Algumas de suas fotos em preto e branco foram apresentadas em Perpignan, no Festival de Fotojornalismo Visa pour l’image.
As imagens são de transgênicos, máquinas de fumigação de pesticidas, silos gigantes que a empresa Monsanto instalou em Rojas, Argentina.
Entre outras imagens tão chocantes, uma é da filha de um agricultor que celebra seu aniversário, mas que pede de presente a vida para seus filhos gravemente doentes e com deformidades,
Como seu deu a realização desse projeto?
Comecei trabalhando com um caso em especial na Argentina e descobri que haviam muitas histórias pra contar. Então entendi que era um tema importante e com grande impacto global. Acompanhado de um jornalista, um médico e alguns advogados, me lancei nessa ampla investigação.
Minha ideia não era agir como um ativista, mas criar um debate sobre a maneira que queremos que produzam nossos alimentos. Isso é algo crucial: todos nós nos alimentamos. Os médicos e advogados me assessoravam, porque queríamos ter certeza de conseguir avançar nas investigações. Do outro lado, a Monsanto, colocou seus advogados de prontidão para nos impedir a realização e publicação de nosso trabalho.
A Monsanto aparece como o grande mal nas suas fotografias. É o único?
Não é o único, mas é o principal. A Monsanto é um monstro.
Se você for à Índia, Argentina ou outros países, comprovará que este tipo de produção agrícola está criando problemas de saúde pública e ao meio ambiente, além de violações dos direitos humanos, problemas políticos e grandes tensões econômicas. Esta indústria precisa de cerca de 4000 a 10.000 hectares de terra para ser rentável.
Os pequenos agricultores locais são marginalizados e em todas as partes em detrimento das multinacionais. Os pequenos produtores se vem obrigados a vender suas terras, como está acontecendo no Brasil. E se não o fazem, seus campos de cultivo são rodeados por outras propriedades que fazem uso dos pesticidas.
Na Argentina, por exemplo, já existe a primeira geração de crianças que foram afetadas porque seus pais foram expostos a substâncias químicas, são abortos espontâneos, enfermidades, malformações, como a hidrocefalia. Estes casos formam uma legião. Pensei que teria que realizar uma busca exaustiva, mas a cada 600 habitantes há pelo menos 70 casos. Os adultos sofrem de câncer e doenças de pele. A contaminação acontece pelos produtos, mas também pela água e pelos alimentos.
Se te perguntarem se a indústria alimentar está envenenando o mundo ao invés de alimentá-lo. Que resposta dará?
Outros setores estão conscientes desse problema?
O que dizem as autoridades?
Vivem também do negócio. Nosso trabalho tem sido muito pouco divulgado, mas pela sua representação na Argentina estamos sendo submetidos a muitas pressões que são procedentes dos níveis mais altos.
Quais são os seus próximos passos nessa investigação?
Malawi, Moçambique, Índia, Europa e América de Norte. A Monsanto está em todos e cada um destes países, mas, uma vez mais, nosso trabalho se concentrará nos métodos de produção de alimentos e não na empresa em particular.