Domingo de Cristo Rei do Universo Lucas 23,35-43
Osiel Assunção – Piauí
Para nós, que vivemos numa república e não temos rei há mais de 130 anos, entender o papel de um monarca é algo meio distante, quase coisa de filme. Até mesmo a Monarquia Britânica, que é famosa, às vezes confunde nossa cabeça com essa mistura de poder simbólico e influência política.
Essa dificuldade acaba nos atrapalhando quando buscamos entender a festa de “Cristo Rei do Universo”. Se já é difícil imaginar um rei moderno, fica ainda mais complicado entender o tipo único de realeza de Cristo.
A confusão aumenta quando olhamos para o Evangelho de hoje. A primeira vista, parece o contrário de tudo o que imaginamos sobre um rei: Cristo está pregado na cruz, condenado à morte. Não tem coroa de ouro, mas de espinhos; não tem um trono luxuoso, mas o madeiro da cruz. Que rei é esse?
A pergunta inevitável é: se ser rei tem a ver com poder e glória, que tipo de Rei é esse que reina pendurado numa cruz? A resposta não está na política, mas na revolução espiritual que Ele trouxe.
O Evangelho de Lucas não complica, ele explica. Ele não mostra um rei que fracassou, mas um Rei que escolheu reinar de um jeito totalmente diferente do que a gente espera. A grande sacada é essa: a Cruz é o verdadeiro trono onde Jesus mostra quem Ele é.
Quem zombava dele — os chefes, os soldados e até um dos condenados — achava que um rei de verdade teria que usar a força para salvar a si mesmo. Eles queriam um Messias político, que descesse dali para humilhar os inimigos. Mas Jesus não se salva porque o plano d’Ele não é salvar o próprio corpo, é salvar a humanidade através da sua entrega total. Ele prova que é Rei justamente por ficar ali, mostrando que o Reino d’Ele não se mede pela força física.
Enquanto reis humanos mostram poder através de conquistas e luxo, Jesus inverte a lógica: a realeza d’Ele é amar, servir e se doar. Ele está na cruz não porque não teve força para fugir, mas porque escolheu amar e ter misericórdia até o fim. Ele transformou um símbolo de vergonha (a cruz) no caminho da Salvação. Reinar, para Cristo, é servir.
A maior prova desse reinado não veio dos discípulos, mas de um marginal: o “bom ladrão”. No meio de tanta dor, ele foi o único que enxergou além da aparência de derrota. Ele admitiu o seu erro, reconheceu a inocência de Jesus e pediu com fé: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reinado”.
A resposta de Jesus foi a verdadeira coroação: “Ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.
Jesus firma sua realeza na cruz porque é ali que Ele usa seu maior poder: o poder de perdoar, acolher e dar o Céu a um pecador no último segundo, de graça.
Que Rei é esse? É o Rei da Misericórdia. O trono dele é a cruz e o poder dele é garantir a vida eterna para quem o reconhece, mesmo nas horas de maior sofrimento.


