Reflexão do Evangelho

Jesus o pão da vida

Confira o comentário do evangelho para o próximo domingo, dia 05 de agosto. O texto fala sobre Jo 6,24-35, e pertence a Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.

Boa leitura!

OLHAR DE PERTO AS COISAS DA NOSSA VIDA

Vamos meditar sobre o longo discurso do Pão da Vida. Depois da partilha dos pães, o povo foi atrás de Jesus. Tinha visto o sinal, comeu com fartura e queria mais! Não se preocupou em procurar o apelo de Deus que havia em tudo isso. Quando encontrou Jesus na sinagoga de Cafarnaum, teve com ele uma longa conversa, chamada Discurso do Pão da Vida. Por meio desse discurso, Jesus procura abrir os olhos do povo para ele descobrir o rumo certo que deve tomar na vida. Dá olhos novos para ler os fatos e ver melhor as necessidades. Pois não basta ir atrás do sinal da partilha do pão para o corpo. Não só de pão vive o ser humano!

SITUANDO

Neste discurso do Pão da Vida (Jo 6,22-71), através de um conjunto de sete diálogos, o evangelista explica para os leitores e as leitoras o significado profundo da partilha dos pães como símbolo da Ceia Eucarística. É um diálogo bonito, mas exigente. O discurso fica chocado com as palavras de Jesus. Mas Jesus não cede nem muda as exigências. O discurso parece um funil. Na medida em que avança, é cada vez menos gente que sobra para ficar com Jesus. No fim só sobram os doze, e nem assim pode confiar em todos eles!

Quem lê o quarto Evangelho superficialmente pode ficar com a impressão de que João repete sempre a mesma coisa. Lendo com mais atenção, perceberá que não se trata de repetição. O quarto Evangelho tem um jeito próprio de repetir o mesmo assunto, mas é num nível cada vez mais alto ou mais profundo. Parece uma escada em caracol. Girando você volta ao mesmo lugar, mas num nível mais alto. Assim é o discurso sobre o Pão da Vida. É um texto que exige toda uma vida para meditá-lo e aprofundá-lo. Por isso, não se preocupe se não entender logo tudo. Um texto assim a gente deve ler, meditar, ler de novo, repetir, ruminar, como se faz com uma bala gostosa. Vai virando e virando na boca, até se gastar.

COMENTANDO

Jo 6,22-27: 1º Diálogo – O povo procura Jesus porque quer mais pão
O povo viu o sinal, mas não o entendeu como um sinal de algo mais alto ou mais profundo. Parou na superfície: na fartura de comida. Buscou pão e vida, mas só para o corpo. Para o povo, Jesus fez o que Moisés tinha feito no passado: deu alimento farto para todos. Indo atrás de Jesus, queria que o passado se repetisse. Mas Jesus pede que o povo dê um passo. Além do trabalho pelo pão que perece, deve trabalhar também pelo alimento não perecível. Este novo alimento é que traz a vida que dura para sempre.

Jo 6,28-33: 2º Diálogo – Jesus pede para o povo trabalhar pelo pão verdadeiro
O povo pergunta: “O que fazer para realizar este trabalho (obra) de Deus?” Jesus responde: “Acreditar naquele que Deus enviou!” Isto é, crer em Jesus! O povo reage: “Então, dê-nos um sinal para a gente saber que você é o enviado de Deus! Nossos pais comeram o maná que foi dado por Moisés!” Para eles, Moisés é o grande líder do passado, no qual acreditam. Se Jesus quer que o povo acredite nele, deve fazer um sinal maior que o de Moisés. Jesus responde que o pão dado por Moisés não era o pão verdadeiro, pois não garantiu a vida para ninguém. Todos morreram! O pão verdadeiro de Deus é aquele que vence a morte e traz vida! Jesus tenta ajudar o povo a se libertar dos esquemas do passado. Para ele, fidelidade ao passado não significa fechar-se nas coisas de antigamente e recusar a renovação. Fidelidade ao passado é aceitar o novo que chega como fruto da semente plantada no passado.

Jo 6,34-40: 3º Diálogo – O pão verdadeiro é fazer a vontade de Deus
O povo pede: “Senhor, dá-nos sempre desse pão!” Pensavam que Jesus estivesse falando de um pão especial. Então Jesus responde claramente: “Eu sou o pão da vida!” Comer o pão do céu é o mesmo que crer em Jesus e aceitar o caminho que ele ensinou, a saber: “O meu alimento é fazer a vontade do Pai que está no céu!” (Jo 4,34). Este é o alimento que sustenta a pessoa, dá rumo e traz vida nova.

ALARGANDO

O Sinal do Novo Êxodo

A partilha dos pães aconteceu próximo da Páscoa (Jo 6,4). A Festa da Páscoa era a memória perigosa do Êxodo, a libertação do povo das garras do faraó. Assim, todo o episódio narrado neste capítulo tem um paralelo com os episódios relacionados com a Festa da Páscoa, tanto com a libertação do Egito quanto com a caminhada do povo no deserto em busca da terra prometida. Vamos apresentar este paralelo através dos pequenos blocos que formam o capítulo 6 do Evangelho de João.
Partilha dos pães (Jo 6,1-15)

Jesus tem diante de si a multidão faminta e o desafio de garantir o alimento para todos. Da mesma maneira Moisés enfrentou este desafio durante a caminhada do povo pelo deserto (Ex 16,1-35; Nm 11,18-23). Depois de comer, a multidão saciada reconhece Jesus como o “Profeta que devia vir ao mundo” (Jo 6,14) dentro do que pede a Lei da Aliança (Dt 18,15-22).

Jesus caminha sobre o mar (Jo 6,16-21)

Para o povo da Bíblia, o mar era símbolo do abismo, do caos, do mal (Ap 13,1). No Êxodo, o povo faz a travessia para a liberdade enfrentando e vencendo o mar. Deus divide o mar através de seu sopro e o povo atravessa com pé enxuto (Ex 14,22). Em outras passagens a Bíblia mostra Deus vencendo o mar (Gn 1,6-10; Sl 104,6-19; Pr 8,27). Vencer o mar significa impor-lhe os seus limites e impedir que ele engula toda a terra com suas ondas. Nesta passagem Jesus revela sua divindade dominando e vencendo o mar, impedindo que a barca dos discípulos seja tragada pelas ondas.

O discurso sobre o Pão da Vida (Jo 6,22-58)

Este longo discurso feito na sinagoga de Cafarnaum está relacionado com o capítulo 16 do livro do Êxodo. Vale a pena ler todo este capítulo de Êxodo, percebendo as dificuldades que o povo teve que enfrentar na sua caminhada, para podermos compreender os ensinamentos de Jesus aqui no capítulo 6 do Evangelho de João.

Quando Jesus fala de “um alimento que perece” (Jo 6,27), ele está lembrando Ex 16,20. Da mesma forma, quando os judeus “murmuram” (Jo 6,41), fazem a mesma coisa que os israelitas no deserto, quando duvidam da presença de Deus junto com eles durante a travessia. A falta de alimentos fazia com que o povo duvidasse que Deus estivesse com eles, de que Deus fosse Javé, resmungando e murmurando contra Deus e contra Moisés. Aqui também os judeus duvidam da presença de Deus em Jesus de Nazaré (Jo 6,42).

Texto partilhado ao CEBI pelos autores e autora.

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