MATEUS 3,1-12
Esse texto apresenta em síntese uma pequena descrição da missão de João Batista apresentado por Mateus. É muito importante para compreender a missão de João e de JESUS e é carregada de teologia no “Deserto da Judeia”. O deserto possui um profundo significado teológico porque é o lugar de encontro com Deus e a presença de João no deserto é um convite para Israel romper as estruturas vigentes de injustiças e opressão e retornar as suas origens e voltar a ser um povo livre.
Além disso, o deserto é uma contraposição ao aparato religioso institucional do Templo de Jerusalém que já não favorecia mais a relação com Deus porque tinha se transformado em casa de comércio e afastava Deus da vida do povo. A pregação de João no deserto consiste num convite a conversão e anunciar a proximidade do Reino de Deus que é o mesmo conteúdo da pregação de Jesus e isso é recordado pelos profetas nas suas pregações e na meneira como se apresentava ao povo. O convite a conversão é feita porque não era possivel reconhecer o Reino de Deus pensando do mesmo jeito, nem muito menos acolhe-lo por isso uma mudança de mentalidade e de pensamento era preciso.
O Reino dos Céus é o próprio Jesus, ele vai confirmar isso no seu ministério, mas suas pregações e quem esperava a restauração da dinastia davídica não poderia aceitar o reino inaugurado por Jesus sem passar por uma mudança radical de pensamento. A descrição de João Batista feita pelo evangelista serve como credencial para ter sua missão profética reconhecida porque o vestuario e a dieta que são apresentadas por João revelam seu estilo de vida que era típica dos profetas e era uma prova de que o verdadeiro profeta é aquele que anunciava com palavras, ações e principalmente com o testemunho de vida. Isso porque o espaço da religião institucionalizada que era controlada pelos sacerdotes não atendiam mais as pessoas e tinha se tornado excludente e por isso Jesus vai dizer que era uma religião que se tinha tornado estéril, Jerusalém tinha se tornado uma terra de escravidão.
A religião institucionalizada era sinal de exploração e abuso de poder que era feito em nome de Deus e que Jesus veio libertar, pois de todas as formas de exploração, a pior de todas era aquela feita em nome de Deus e as pessoas que procuravam João se libertavam daquela estrutura, confessavam os seus pecados e eram batizadas por ele no Jordão. Ao ser batizada era o mesmo que receber o convite a fazer um novo Êxodo, ou seja, uma nova libertação e só poderiam participar desse novo Êxodo quem passasse dessa mentalidade antiga para uma nova. O evangelista afirma que as autoridades que iam ao Deserto encontrar João (fariseus, saduceus…) não buscavam esse novo Êxodo porque estavam satisfeitos com a situação vigente, concordavam com as injustiças e a violência praticada, pois faziam parte do sistema opressor romano de dominação.
Por isso que o profeta é muito duro com essas pessoas e suas palavras tem a função de desmascará-los o mesmo que Jesus vai fazer no seu ministério. João os chamam de “raça de cobras venenosas”, que é uma afirmação dura que os denunciava publicamente, pois além de não se converterem, essa gente era obstáculos para a conversão de outras pessoas. Muitos fariseus e saduceus vinham ao encontro de João não para serem batizados, mas para observar o que estava acontecendo porque sabiam que a chegada do Reino dos Céus seria o fim do reino deles e se sintiam incomodados pela pregação do Batista, pois eram marcados pela hipocrisia, mentira e violência institucionalizada.
Sabendo disso João deixa claro para eles que é preciso produzir frutos que promova a conversão, essa é uma afirmação que estava sempre na boca dos profetas ao longo da história de Israel visando superar a hipocrisia religiosa. E como acontece ainda hoje, nesse tempo se confundia conversão com devoção e por isso os profetas faziam essas advertências e isso é uma coisa muito atual em nossa igreja institucionalizada, principalmente porque as mídias influenciam muita gente e estão cheias de falsos profetas mídiáticos que continuam sobrepondo o devocionismo ao culto em Espírito e em verdade. Há uma advertência de João Batista que está surgindo um novo jeito de se relaçionar com Deus.
O profeta mostra que não é suficiente receber sacramantos se a vida das pessoas não produzirem frutos de conversão, ou seja, a prática da justiça. A justiça na Bíblia significa acima de tudo a opção pelos menos favorecidos e compromisso concreto a favor deles. João fala que administra apenas um sinal: o batismo com água e por isso que ele aponta o batismo no Espírito Santo que é difinitivo, e o cumprimento da profecia é a condição para que o povo de Israel volte a condição de povo de Deus o que vale para nós hoje. Somos todos nesse segundo domingo do Advento e nos demais convidados para rever as nossas práticas religiosas e tomar uma decisão. Abraçar a religião profética como fez João Barista e Jesus abandonando as práticas das estruturas antigas e nos renovar para que possamos receber Jesus que vem.


