Leia a reflexão sobre João 14,1-12, texto de Uwe Wegner.
Boa leitura!
O texto em seu contexto literário
Há várias sugestões para uma subdivisão do texto. Geralmente se trabalha com a hipótese de duas unidades: vv. 1-3 e vv. 4-12. Alguns acham que o texto deveria compreender também os vv. 13 e 14. Optamos pelo trecho dos vv. 1-12 e sugerimos uma subdivisão tríplice:
- 1-3: a promessa das moradas junto a Deus Pai;
- 4-9: o caminho que leva a Deus Pai: como conhecê-lo, como saber sobre ele? (predominam os verbos de cognição “saber”, “conhecer” e o verbo de visão “ver”);
- 10-12: o conhecimento do caminho que leva a Deus Pai pressupõe acreditar na unidade entre ele e Jesus (predomina o verbo “crer” e, em todos os versículos, é feita referência às obras de Deus ou Jesus). Os vv. 10-12 são, assim, um desdobramento natural da afirmação do v. 1b: “Credes em Deus, crede também em mim”.
Dentro da obra do quarto evangelho, o capítulo 14 inicia os dois discursos de despedida que Jesus faz aos seus discípulos (14 e 15-16), precedidos de uma introdução (13.31-38) e seguidos da oração a Deus pela unidade dos fiéis (17). Há certa perturbação e apreensão por parte dos discípulos: como viver espiritualidade e salvação sem a presença física do Mestre? Que relação pode ainda haver entre os fiéis e seu Mestre sem a presença física do último?
Meditação
Tomé faz uma pergunta decisiva: como saber o caminho? (v. 5). Nossa proposta é optar por esta questão de Tomé e fazer dela o eixo para a meditação e a pregação.
O que uma pessoa cristã vê ao seu redor hoje em dia não é um caminho, mas muitos, e todos afirmam conduzir a Deus. A própria multiplicidade de igrejas e confissões cristãs que vemos em qualquer cidade ou na TV já comprova o fato. As igrejas não propõem caminhos iguais. Todos os caminhos passam por Cristo, é verdade. Mas há diferenças grandes entre eles. Essa situação confunde, perturba. Como saber qual dentre os caminhos é o certo, qual das igrejas o trilha melhor?
Para saber o caminho, é necessário saber sobre Jesus. Se ele é o caminho, temos que conhecê-lo. E, claro, quanto mais profundamente pudermos conhecê-lo, melhor será. E há dois meios acessíveis para esse conhecimento: o primeiro é o testemunho sobre sua vida, ações e valores, que se encontra na palavra da Bíblia. Aqui, são necessários a leitura, a meditação e o discernimento da palavra bíblica: a Bíblia é transparente para Cristo, embora as lentes que usamos para lê-la nem sempre permitem que captemos o caminho de Cristo como ele quis que o fizéssemos.
E como segundo meio para conhecer Cristo, temos o seu Espírito, que quer marcar presença entre nós (v. 3). Essa presença do Espírito de Cristo manifesta-se, segundo João, sobretudo quando os cristãos:
- dão testemunho de Cristo (Jo 15.26; 16.13-15),
- deixam-se guiar para toda a verdade (a mentira identifica a ação do diabo: 8.44),
- rememoram o que Cristo ensinou, e
- levantam acusações contra o mundo (16.8-11), ou seja, assumem um testemunho profético.
Estes sinais da presença de Cristo em nosso meio são como que uma primeira bússola para avaliarmos se o caminho que estamos percorrendo em nossas igrejas é coerente.
Na própria palavra de Cristo, que o identifica como o caminho (v. 6), há mais dois auxílios substanciais nessa direção. Jesus afirma ser o caminho, a verdade e a vida. Aqui, temos mais duas bússolas claras para avaliar nossa caminhada de cristãos e a caminhada de nossas igrejas:
- A autenticidade cristã de uma igreja revela-se no seu compromisso com a verdade, em primeiro lugar. Cristo e a verdade andam juntos. A mentira, como já referido (8.44), é característica do diabo. Cristo encarou toda a sua missão nestas palavras: “Eu vim para dar testemunho da verdade” (18.37). Há um cativeiro maior do que o da verdade (Rm 1.18) em nosso país atualmente? Quantos escândalos negociados, quanta corrupção acobertada, quanto mentira pública e deslavada por jornais, rádio e TV!
- O outro critério é o da vida. Jesus revela-se como o pastor que veio dar vida em abundância para suas ovelhas (10.10). Por isso, toda a Igreja e todo o cristão que se torna arauto da vida, que a semeia em meio ao ódio, morte e desespero, captou o caminho que representa Jesus na direção de Deus.