Texto de Izaías Torquato – reverendo da Paróquia Anglicana São Felipe, para o 5º domingo da Páscoa, lido por Bella Ribeiro, da comunidade Refugo, em Goiânia-GO
Texto bíblico segundo João 13,31–35: “Quando Judas Iscariotes saiu, Jesus disse: Agora o Filho do Homem foi glorificado, e. também, Deus foi glorificado nele. Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. Filhinhos: vou ficar com vocês só mais um pouco. Vocês vão me procurar, e eu digo agora a vocês o que eu já disse aos judeus: para onde eu vou, vocês não podem ir. Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se mutuamente com sinceridade. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar. Se vocês tiverem amor, vocês reconhecerão que vocês me seguem com sincero compromisso”. (João 13:31–35)
Jesus, ao se despedir, não deixa regras, doutrinar elaboradas, nem dogmas baseados em contorcionismo teológico, mas um mandamento: “amar como ele amou”. Isso significa assumir um amor encarnado, corajoso, capaz de ajoelhar-se para lavar pés e de enfrentar o martírio sem negar a luta e o direito a justiça.
No método de leitura popular da Bíblia que buscamos vivenciar, feita com as pessoas empobrecidas e excluídas, esse amor se revela como prática: organizar a comunidade, partilhar o pão, denunciar a violência e resistir à opressão! É o amor que reconhece o rosto de Deus na mulher negra da favela, nas populações indígenas ameaçadas, na pessoa migrante que é alvo de xenofobia.
As práticas pastorais, as muitas formas de viver e praticar as teologias libertárias, nos lembram que não há discipulado sem compromisso com a vida. Jesus nos mostra que a simplicidade de Deus se revela não na força de homens e mulheres engodadas pelas ideias exploradoras de poder, mas na ternura que transforma o mundo a partir de quem está a margem, no final da fila ou de quem não é notada (Epistola de Tiago 2,1-9). Amar como Jesus amou é assumir o risco da solidariedade que incomoda, do cuidado que enfrenta sistemas, da esperança que não se rende.
Então, está no coração do mandamento de Jesus o desejo inspirador que nos amemos a partir de seu próprio exemplo. Segundo a narrativa de Atos, as primeiras comunidades vivenciam e testemunham que Deus derrama seu Espírito também sobre todas as pessoas, rompendo barreiras étnicas e religiosas. Essa inclusão concreta é fruto do amor que Jesus ensinou — um amor que se traduz em acolhida, escuta e transformação. O mandamento do amor, portanto, não é abstrato: ele exige a superação de toda exclusão, tanto nas relações pessoais quanto nas estruturas sociais e eclesiais.
Neste tempo da Páscoa, recebemos o convite para viver esse mandamento como revolução do cotidiano: transformar relações, curar feridas, lutar por justiça. É por esse amor encarnado que o mundo reconhecerá que somos, de fato, discípulas e discípulos de Jesus, Deus presente, ressuscitado em nós.


