Por Zózimo Trabuco *
Quando se fala do conservadorismo evangélico, do voto evangélico na direita ou mesmo da atuação nefasta da bancada evangélica, os comentários quase sempre são direcionados aos pentecostais e neopentecostais.
Embora esse segmento tenha desenvolvido uma prática política fundamentalmente conservadora nos costumes, a maioria dos fiéis pentecostais e neopentecostais, pessoas majoritariamente pobres e negras, não é defensora de políticas de governo anti-populares, mesmo que a bancada evangélica o seja.
O segmento evangélico mais identificado com políticas de austeridade ou anti trabalhistas está concentrado nas chamadas igrejas “históricas” ou “tradicionais”, majoritariamente brancas e de classe média.
Pentecostais e neopentecostais podem constituir uma base de apoio importante para o bolsonarismo, mas o núcleo ideológico de defesa do projeto cristofascista se encontra no neocalvinismo à brasileira, em especial presbiterianos e batistas. E nem isso é uma novidade.
A Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) e a Convenção Batista Brasileira (CBB) apoiaram o golpe e a ditadura. A Mackenzie abrigava o Comando de Caça aos Comunistas (CCC). O redator do AI-2 era presbiteriano e um interventor em Pernambuco também era da igreja, a mais comprometida com a ditadura entre todas as denominações evangélicas do Brasil.
João Dias de Araújo narrou as perseguições da IPB aos seus fiéis progressistas, o expurgo de pastores e seminaristas, a delação de membros à repressão, as restrições no ensino teológico, o fechamento de entidades de jovens e outras práticas inquisitoriais.
O ministro da educação é o terceiro presbiteriano no governo. A IPB de Curitiba emprestou o templo para uma campanha de assinaturas para a criação do partido de Bolsonaro, com direito a ônibus com a imagem do presidente no estacionamento do templo.
Intelectuais e Youtubers presbiterianos e batistas propagam uma “cosmovisão cristã” alinhada às redes fundamentalistas internacionais e que recalca um supremacismo branco enraizado na identidade neocalvinista. A face do neocalvinismo é a mesma do bolsonarismo: masculina, branca, rica e terrivelmente evangélica.
*Professor de História da UFOB