Fazendo ecoar o dia da pessoa em situação de rua, partilhamos um sub-capítulo do PNV 410 “Pessoas em situação de rua e a leitura popular da Bíblia”. Adquira: https://cebi.org.br/produto/pessoas-em-situacao-de-rua-e-a-leitura-popular-da-biblia/
Compartilhamos agora um brevíssimo resumo da presença dos pobres na Bíblia, que convido cada um a enriquecer com a própria pesquisa, pois não se entende as Escrituras sem esse olhar.
Visão geral
No mundo antigo, havia muita gente na base da pirâmide social, trabalhando para sustentar a si e enriquecer alguns poucos, como o rei, sua corte, generais e altos sacerdotes.
As teologias ligadas à elite dominante apresentavam a pobreza como algo natural. Vemos isso no Egito, em Canaã e na região mesopotâmica. Talvez só a teologia do Êxodo destoe dessa visão, com a exigência de se viver a Aliança com Deus em uma sociedade igualitária. Nos demais lugares, o máximo que o pobre podia esperar era que o rico não tirasse vantagem de sua condição.
Na Mesopotâmia, temos o Código de Hamurabi, um dos mais anti- gos compêndios encontrados pela arqueologia contendo normas de conduta social (escrito aproximadamente em 1700 aEC): “A justiça deve prevalecer na terra, para destruir o mal e o perverso, para que o forte não oprima o fraco.” (ANET 164).
No Egito, a instrução de Merikare vai advertir o rei para não sele- cionar alguém para um cargo sendo parcial contra o pobre (ANET 415). Já Amenemope afirma que o rico não deve ser ganancioso pela propriedade de quem é pobre, devendo perdoar 2/3 de sua dívida (ANET 423).
Na Acádia, aconselha-se ao rico dar esmola ao pobre (ANET 426).
Esse pensamento parece ter sido comum no Oriente Antigo, influen- ciando inclusive a legislação bíblica. Mas, séculos depois, com as invasões de Alexandre, o Grande, pelos anos 330 aEC, essa visão vai sendo dei- xada de lado, já que a lógica opressora dos gregos, e posteriormente dos romanos, demonstrava pouca humanidade para com os pobres. Os deuses greco-romanos não davam aos necessitados nenhuma proteção especial, como ocorria no Oriente Antigo. Sendo assim, as políticas públicas eram as mínimas, mais por motivação política (manter as massas dominadas, com “pão e circo”) que por exigência ética ou religiosa. Ao pobre res- tava vender a si e sua família como escravos. Isso explica porque mais da metade da população do império romano era escravizada. É o difícil con- texto que Jesus e as primeiras comunidades cristãs vão enfrentar.
Sentido bíblico do pobre
Os termos que se referem ao pobre e oprimido aparecem apro- ximadamente 500 vezes na Bíblia, como indigente, fraco, encurvado, injustiçado, perseguido. É o empobrecido, fruto de um processo sistemá- tico de espoliação.
► Ani – 80 vezes, principalmente nos Salmos = encurvado, subjugado.
► Êbyôn – 61 vezes, sobretudo nos Profetas = mendigo, carente de bens.
► Dal – 48 vezes, particularmente em Provérbios e Jó = fraco, débil.
► Anaw – 25 vezes, quase sempre no plural = resto obediente e fiel a Deus.
► Nagash – 20 vezes = oprimir, pressionar, explorar (2Rs 23,35).
► Anah – 80 vezes = oprimir, dobrar, forçar (Dt 26,6; Is 58,3; 2Sm 13,13).
► Lahas – 24 vezes = oprimir, acossar (Ex 3,9; Jz 10,12; Am 6,14).
► Ashaq – 60 vezes = oprimir, extorquir, pobreza, injustiça, violên- cia (Ez 18,18; Pr 28,3; Jr 22,3).
► Daká – 25 vezes = quebrantar, triturar (Is 53,10; 57,15).
► Tok – 4 vezes = opressão, tirania (Pr 29,13; Sl 55,12).
► Dak – 6 vezes = oprimir, vexar (Sl 74,21).
► Yanah – 20 vezes = oprimir, dominar, explorar, despojar (Lv 25,13; Ez 22,7).
► Rasas – 19 vezes = pisar, esmagar (Is 36,6; Jó 20,19).
► Ptochós – 28 vezes = mendicante.
Essa infinidade de palavras e situações nos mostram que os pobres e oprimidos estão no coração das Escrituras.
Autora: Regina Nagy



