Leia a reflexão sobre Mateus 21,1-10, texto de Ildo Bohn Gass.
Boa leitura!
Betânia e Betfagé são aldeias muito próximas uma da outra, logo abaixo do Monte das Oliveiras, em direção a Jericó e ao Mar Morto. É também ali que Jesus planeja e organiza as lutas do povo (Mc 11,1-11; Lc 19,29-40; Jo 12,1-19). É na comunidade dos pobres (Betânia: “casa dos pobres”), na periferia de Jerusalém, que Jesus se reúne com seu movimento para organizar uma ação simbólica a fim de evidenciar o confronto com o poder político romano. É a passeata popular para Jerusalém. Ao liderar uma passeata montado em um jumento, Jesus assume sua missão de messias libertador, de rei dos pobres, justo e desarmado. Está diametralmente em oposição a outro projeto que buscava a glória através da violência e da opressão. Jesus, ao contrário, mantém-se firme no caminho do serviço aos mais pobres, simbolizado pela entrada triunfal em Jerusalém, montado em um jumento. Em Betfagé e Betânia, Jesus articulou, com seu movimento, a passeata popular para Jerusalém. São aldeias de organização das lutas do povo, de sua profecia de denúncia do poder opressor de César e Herodes, bem como de anúncio do projeto de poder popular. Jesus recorda o movimento profético liderado por Zacarias que sonha com um messias popular que vem libertar o povo oprimido (Zc 9,9). Montar um jumento revela, de um lado, que é um movimento popular pacifista contra o uso de armas. O jumento era o animal de carga dos pobres. No exército, na guerra, era usado o cavalo (cf. Am 2,15). Em vez de ramos que aclamam o libertador do povo, os soldados usavam carros e espadas, arcos e flechas, capacetes e escudos. Ao contrário, o messias vem eliminar as armas (Zc 9,10), transformando os instrumentos de guerra em ferramentas de trabalho (Is 2,4; Mq 4,3). De outro lado, a opção por um jumento para sua montaria também revela que Jesus não é um rei poderoso e opressor, pois a montaria dos reis era a mula (1Rs 1,33.44). O jumento era a montaria dos pobres (Zc 9,9). Era a montaria dos juízes libertadores da época tribal, modelo de sociedade justa, solidária e de partilha (cf. Jz 5,10; 10,4; 12,14). Jesus, portanto, é o messias libertador dos pobres.
Convém lembrar mais dois fatos relacionados com a tomada popular do poder em Jerusalém. O primeiro fato faz lembrar a expulsão definitiva dos dominadores gregos de Jerusalém em 142 a.C. por Simão, o segundo filho do macabeu Matatias. Naquela ocasião, os judeus vitoriosos entraram triunfalmente na cidade (cf. 1Mc 13,51). Agora, da mesma forma como Simão, o movimento organizado por Jesus marcha firme sobre Jerusalém, a fim de resistir contra o poder colonialista dos romanos que ocupavam toda a terra da Palestina. O segundo fato tem a ver com os procuradores romanos no tempo de Jesus. Naqueles anos, Pilatos (interventor romano na Judeia e na Samaria de 26 a 36 d.C.) entrava triunfalmente em Jerusalém nas grandes festas judaicas. Ele supervisionava pessoalmente o controle da ordem. Ele vinha do sol poente, montando um cavalo e com um destacamento militar bem armado com lanças e espadas, vindo de Cesareia marítima. De seu lado, o ódio e a violência. Diferentemente, Jesus entrava em Jerusalém vindo do leste, do sol nascente, montando um jumento, a montaria dos pobres. Jesus lidera uma passeata pacífica, sem exército e sem armas, com vista ao poder popular de justiça e de libertação. De seu lado, o amor e a paz.
Por fim, ainda lembramos que o sentido original da palavra hosana é “ajuda-nos, socorre-nos, liberta-nos, salva-nos” (v. 9). É um grito por auxílio (cf. Sl 118,25; 2Rs 6,26; 19,19). Em Jesus, como no passado, Deus ouviu o grito de seu povo, escutou-o atentamente e o socorreu (Ex 3,7-8). O povo também aclama Jesus como descendente do rei Davi. Sim, tal como Davi que, em seu tempo, libertou as tribos da opressão dos filisteus, Jesus vem para libertar o povo da opressão dos romanos. Não é por acaso que foram os romanos que prenderam Jesus sem crime, o torturaram e o condenaram à morte de cruz. Portanto, a missão política de Jesus é trazer uma nova forma de exercer o poder. Um poder serviço, com base na verdade e não em mentiras, fundamentado no amor e não no ódio ao diferente, alicerçado na paz e não na força bruta das armas, na democracia e não na violência e no autoritarismo.