Leia a reflexão sobre João 11,11-45, texto de Ana Maria Casarotti.
Boa leitura!
Lázaro, vem para fora!
Nos primeiros séculos do Cristianismo, o tempo de Quaresma era o tempo para preparar-se para o Batismo.
Antes de entrar no evangelho de hoje, nos perguntamos por que este evangelho é lido neste período de Quaresma.
Lembremos que no tempo atual também há várias pessoas que se preparam para receber o Sacramento do Batismo e serem membros da Igreja: discípulos e testemunhos do Amor incondicional do Pai e todas as pessoas que ainda não sabem da sua Presença no meio de nós.
Lembremos os textos do Evangelho de João que foram lidos nos domingos anteriores.
A narrativa da mulher de Samaria, que encontra Jesus no poço aonde ela ia periodicamente para tirar água. O diálogo que se inicia a partir do momento que Jesus pede-lhe de beber, leva a mulher ao reconhecimento da sua profunda sede interior.
Assim Jesus fez jorrar nela uma fonte da água Viva que sacia suas necessidades e a transforma num manancial de vida em abundância.
No domingo último, meditamos sobre a história do cego de nascença que é curado por Jesus e recupera a vista. Passa das trevas à luz! Como discípulo de Jesus, converte-se em testemunho dele como Luz do mundo no meio de um ambiente que em vários momentos escolhe a obscuridade!
Hoje nos introduzimos no milagre da Vida que vence a morte. Lázaro, que, junto com suas duas irmãs, era amigo querido de Jesus, vai morrer. Nele se dará a manifestação do poder da Vida que triunfa diante da morte, da Palavra que realiza aquilo que pronuncia.
Penetramos assim na simbologia da água, da Luz e da Vida. Três signos fundamentais do Batismo.
A água onde somos submergidos e ressurgimos para a Vida de Deus. Renascimento da água e do Espírito Santo!
A luz que representa Cristo, como luz do mundo, e nos convida a caminhar a partir desse momento na luz. Como disse Paulo, deixar as trevas porque somos Filhos da Luz. A Vida que vence a morte: a vida de Cristo Ressuscitado!
Todos nós fomos iluminados no Batismo e convidados a ver a realidade como ele a vê. Jesus nos oferece a verdadeira luz da nossa vida, caminhar na luz, ter vida em abundância.
Dom inestimável do Batismo, que sejamos sempre portadores da Luz de Cristo, da sua vida! Nele cada um de nós se pode se ver refletido.
Neste domingo a narrativa do capítulo 11 do Evangelho de João apresenta-nos o vencimento da vida diante da morte. É um texto extenso, mas carregado de sentido. Jesus realiza um milagre: seu amigo Lázaro, que estava doente, morre e Jesus oferece-lhe de novo a vida.
Um sinal da Vida que vence a morte, prenúncio da sua ressurreição. Como consequência deste fato, os judeus e os fariseus, que ao longo de todo o Evangelho desejam matar Jesus, decidem sua morte. É o último sinal de Jesus, prenúncio de sua morte. O episódio de Lázaro termina com a menção da Páscoa, de morte de Jesus no final do capítulo (11,55).
No início do texto lemos que: “Um tal de Lázaro tinha caído de cama. Ele era natural de Betânia, o povoado de Maria e de sua irmã Marta.” Mais adiante dirá que Jesus amava Marta, a irmã dela e Lázaro (11,5). Eles representam também a humanidade, cada um e cada uma de nós. O Amor de Deus é incondicional e cheio de misericórdia.
Ao longo do texto nos identificamos com cada um dos personagens que aparecem. Os discípulos tentam dissuadir Jesus do seu retorno à Judeia, porque “há pouco os judeus queriam te apedrejar, e vais de novo para lá?”.
Vemos as atitudes dos judeus que foram à casa de Maria e Marta para “as consolar por causa do seu irmão”. Lázaro tinha morrido. Vemos os diferentes procedimentos de Marta e Maria com Jesus. O Evangelho nos diz que “quando Marta ouviu que Jesus estava chegando, foi ao encontro dele. Maria, porém, ficou sentada em casa”.
Marta sai à procura de Jesus e o encontra no caminho. No diálogo estabelecido, Marta fez uma manifestação de sua fé em Jesus, que disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e acredita em mim, não morrerá para sempre.”
Marta acredita em Jesus e o reconhece como a Ressurreição e a vida! A confissão de fé de Marta corresponde à dos primeiros cristãos. Alguns biblistas reconhecem nela a comunidade joanina que se expressa.
“Dito isso – continua o relato evangélico -, Marta foi chamar sua irmã Maria.” Falou com ela em voz baixa: “O Mestre está aí, e está chamando você”. “Quando Maria ouviu isso, levantou-se depressa e foi ao encontro de Jesus.” Ela o encontra no mesmo lugar onde Marta o havia encontrado.”
Maria estava “sentada em casa”, como deve fazer uma mulher que está de luto. Agora ela responde ao chamado de Jesus e vai ao seu encontro junto com os judeus que estavam na sua casa e a procuravam consolar. “Quando Jesus viu que Maria e os judeus que iam com ela estavam chorando se conturba e fica comovido”. Quando acompanha o grupo até o túmulo, Jesus começa a chorar e suas lágrimas fazem reconhecer aos outros seu amor por Lázaro e nele por cada um de nós.
As atitudes de Jesus expressam de forma muito natural seu amor, seu desejo de vida, sua dor diante da morte. Ele sofre ao ver-nos na obscuridade, fechados em nós mesmos, num mundo sem vida, atados como Lázaro pelas trevas interiores, atitudes que só conduzem à morte!
Uma pedra fecha a entrada de nossos túmulos! Diante da morte que nos oprime e escraviza, Jesus reage. Num primeiro momento, pede que seja retirada a pedra do túmulo para logo “gritar bem forte: Lázaro, vem para fora!”.
Lázaro, sai da morte, sai dessa obscuridade sem sentido, que só vos escraviza, e conhece a luz da vida verdadeira!
Podemos perguntar-nos qual é a pedra que nos impede de sair, que é preciso tirar e assim sair da sepultura que aprisiona nossas energias e nos escraviza. Ressentimentos, agressividades acumuladas, inveja, ciúmes, e tantas outras coisas que só nos fecham em nós mesmos, transformando-nos como “mortos que caminham”. Cegos sem rumo, sem destino nem orientação, perdidos e entregues ao imediato?
Hoje Jesus dirige-se também a cada um de nós para chamar-nos à Vida, para tirar-nos da morte, desatar-nos das escravidões, e assim viver livres nele.
Preparando-nos para viver a Semana Santa junto com ele, somos convidados a sair do sepulcro e abraçar a Vida!