Bíblia

Mas Ele falava do templo do seu corpo – João 2,13-22 – Pe. Thomaz Hughes SVD

Mas Ele falava do templo do seu corpo - João 2
A Basílica de São João Lateranense, a catedral da Igreja de Roma, é considerada a mãe de todas as Igrejas Católicas do mundo. Foi construída por Constantino nas primeiras décadas do século quatro.
No contexto do Quarto Evangelho, esse texto se situa durante a visita de Jesus a Jerusalém para a primeira das três Páscoas mencionadas neste Evangelho (nos Sinóticos  só  é mencionado uma Páscoa). No Templo, que deveria ser o lugar do culto ao Deus verdadeiro de Israel, o Deus de libertação, o Deus dos pobres e sofridos, ele encontra um verdadeiro mercado, onde, no pátio externo, era possível comprar os animais para os sacrifícios, e trocar a moeda, uma vez que a moeda corrente do país não era aceita no Templo. Quando atacava esse comércio, Jesus estava indo além da mera condenação de um abuso. Pois, os animais e o câmbio eram necessários para o funcionamento do Templo. Como nos versículos precedentes do Capítulo 2, onde Jesus substituiu a purificação dos judeus no sinal das bodas de Caná, aqui ele demonstra que o centro do culto judaico perdeu o seu sentido. Pois, a presença de Deus, antes achada no Templo, agora deturpado pela elite religiosa e política, doravante reside em Jesus, o Filho de Deus encarnado. Ele cumpre as profecias de Jeremias e Zacarias que predisseram uma religião sem templo nacionalista, explorador econômico do povo (Jr 7, 11-14; Zc 14, 20-21).
João entende que o verdadeiro e duradouro templo é o corpo de Jesus, que será ressuscitado em três dias – ele usa de propósito o verbo “reerguer” em lugar do “reconstruir” dos Sinóticos (Mt 26, 61). As autoridades judaicas (não “os judeus,” no sentido de raça ou religião) destruíram o sentido do Templo, abusando do povo economicamente, como vão destruir o corpo de Jesus, matando-o; mas Jesus tem o poder de reerguer o verdadeiro Templo onde habita Deus, na Ressurreição, depois de três dias.
É bom lembrar que a “toca” ou “covil” de  ladrões não é o lugar onde eles assaltam e roubam, mas onde eles se sentem seguros.  Assim, Jesus está dizendo que o verdadeiro assalto contra a vida do povo se dá no dia-a-dia do sistema econômico-político-social, e que os assaltantes – a elite de Jerusalém, aliada ao poder romano – se sente segura, encobrindo a realidade exploradora com ritos e rituais bonitos no Templo, como se Deus aprovasse o sistema vigente.
Mais uma vez Jesus, através de uma ação profética, desmascara a deturpação da religião, por parte das autoridades de Jerusalém. Embora o templo fosse muito bonito e imponente, com liturgias pomposas bem frequentadas, a sua religião era vazia, pois escondia o rosto verdadeiro de Deus. As Igrejas correm este mesmo risco nos dias de hoje. Além da descarada exploração financeira dos seus fiéis por parte de alguns grupos religiosos (cuidemos para não generalizarmos aqui e que a mesma coisa não aconteça na nossa Igreja!), aos poucos muitas comunidades cristãs perderam a sua dimensão profética de denúncia e anúncio, configurando-se ao mundo neoliberal de consumismo e gratificação emocional imediata, tornando o Evangelho uma mercadoria a ser vendida através de um marketing, que jamais pode questionar os valores da sociedade vigente. Como escreveu uma vez o Frei Beto, a religião assim “brilha sob as luzes da ribalta, trocando o silêncio pela histeria pública, a meditação pela emoção, a liturgia pela dança aeróbica. Na esfera católica, torna o produto mais palatável, destituindo-o de três fatores fundamentais na constituição da igreja, mas inadequados ao mercado: a inserção dos fiéis em comunidades, a reflexão bíblico-teológica e o compromisso pastoral no serviço à justiça. As homilias se reduzem a breves exortações que não incomodam as consciências”.
 Assim, o texto de hoje nos traz um alerta – Jesus não veio compactuar com uma religião exploradora, alienadora, aliada ao poder, mas para encarnar as opções do Deus da Bíblia, libertador dos males e de toda exploração; ele veio “para que todos tenham a vida e a vida em abundância” (Jo 10, 10). Uma religião que abandonasse a sua função profética seria tão traidora como a religião decadente das elites do Templo. Diante da arrogância despótica dos que se consideram “donos” do mundo e dos seus recursos, por causa do seu poderio militar e econômico, as vozes do Papa Francisco, do Dalai Lama e de outros líderes religiosos soam profeticamente ao redor do mundo, lembrando-nos que a religião não se confina à sacristia, mas tem que levar à prática dos princípios do Reino, que recusa legitimar o derramamento de sangue e a destruição do meio ambiente em troca de petróleo e do lucro.
Neste domingo em que a Igreja celebra a dedicação da “Igreja-Mãe” – a Basílica de São João de Latrão, em Roma – verifiquemos o estado de reparo da nossa Igreja Viva – feita não de pedras talhadas e construções imponentes, por tão bonitas e até necessárias que possam ser, mas de discípulos/as-missionários/as, inspirados pela pessoa e projeto de Jesus. Aproveitemos do ensejo para reavaliar a nossa prática religiosa, para que não caiamos na desgraça do Templo – bonito, atraente e emocionante, mas vazio de sentido.
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