Poesia da Libertação

Poema [ Renato Suttana ]

Nasceu pequenino
uma coisinha —
deus concentrado
num punhado de átomos
para abranger o mundo vasto
para corrigi-lo.

*

E há de fato
muito a corrigir
nesta outra enorme coisa
que chamamos de mundo:
neste amplo espaço
onde nos perdemos
todos os dias.

*

Nasceu no silêncio da noite
no outro lado do ruído —
lá onde César não estava
e onde o rei da Judeia não estava
sempre ocupados ambos
com os negócios do mando
suas legiões e fronteiras
suas províncias.

*

Mas o menino veio à luz
no outro lado
onde o silêncio era um entendimento
e onde só os anjos o viram
e os pastores
e os reis que lá chegaram atônitos
e ansiosos do futuro.

*

Pequeno e frágil
será chamado pelo seu nome.
E crescerá sábio
e andará pelo deserto
e expulsará os vendilhões do templo
e se sentará com os pobres
para lhes contar as histórias de Deus.

*

Produzirá o vinho
produzirá o pão
produzirá os peixes
produzirá a luz
e a esperança dos homens.

(Renato Suttana, dez. 2021. Ilustração: Caravaggio. “Adoração dos pastores”, 1609)

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