A fé que nos une no compromisso com a Vida

Irmão Marcelo Barros

Nessa primeira semana de junho, no Brasil, as comunidades ligadas ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) celebram a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. De fato, assim, retomamos a experiência que, conforme o livro dos Atos dos Apóstolos, a primeira comunidade cristã viveu nos dias entre a ascensão de Jesus e a festa de Pentecostes, que celebra a renovação da aliança de Deus com o seu povo. A comunidade permaneceu unida em oração. E no dia de Pentecostes, o Espírito Divino veio sobre os discípulos e discípulas e possibilitou que a numerosa assembleia, ali reunida, vinda de diversas nações e culturas diferentes, pudesse compreender, cada pessoa em sua própria língua e cultura, o que os apóstolos falavam no dialeto aramaico (At 2, 1- 12).

Desde o final do século XIX, por iniciativa de um grupo da Igreja Episcopal Anglicana e acolhida na prática católica, pelo Papa Leão XIII, a chamada “novena de Pentecostes” tomou como intenção fundamental a oração pela unidade das Igrejas. Em 1926, nos ambientes evangélicos, a Comissão Fé e Ordem oficializou a celebração da Semana da Unidade, em janeiro para o hemisfério norte e nos dias anteriores à festa de Pentecostes no hemisfério sul. Atualmente, em nosso país, essa iniciativa é promovida e coordenada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC).

Cada ano, mundialmente, é preparado um subsídio por algum grupo ecumênico e sempre tem um tema próprio para aquele ano. Em 2025, ligado às comemorações do aniversário de 1700 anos do Concílio de Niceia, o tema dessa Semana da Unidade é a pergunta que, conforme o evangelho de João, Jesus fez a Marta, quando visitava o túmulo de Lázaro e declarou “Eu sou a ressurreição e a vida”. Ele perguntou: – “Crês nisso?”.

De fato, cristãos e cristãs de todas as Igrejas são chamados a renovar a sua fé no Cristo como restaurador da Vida e fonte de vida nova para a humanidade e para todo o universo. Na América Latina, buscamos reinterpretar o Concílio de Niceia a partir da tarefa de desocidentalizar a Igreja e expressar nossa fé de modo decolonial e a partir do Sul do mundo e não da cultura greco-romana e do Cristianismo imperial que se formava na época.

No mundo atual, ferido pelo  desamor e pela violência, testemunha de tantas guerras e do genocídio que o Estado de Israel comete diariamente contra o povo palestino, é urgente que as Igrejas cristãs se unam no testemunho de que Deus é Amor e a vocação humana é a paz e a aliança de vida.

São diversas as iniciativas propostas para essa semana, seja a de que comunidades, paróquias e grupos de Igrejas diferentes possam se reunir para orar e dialogar sobre a unidade cristã, seja que, mesmo no cotidiano de cada Igreja e paróquia, se inclua a oração pela unidade e se sinalize a importância da abertura ao diálogo ecumênico. Na Igreja Católica, nas celebrações da 7ª semana da Páscoa, durante ao menos três dias, toma-se como evangelho a oração de Jesus pela unidade (João 17).

A Semana da Unidade não pode ser algo isolado do resto do ano e da prática cotidiana das Igrejas. Assim como a comissão encarregada do ecumenismo nas dioceses não é feita para dar à diocese a sensação de que cumpre a sua obrigação em ter uma comissão encarregada desse assunto e assim, se desobriga em se empenhar nesse caminho. A oração pela unidade tem seu conteúdo e como toda linguagem tem seu idioma sem o qual ela não pode se expressar. E esse idioma é a fé cristã (por isso a pergunta  Crês nisso?) e a convicção de que, como expressou em uma de suas primeiras manifestações o papa Leão XIV, a busca da Unidade entre as Igrejas é prioridade e tarefa essencial dos pastores e de todas as comunidades cristãs. Essa unidade, construída a partir do serviço à humanidade visa a irmandade de todos os seres humanos no cuidado com a vida e com a Mãe-Terra (Cf. Papa Francisco – encíclica Fratelli Tutti).

Por isso, a Semana da Unidade e suas iniciativas não podem ser vividas como quem despacha alguma obrigação legal sem vinculação profunda com o compromisso cotidiano da comunidade e de seus ministros. A oração não é apenas a fórmula de reza que se usa. É mais. É o próprio idioma do diálogo e do desejo de unidade que deve mobilizar as comunidades e seus ministros durante todo tempo.

Por isso, é costume importante que além de orar e de dialogar pela unidade, em cada momento de encontro nessa semana, as comunidades realizem uma coleta econômica através da qual todas as pessoas envolvidas colaborem com os custos dos encontros e atividades ecumênicas em sua região e em todo o Brasil.

Essa ânsia pela unidade que o Espírito de Deus inspira em cada Igreja em relação às outras comunidades cristãs não tem limites de abertura. Envolve no mesmo desejo de comunhão as outras religiões e caminhos espirituais no Pluralismo cultural e religioso.

Como canta o refrão da Missa de Pentecostes na liturgia latina, inspirado no livro da Sabedoria, livro deuterocanônico, escrito em grego e que é o último dos escritos do primeiro Testamento:

“O Espírito do Senhor,
o universo todo encheu,
tudo abarca em seu saber,
tudo enlaça em seu amor,
aleluia, aleluia, aleluia, aleluia” (Sb. 1, 7).

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