Pr. Wellington Santos
pastor da Igreja Batista do Pinheiro desde 1993
Hoje, Trump (atual e lamentável presidente dos EUA), depois de autorizar reprimir, com bombas e gás lacrimogênio, manifestantes pacíficos que estavam em frente à St. John’s Church, em Washington DC, denunciando o assassinato brutal do cidadão negro George Floyd em Minneapolis, em 25 de maio, para que ele pudesse chegar até a mesma sem ser perturbado, tirou fotos em frente à igreja com a bíblia na mão elevada ao alto.
Fiquei me perguntando o que esta foto significa? Tristemente significa o que a foto registrou, que a bíblia, flor sem defesa, nas palavras do Frei Carlos Mesters, foi controlada, aprisionada e continua aprisionada pelas mãos, na sua maioria absoluta, de homens brancos, ricos e patriarcais que alimentam em nome da mesma, todo tipo de preconceito. Sinceramente falando, esta bíblia empunhada por Trump não me serve, nem serve para a maioria das mulheres oprimidas e assassinadas pelo patriarcado, não serve para a população negra oprimida e assassinada pelo racismo, não serve para população indígena que em nome da “evangelização” teve cultura e etnias totalmente dizimadas pela ganância do poder, não serve para comunidade LGBTQI+ discriminada e assassinada quase todos os dias por uma hermenêutica ideológica e viciada, não serve para maioria absoluta de trabalhadoras(es) exploradas(os) por um capitalismo que dilacera vidas como máquina de triturar sonhos e esperança, não serve para pessoas que sonham com um mundo plural, diverso e democrático, pois lamentavelmente as mãos que a controlam atualmente através do terror, do medo e da culpa, sonham com um mundo padronizado, uniforme e antidemocrático. Por que então não desisto definitivamente da bíblia e viro minhas costas para ela? Pelo fato de que primeiro, a palavra de Deus que se encontra encrustada em suas palavras e páginas são maiores e mais subversivas que qualquer tentativa de controlá-la e manipulá-la. Dito isto, afirmo: A palavra de Deus é maior que a bíblia; segundo, disputar a narrativa de que a bíblia é uma carta de amor de Deus e não um chicote nas mãos de um feitor, foi parte da missão de Jesus: “Eu porém vos digo…” (Mateus 5:21, 27, 33, 38 e 43), logo libertá-la das mãos de quem deseja usá-la para oprimir e entregá-la nas mãos de quem necessita de liberdade e vida abundante deve ser a nossa missão.
Concluo este breve texto com as palavras da Bispa Mariann Budde da St. John’s Church: “O uso da igreja e da bíblia como simbologia para atacar os manifestantes foi uma ofensa. Só quero que o mundo saiba que nós, na St. John’s Church, nos distanciamos da linguagem incendiária deste presidente” (CNN Internacional). Aproveito para fazer minhas as palavras da Bispa Mariann Budde e parafraseá-la: Quero que todas(os) saibam que nos distanciamos, denunciamos e lutamos contra as palavras e posturas incendiarias, irresponsáveis e fascistas deste ainda presidente do Brasil
Foto: Brendan Smialowski / AFP