Evangelho de Jo 20,19-23
Domingo de Pentecostes
Amélia Hakme Romano, CEBI-MS
Lendo o texto de João sugerido para nossa reflexão neste domingo de Pentecostes, as memórias de minha infância florescem forte. Uma delas é de minha mãe nos chamando (“venham crianças para a cozinha”) e ia colocando lenha no fogão para aquecer nossos corpos gelados nos dias mais frios. Aos poucos as labaredas crepitavam, cresciam e nos encantavam, a cozinha ia ficando quentinha e aconchegante. Ao redor da mesa enquanto a sopa nos alimentava, eram recontadas ou mesmo criadas muitas histórias. Uma delas era o fogo que Jesus enviou aos seus amigos para aquecê-los e dar coragem para sair do esconderijo e ir anunciá-lo. E assim, nossos pais nos ensinavam a enfrentar a pobreza, o frio e tudo que viesse a nos dar medo.
As leituras do lecionário comum, nos apresenta duas versões de Pentecostes. Na primeira (At 2,1-21) o Espírito Santo desce como línguas de fogo. Na segunda (Jo 20, 19-23) Jesus sopra sobre suas discípulas e discípulos a brisa suave, a Ruah.
No evangelho sugerido para nossa reflexão sobre o domingo de Pentecostes, alguns pontos tocam forte meu corpo como um todo de um jeito mais especial: Neste capítulo 20,19-23 lemos que as portas da casa estão fechadas, porque os amigos e amigas de Jesus estão com muito medo, Jesus chega, coloca-se no meio deles e diz: Paz seja convosco! Em seguida mostra-lhes as mãos e o lado e saúda-os mais uma vez com a paz! A alegria brilha em seus olhos! Jesus acrescenta: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio”. Envia-os para a missão, é necessário abrir as portas, levar a paz, vencer os medos, se colocar no caminho. Sopra sobre elas e eles e diz: “Recebam o Espírito Santo”.
No livro de Atos 2,1-21 nos fala que estavam reunidos e reunidas no mesmo lugar, várias pessoas, quando vem do céu um barulho como vento forte e enche a casa, viram línguas repartidas como labaredas de fogo, as quais pousaram sobre cada pessoa. Todas as pessoas ficaram cheias do Espírito Santo e começam a falar cada uma em sua língua e todas se entendiam. Estavam num mesmo lugar pessoas de diversas línguas e culturas e que todas elas eram respeitadas, as pessoas se entendiam, cada uma com o seu jeito de ser. Liberdade para falar, anunciar e ouvir.
Ficaram tão encantadas que alguns pensavam que estavam embriagados. Com certeza estavam, pois o fogo do amor as embriagou e aqueceu seus corações, despertando a consciência para as exclusões da religião, da política, das raças e da sociedade. Ao contrário da torre de Babel, onde ninguém se entendia, aqui reinava a diversidade e todas eram compreendidas.
Vamos nos deixar embriagar pelo fogo do amor, vamos fazer acontecer o sonho querido por Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”.
O profeta Isaías 55,10-11 diz: “Assim como desce a chuva e a neve dos céus, a para lá não torna, mas rega a terra, e a faz produzir, brotar e dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: Ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo, e prosperará naquilo para que a enviei”
Levemos a palavra do Cristo ressuscitado a todas as terras e nações, que Ela se torne semente fecunda em todos os tipos de solo.
“Sonho que se sonha só pode ser pura ilusão, mas sonho que se sonha junto é sinal de solução. Então vamos sonhar companheiras e companheiros, sonhar ligeiro, sonhar em mutirão” (Zé Vicente de Crateús)
Sonhamos com jovens profetizando, com pessoas de consciência política, consciência de classe, de raça e cor. As denúncias das injustiças do mundo e o anuncio das maravilhas do Reino estarão nas bocas das pessoas idosas. Juntas e juntos teremos a capacidade de imaginar, esperançar e lutar por uma sociedade melhor e mais justa.
Gritar o nome do Senhor não é somente falar seu nome. É clamar, invocar é trazer presente, fazer presente os sonhos, ações e as vontades do Senhor que levam à construção do Reino. Precisamos levar e viver a paz tão sonhada e querida. Respeitar as diversidades, colocar mais lenha na fogueira e fazer crepitar as chamas no coração, no meu ser todinho. Assim, conseguiremos ousar e vencer os medos, abrir as portas, brilhar na escuridão. Amar …
“Vinde Espírito de Deus
E enchei os corações, dos fiéis com vossos dons
Acendei neles o amor, como fogo abrasador
Vos pedimos ó Senhor.
E cantaremos, aleluia
E a nossa terra renovada ficará
Se o vosso Espírito Senhor, nos enviais
Assim seja!”
