Pedro Tierra
Para Ricardo Azevedo e Vera Soares
que atam os nós entre uma e outra
geração de lutadores.
A geração incendiada
pelo impulso de refundar o mundo
sopra sob as cinzas,
a brasa oculta da indignação.
Contra a ferocidade que nos cerca
e sufoca
opomos
“A imaginação no Poder!”,
esse sonho que só nos abandona
quando dormimos.
Ouço na noite
e reconheço
o rumor do sangue,
pulsando nas veias
e na memória
como o rio subterrâneo
que nos percorre
o continente do corpo
movido por uma vontade
irrevogável de vida
e de liberdade
e se oferece à sede
da geração que descobre
o espaço aberto das ruas.
Difusa, pela criminosa sombra
da morte em massa
que nos sitia,
percebo, sob a luz insistente
da madrugada que se anuncia
a mão amável pousada
sobre a mão que a sucede,
ainda insegura do traço
que deseja esboçar
e conduz a incerta caligrafia,
palavra a palavra, gesto a gesto.
Recolho a mão e cedo o passo.
E testemunho a mão diminuta,
sem perceber ainda a força infinita
que a move
abrir-se trêmula como um pássaro
que arrisca, pela primeira vez,
alçar seu próprio voo.
A liberdade pede passagem!
“Todo poder à Imaginação!”