“Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade” (1 Tm 2.1,2)
Muitas vezes ao longo da história os/as cristãos/ãs, por causa de contextos de opressão, violência e corrupção no trato da administração pública, assumiram o dever evangélico de testemunhar o Reino de Deus, agindo com justiça e amor, sem partirem do ódio e sem serem cúmplices do sistema que promovia injustiças e desigualdades. Este é um chamado a todos/as os/as crentes: promover a paz e a justiça. Neste momento de crise e crescente polarização política, consideramos ser esta exortação bíblica inspiradora para o enfrentamento do que vivemos no Brasil, ainda tão marcado pela injustiça e pela desigualdade, sobretudo contra os que pouco podem se defender.
Desfrutamos de uma democracia cujas regras, instituições e processos foram conquistados com muito esforço e luta pela sociedade brasileira nas últimas décadas. E, como continuidade destas conquistas, as eleições em outubro do ano passado definiram a vitória do atual governo, que assumiu o poder com legitimidade popular das urnas, depois de uma acirrada disputa.
Entretanto, é fato que este governo enfrenta dificuldades na relação com as suas alianças partidárias no Congresso, com as medidas econômicas impopulares como o ajuste fiscal, com as denúncias de corrupção na Petrobrás e outros desafios. Tais dificuldades são, ao mesmo tempo, de responsabilidade do governo, de seu partido, dos que são da base aliada e da própria oposição, mas também são resultados do cenário atual e das estruturas que regem o funcionamento das instituições políticas e sociais brasileiras em vários níveis. Por isso são necessárias mudanças, como uma Reforma Política real, que alargue e garanta direitos, amplie a participação cidadã e fortaleça a democracia.
A realização de manifestações públicas nas ruas representa a liberdade de dizer, de pensar e de reivindicar, elementos que não podem ser ameaçados. Defendemos a democracia e parte de sua consolidação e avanço passa por processos eleitorais e por instituições políticas que sejam respeitados. E, por isso, entendemos que nesse contexto não cabem ações ou manifestações que visem a quebra da ordem constitucional inclusive o impedimento ilegal e injustificado de mandatos legítimos, pois isso tende a enfraquecer as instituições do Estado de Direito sobre as quais se sustenta nossa ainda jovem democracia. Rejeitamos qualquer ação que se baseie no "quanto pior, melhor", e chamamos à reflexão para que essas manifestações considerem os retrocessos que tais caminhos poderiam representar.
O nosso apelo consiste na negação tanto do ódio a quem quer que seja como na cumplicidade com qualquer tipo de erro, como sentimentos e atitudes que aniquilam o testemunho cristão e comprometem a cidadania. E, neste momento, entendemos que o caminho é mais democracia, mais transparência, mais ética e… mais oração.
Assim conclamamos aos irmãos e irmãs a se unirem conosco em oração, e que nos mantenhamos vigilantes contra injustiças e iniquidades a nossa volta, para que as instituições democráticas cumpram seu papel constitucional, e que o interesse maior seja sempre o bem comum e o comprometimento com a ética, a verdade e a justiça. Oremos ainda para que forças antidemocráticas e até contrárias ao estado de Direito não prevaleçam, inclusive usando o discurso enganador da defesa da liberdade e da justiça, como em outros momentos de nossa história. É importante discernir os sinais dos tempos. É tempo de vigilância profética, sabedoria ética e coragem evangélica.
No espírito reconciliador de Cristo que conduz às verdadeiras transformações.