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O AMOR LANÇA FORA TODO O MEDO (1Jo 4,18)

Mensagem de Natal da Direção Nacional do CEBI:

Chegando no final do ano, celebramos o Natal e os desejos mais esperançosos de um outro ano cheio de novidades. Mas como sonhar e se animar para novos tempos se vivemos num ano a somar perdas de direitos? Um ano onde sangue derramado se somando a sangue derramado nas periferias, nas prisões, nas ruas, no campo e deliberadamente nos projetos das milícias da bala, de bois e latifundiários a cercar e roubar terras indígenas.

Um ano marcado pelo aumento de violências, estupros, feminicídios, enquanto a ministra de Direitos Humanos
com projeto de construção de fábrica de calcinhas. Ah! Como jogaram no lixo os direitos humanos e como desvirtuam e manipulam as leis e os direitos. Um ano marcado pela corrupção vestida de toga e os corruptos a reclamarem do “miserê” que se encontram seus salários básicos e suas vidas sociais com cortes. Um ano político entre o besteirol que sai da boca dos que estão no palácio do governo e as canetadas a assinar medidas provisórias, cortes e decretos.

Um ano de muitas perdas e danos para a educação, a saúde, a vida do trabalhador, das mulheres e dos pobres.
Em meio a estas situações de perdas e violências institucionalizadas, é fundamental buscar forças na proposta do Evangelho do Reino proclamada por Jesus e que circulou na memória das comunidades. Muitas características e dimensões são descobertas numa leitura atenta dos Evangelhos. Destacamos para celebrar a natividade de Jesus na luta por direitos e vida, três caminhos:

  1. O caminho da justiça do Reino: a ação de Jesus narrada nos Evangelhos junto com os camponeses, pescadores, mulheres, doentes, pobres e marginalizados promove a luta por igualdade e para garantia da sociedade do bem-viver onde tem lugar e vida para todos. A justiça do Reino apresentada nas boas novas de Jesus não se adequa aos projetos e propósitos dos poderosos e dominadores. No tempo de Jesus, o povo (os pobres, famintos, aflitos e perseguidos) sofria a violência das leis, dos interesses do império e da elite política, econômica e religiosa. Um povo destituído de todos os direitos para garantir a vida. O evangelho do Reino apresentado por Jesus, profeta e sábio andarilho da Galileia, incomodou ao apresentar o projeto do Reino para os pobres, a saciedade aos famintos, o consolo para os aflitos e a resistência diante da perseguição.
  2. O caminho da solidariedade entre os pobres e a comensalidade aberta: O projeto de justiça e igualdade de Jesus para os pobres tem como princípio a construção de novas relações econômicas ao redor da mesa. A partilha do pão é o caminho de combate à fome e à desigualdade social. Ninguém com fome quando todos comem! Ninguém com fome quando todos estão ao redor da mesa. A narrativa dos pães (Mc 6 e Jo 6) apresenta-nos a proposta do “pão em todas as mesas” e a dimensão da solidariedade como modelo de uma outra economia possível. Solidariedade e partilha não se assentam em projetos de exploração e lucro.
  3. O caminho da profecia e da sabedoria ambulante a ensinar os pobres a constituição de uma sociedade justa, onde a terra é de todos e o pão é para todos. Fundamental foi o ensino de Jesus a partir das questões do cotidiano que através das parábolas e pequenos ditos fazem-nos pensar. Este ensinou com autoridade, incomodou os poderosos de então, pois produziu uma outra leitura da vida e da realidade; outra leitura das tradições e da lei e, principalmente, outra leitura da religião (inserida na vida do povo e não mercadoria nos interesses de quem manda).

Estes caminhos trouxeram para as comunidades cristãs muitos enfrentamentos e muitas perseguições. No final do primeiro século, encontramos as experiências das comunidades joaninas no enfrentamento às perseguições e opressões e na busca de viver o Evangelho e ser profundamente uma comunidade-serviço e lugar do perdão, do amor e da festa. A Primeira Carta da Comunidade Joanina apresenta os problemas e concretamente os medos que estavam presentes na vida de todas e todos. Mas apostou na prática do amor e da permanência no amor, porque Deus é amor e o “o amor lança fora todo medo” (1Jo4,18).

Queremos que cada um e cada uma em sua comunidade reflitam sobre os medos, incertezas, descréditos que foram produzidos nos últimos tempos em nossa sociedade e busquem a partir de sua comunidade viver o amor que é capaz de lançar fora todos os medos.

Feliz Natal sem medo de ser feliz!
Feliz Natal com o amor na Comunidade e no Evangelho de Jesus de Nazaré.

Direção Nacional do CEBI
Rafael Rodrigues da Silva
Lucia Dal Pont
Maria de Fátima Castelan

Ilustração de capa: Marcello Corti – African American Angel and Baby in 2019

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