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As Pragas do Egito e a Covid-19

Na semana que passou participei de uma Live com o tema “As pragas do Egito e a Covid-19” promovida pelo CEBI-SE (15/05/2020) e confesso que este tema trouxe algumas inquietações e provocações e me levou a reler Ex 7-14, importante narrativa na libertação dos hebreus e hebreias. Primeiro aspecto que encontramos na narrativa é que não aparece uma única vez a palavra “praga” e sim as palavras “sinais” e “maravilhas” da ação de Deus em favor dos hebreus a fim de libertá-los da opressão do faraó.  Desde o ponto de vista do faraó e dos egípcios estes sinais representaram sérios problemas e conduziram o faraó a uma derrota política e econômica.

Segundo aspecto: a narrativa descreve os passos da queda do faraó de forma gradativa. Os primeiros sinais causaram incômodo na corte do faraó e a disputa com os magos resultou em crise do seu poder religioso. Os sinais que seguem dão início à queda econômica e política do faraó: úlcera, peste nos animais, chuva de granizo, gafanhotos e trevas. O faraó diante da crise econômica e com a morte dos primogênitos deixa os escravos saírem do Egito e antes que eles/elas deixassem de vez a região de Gossen se pôs a persegui-los e viu de vez sua queda: “Cantem a Javé, porque grandemente se enalteceu: ele atirou no mar carros e cavaleiros” (Ex 15,21).

Esta é a leitura que comumente nos reporta para a luta e resistência dos escravos frente aos seus opressores. No entanto, tomando a construção desta narrativa nos tempos da profecia de Israel que condenou as atrocidades, roubo e violência aos trabalhadores e às mulheres praticada pelos reis e seus aliados. Na companhia dos profetas de Israel construíram as lembranças do êxodo e dos sinais e sintetizaram na narrativa de Gn 12,10-20 onde Javé ouviu o grito de Sarai e a libertou junto com Abrão. Nesta narrativa não se diz que Deus enviou “sinais” e sim o termo “pragas”.  Naquela sociedade cheia de desigualdades, injustiças, roubos, violência e opressão, a profecia ajudava o povo a enxergar as enfermidades e pestes que afligiam o povo, qual praga. Encontramos uma narrativa cheia de sutilezas sobre o rei Davi e suas opções em 2 Samuel 24. O texto fala que Davi mandou fazer um censo com a clara intenção de arrecadar impostos e reforçar seu poder militar. Gade, profeta da corte, coloca diante de Davi três opções como castigo por sua ação exploradora e tirânica: sete anos de fome; três meses de perseguição dos inimigos ou três dias de peste (v.13). O rei tirano escolheu a peste que matou a setenta mil pessoas. Claramente a narrativa chama a atenção para o rei tirano e suas escolhas contra o povo. Ao invés de optar pela vida do povo, faz uma escolha na qual se torna livre das condenações e sacrifica o povo.

Tomando esta reflexão de 2 Samuel 24, acerca da tirania e da peste, logo nos faz olhar para o momento atual no qual lidamos, de um lado com a COVID-19 que vai a cada dia aumentando o número de mortos e infectados e. de outro, com o governo irresponsável, genocida e tirano, com instituições políticas, projetos desde o início do lado de uma pauta econômica neoliberal e de mercado e nenhuma ação voltada para as vítimas e as milhares de famílias destroçadas pela COVID-19. Claramente um governo preocupado com a defesa de seus interesses, safar politicamente o seu clã das denúncias de corrupção e crimes. Que se percam as vidas para defender os seus interesses é o projeto do governo tirano e de seus apoiadores e aliados que se plantam na frente do palácio ou nas carreatas da morte. Tirania de cá que muito se aproxima da tirania de Davi e de seus puxa-sacos. Assim enfrentamos a peste da COVID-19 e a praga de ações de morte de um governo tirano e assassino.

A profecia a partir daí não dá tréguas aos palácios que se enchem de luxo e exploram os trabalhadores e aumentam a miséria do povo. O grito profético soa como um “Ai” contra toda a condena e situação dos pobres. É o grito e lamento do povo que se transforma em denúncia diante de tanta dor. A profecia apresenta o “Dia de Javé” como dia de destruição, escuridão, trevas como demonstração do processo que Deus irá instaurar contra os “habitantes da terra”. Vale lembrar que em hebraico o substantivo “yôsheb” muitas vezes é traduzido por habitantes, no seu sentido mais profundo quer indicar “aqueles que estão sentados” ou “aqueles que governam”. A profecia diz que o dia de Javé é um dia contra os que dominam e tem o poder na sociedade (ver Sofonias 1), pois eles roubam, matam, testemunham com fraude, adulteram, mentem e são violentos (Oseias 4,2).

A profecia do “Dia de Javé” vem de encontro com a resistência das comunidades apocalípticas que apresentam dois caminhos: o caminho da denúncia aos projetos que destroem a vida e a visão que o poder será destruído pelo próprio poder. Assim, apresentam as pragas e o seu ataque aos que estão e se sentem donos do poder e da vida. A política armamentista, o acúmulo e a riqueza exploratória, a violência física e moral não tem nenhuma reação e conseguem conter os gafanhotos descritos em Joel 1 ou se livrar dos gafanhotos escorpiões de Apocalipse 9. Porém, os grupos da resistência apocalíptica apresentam o caminho do encorajamento das comunidades a lutar com esperança e não esmorecer diante dos lamentos e da dor. A dor transformada em luta e resistência como encontramos no discurso apocalíptico de Jesus em Mc 13 (e nos paralelos em Mt 24 e Lc 21) e em 1Tessalonicenses que anima a comunidade: “… Encorajem-se uns aos outros, portanto, com estas palavras… Vocês sabem muito bem que o Dia do Senhor virá como ladrão à noite. Quando as pessoas estiverem dizendo: ‘que paz e segurança!’ então virá de repente sobre elas a destruição. Será como as dores do parto que vêm para a mulher grávida, e não poderão escapar. (…) Portanto, encorajem-se uns aos outros e se edifiquem mutuamente, como aliás vocês já estão fazendo” (1Ts 4,13 – 5,11).

Nestes tempos da Covid-19 e do desgoverno com o seu clã e a cambada de “bestas” (para usar uma imagem cara para as comunidades apocalípticas) que atentam contra a vida dos pobres é de suma importância revisitar os textos bíblicos e libertá-los da visão intimista, espiritualista e de medo e daí redescobrir a profecia e a sabedoria comunitária.

Rafael Rodrigues da Silva – Diretor Nacional do CEBI

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