes da Reforma Protestante no século XVI. Com base no texto de Romanos 1.17 (O justo viverá por fé) começou a questionar o comércio religioso, a saber, as vendas de indulgências, que prometiam o alivio dos pecados temporais quanto questões da vida eterna. Para Lutero o comércio promovido pela Igreja Católica era a fonte de financiamento da Basílica de São Pedro. Além da cegueira espiritual que contaminava o povo com tal prática sem nenhuma base bíblica. Assim, no dia 31 de outubro de 1517 pregou nas portas da Igreja de Wittenberg as 95 teses contra as práticas exercidas pela Igreja naquele contexto.

  • [2] Posteriormente será definido este conceito.

  • [3] Posteriormente esta categoria será explicitada.

  • [4] Posteriormente esta categoria será explicitada.

  • [5] Voltaremos a tratar sobre o conceito de práxis na terceira seção.

  • [6] Analisaremos ao longo do artigo o atual modelo econômico vigente, a saber, o capitalismo e sua influência na superestrutura, sobretudo, na Igreja.

  • [7] BÍBLIA, Bíblia de Estudo da Reforma. Almeida Revista e Atualizada. Barueri-São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.

  • [8] Em relação aos Evangelhos apenas Mateus traz esse termo e novamente o mesmo se repete no capítulo 18.17.

  • [9] LOPES, Hernandes Dias. Panorama da história cristã: a intervenção divina na história. São Paulo: Hagnos, 2018. P.38.

  • [10] LOPES, Hernandes Dias Lopes. Mateus: Jesus, o rei dos reis. São Paulo: Hagnos, 2019. P. 504, 505 e 514.

  • [11] As profecias dos profetas no Antigo Testamento narram sobre a vinda do Messias e do Salvador.

  • [12] Arriscaremos citar alguns textos bíblicos que acreditamos que sustentam nossa posição, a saber: Êx 17.6; 1Sm 2.2; 2 Sm 23.3; Sl 18.2 / 62.2 / 95.1 / 118.22; Zc 10.4 e Is 26.4/ 28.16.

  • [13] LOPES, Hernandes Dias Lopes. Mateus: Jesus, o rei dos reis. São Paulo: Hagnos, 2019. P. 504.

  • [14] LOPES, Hernandes Dias Lopes. Mateus: Jesus, o rei dos reis. São Paulo: Hagnos, 2019. P. 503.

  • [15] No final do sermão do monte no Evangelho de Mt 7. 24-27. Jesus Cristo apresenta os dois fundamentos onde deixa claro que a casa que será edificada é a que estiver sobre a rocha (Pétra) sendo necessário ouvi-lo e obedecer-lhe, porém, quem estiver sobre a areia, isto é, finíssimos grãos de rocha, será grande sua ruína.

  • [16] Neste momento nos referimos aos dicionários que tivemos acesso. DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2006. HAUBECK, Wilfrid; SIEBENTHAL, Heinrich Von. Nova Chave Linguística do Novo Testamento Grego: Mateus – Apocalipse. São Paulo: Hagnos, 2009. LOUW, Johannes; NIDA, Eugene. Léxico Grego – Português do Novo Testamento baseado em domínios semânticos. Barueri, São Paulo. Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.  RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 2003. SHOLZ, Vilson. Dicionário Grego-Português do Novo Testamento. Barueri, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2018.

  • [17] BÍBLIA, Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego. Almeida Revista e Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil. Bangu, Rio de Janeiro: CPAD, 2015.

  • [18] No momento decidimos permanecer com “do Brasil” devido a identificação que ainda é presente no senso comum. Contudo, o termo foi retirado no Concílio Geral de 1970/71, acentuando sua dimensão universal. Bíblia de Estudo John Wesley.

  • [19] Art 3º Parágrafo único. A Igreja Metodista cumpre a sua missão realizando o culto de Deus, pregando a Sua Palavra, ministrando os sacramentos, promovendo a fraternidade e a disciplina cristãs e proporcionando a seus membros meios para alcançarem uma experiência cristã progressiva, visando ao desempenho de seu testemunho e serviço no mundo.

  • [20] Em relação a soteriologia social de John Wesley estaremos indicando a leitura do livro de Helmut Renders na bibliografia sugerida.

  • [21] Para os protestantes os sacramentos são apenas o batismo e a ceia.

  • [22] A inclusão dessa palavra é de nossa responsabilidade.

  • [23] Foge aos limites deste artigo aprofundar na atuação da Igreja ao longo da história, concentraremos nossa análise em nosso tempo, contudo, indicaremos obras para leitura na bibliografia sugerida.

  • [24] O processo institucional começou na Igreja quando o imperador romano Teodósio oficializou o cristianismo como religião do Estado.

  • [25] A base econômica na sociedade, ou seja, o modo de produção que será tratado a seguir.

  • [26] O campo político, jurídico e ideológica na sociedade. Como por exemplo: temos os aparelhos repressivos, a saber, exército, policia, prisões e os aparelhos ideológicos, isto é, meios de comunicação, escola, partidos, sindicatos e igrejas.

  • [27] O método foi desenvolvido tanto por Engels quanto por Marx. No livro Do socialismo utópico ao socialismo científico Engels começou a desenvolver a concepção do método. Por ou lado, no prefácio à contribuição da economia política encontramos uma breve definição de Marx onde ele afirma “que a estrutura econômica da sociedade, constituída de suas relações de produção, é a verdadeira base da sociedade: é o alicerce sobre qual se ergue a superestrutura jurídica e política e ao qual correspondem forma definidas de consciência social”. Endente-se que o materialismo histórico enquanto método foi sendo desenvolvido em suas obras.  Juntos em A Ideologia Alemã continuaram a desenvolver o método e por fim no livro O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte Marx Trata sobre a posição de classe. BOTTOMORE, Tom (org.). Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 259, 260 261 e 262.

  • [28]BOTTOMORE, Tom (org.). Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p.258,259. O materialismo dialético tem sido, de um modo geral, considerado a Filosofia do Marxismo, distinguindo-se assim da ciência marxista, o Materialismo Histórico; Expressão que designa o corpo central de doutrina da concepção materialista da história, núcleo cientifico e social da teoria marxista.

  • [29] Segundo Barros é fundamental a distinção de marxismo e materialismo histórico, que para o autor tem sido usado equivocadamente como sinônimos. O autor nos esclarece dizendo que o marxismo-leninismo, por exemplo, é um programa de ação política que visa estabelecer uma sociedade, enquanto, que o materialismo histórico é um paradigma historiográfico, isto é, um arcabouço teórico para a interpretação da história.

  • [30] Grosso modo no campo da História temos três paradigmas historiográficos, a saber, positivismo, historicismo e materialismo histórico.

  • [31]BARROS, José D’ Assunção. Teoria da história: Conteúdo III Os paradigmas revolucionários. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 28.

  • [32]Classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social e empregadores do trabalho assalariado. BOTTOMORE, Tom (org.). Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 38.

  • [33] Podemos dizer que o conceito de Estado ao longo das reflexões dos marxistas foi sendo ampliado. Citaremos apenas uma pequena amostra da contribuição de Antônio Gramsci. Para ele, o Estado Moderno, é a sociedade política mais a sociedade civil, que se encontra em constante conflito. Este conceito abrange a conquista de hegemonia (poder e influência) na sociedade no processo revolucionário.

  • [34] Conforme o dicionário do pensamento marxista, Capital, não pode ser entendido separadamente das relações capitalistas que envolvem justamente o modo de produção (forças produtivas e as relações de produção).

  • [35] BOTTOMORE, Tom (org.). Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 51.

  • [36] O conceito de mercadoria inclui dois fatores, isto é, valor de uso e valor. No momento não examinaremos tais fatores. No entanto, estaremos indicando livros na bibliografia sugerida para a leitura.

  • [37] MARX, Karl. O capital: crítica da economia política: Livro I: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013, p 113.

  • [38] Não temos como proposta neste trabalho nos aprofundarmos sobre a questão da luta de classes, porém, entendemos ser pertinente ainda que de maneira bem sucinta uma breve reflexão sobre o que acreditamos ser a luta de classes diante deste cenário teológico da teologia da prosperidade que abordaremos na próxima seção. Ainda sobre luta de classes, arriscamos fazer uma alusão entre as partes envolvidas, a saber, classe dominante e classe dominada, onde a classe dominante seria representada pelos líderes religiosos ou a classe de clérigos, e a classe dominada seriam representadas pelos fiéis ou a classe dos leigos. Assim como na luta de classes a parte dominante busca apenas seus interesses, que em grande parte está relacionada com o poder econômico e autopromoção. Por sua vez, a classe dominada é oprimida pela classe dominante, que usa argumentos que tocam o que entendemos ser o mais puro das pessoas, a fé.                                                 

  • [39] Segundo Engels a primazia não significa um determinismo econômico mecanicista.

  • [40] Segundo Pedrinho Guareschi, aparelhos ideológicos são aqueles aparelhos, ou mecanismos, que na sua função de manutenção e reprodução das relações numa sociedade usam a persuasão, isto é, a ideologia. GUARESCHO, Pedrinho A. Sociologia Crítica: alternativas de mudanças. Porta Alegre. Mundo jovem, 2003, p. 92.

  • [41] Conforme Maria Cristina Garcia em seu livro. A religião segundo o marxismo e a teologia da libertação. São Paulo. EDICON, 2008.  Karl Marx concentrou seus estudos na doutrina econômica e Engels na superestrutura e dessa forma no que se refere à crítica da religião cabe mais a Engels. Pois, Marx teria encerrado sua crítica à religião considerando como uma fantasia da condição social do ser humano ainda não emancipado. P 12,13. 

  • [42] MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. Tradução de Rubens Enderle e Leonardo de Deus. São Paulo. Boitempo, 2005, p. 145.  A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo.

  • [43] GUARESCHI, Pedrinho A. Sociologia Crítica: alternativas de mudanças. Porta Alegre. Mundo jovem, 2003, p. 119,120.

  • [44] A palavra remete à Grécia Antiga, na qual a práxis se opunha tanto à teoria (uma atividade contemplativa) como à poiesis (uma atividade que convergia para a produção de objetos, para a produção material, para os fazeres dela decorrentes). Entre essas duas instâncias humanas do pensar e do fazer, que eram a Theoria e a Poiesis, a Práxis correspondia a uma terceira instância que se relacionava ao agir, e mais especificamente à ação que realizava no âmbito das relações entre as pessoas, a ação intersubjetiva, a ação moral, a ação dos cidadãos. BARROS, José D’ Assunção. Teoria da história: Conteúdo III Os paradigmas revolucionários. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 132.

  • [45] Dedicaremos a discorrer especificamente sobre uma linha teológica conhecida como teologia da prosperidade.

  • [46] BARROS, José D’ Assunção. Teoria da história: Conteúdo III Os paradigmas revolucionários. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 131.

  • [47] BARROS, José D’ Assunção. Teoria da história: Conteúdo III Os paradigmas revolucionários. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 131e 134.

  • [48]Concordamos com Magali do Nascimento Cunha que identifica essa concepção influenciada pelo neoliberalismo sendo praticada inicialmente pela Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Renascer em Cristo, Igreja Internacional da Graça de Deus e posteriormente por outras denominações (neopentecostais) e chegando a atingir até movimentos de renovação carismática na Igreja Católica. Práticas como aquisição de televisão e rádios, comércio de vários objetos e religiosos midiáticos estão presentes nessa visão.

  • [49] Doutrina socioeconômica do modo de produção capitalista.

  • [50] Conforme a nota 25.

  • [51] O artigo encontra-se no livro organizado por Helmut Renders. VOCAÇÃO Pastoral em Debate. São Bernardo do Campo, Editeo, 2005.

  • [52] Concordamos com o autor e entendemos que a comunidade de fé, isto é, a Igreja, tem o seu papel no chamado que se refere a ajudar no processo de formação, no entanto, jamais pode se considerar como a responsável numa competência, isto é, aprovar ou negar o chamado, algo que cabe apenas a Deus.

  • [53] O termo foi sugerido pelo orientador.                              

  • [54] Pregação significa declarar a mensagem oficial do rei. Quando um soberano tinha uma mensagem para seus súditos, ele entregava aos arautos. Estes a transmitiam as pessoas sem mudá-la ou corrigi-la. Simplesmente transmitiam a mensagem que lhes haviam sido entregues. Os ouvintes sabiam que estavam recebendo uma proclamação oficial. OLYOTT, Stuart. Pregação pura e simples. São José dos Campos: Editora Fiel, 2012, p 14.

  • [55] Indicaremos livro na bibliografia sugerida.

  • [56] A liturgia cristã é o encontro dialogal, ritualizado, entre a Igreja e a Trindade Divina, centralizado na fé na ação salvífica de Deus em Cristo. Por ela, corpo e cabeça – Cristo – realizam o diálogo com o Pai, por meio do Espírito Santo. Nesse diálogo, as questões do dia-a-dia dos celebrantes, à luz da Bíblia, são levadas a Deus, para receber Dele a orientação necessária para a continuidade da ação transformadora no mundo. VALVERDE, Messias. Liturgia e Pregação. São Paulo: Cedro, 2006, p 19.

  • [57] Ritual da Igreja Metodista. São Paulo: Editora Cedro, 2005, p 19 e 20.

  • [58] RAMOS, Luiz Carlos: A pregação na idade mídia: os desafios da sociedade do espetáculo para a prática homilética contemporânea. São Bernardo do Campo: Editeo, 2016. Conceito etimológico: disciplina que se ocupa da ciência e da arte da pregação de sermões religiosos. P. 28.

  • [59] Em relação às pregações midiáticas, ao modelo de culto e turismo religioso, o autor informa que tal prática além dos pentecostais e neopentecostais encontram-se também sendo reproduzido por protestantes históricos e católicos.

Carrinho de compras
Rolar para cima