Nossa Senhora de Aparecida é um forte símbolo da religiosidade popular brasileira. Mesmo que pessoas poderosas queiram perverter a mensagem do Evangelho, o verdadeiro sentido está sempre no íntimo do povo.
As devoções a Nossa Senhora são diversas. Cabe às pessoas fiéis perguntarem-se se a mensagem da devoção é coerente com a mãe de Jesus apresentada nas Escrituras.
A oração de Maria na Bíblia dá graças a um Deus que derruba os poderosos, expulsa os ricos e exalta as humildes (Lucas 1:46-55). A história da devoção à Aparecida começa com a visita do Conde de Assumar. Para promover uma grande festa, as elites locais mandaram que os pobres fossem pescar, mesmo que não fosse época de peixe.
Apesar do medo de retornar de mãos vazias, já consideravam desistir e enfrentar os castigos que os patrões iriam lhes impor, quando três pescadores puxaram das águas a imagem quebrada de uma santa negra. A partir daí, peixes surgiam em abundância no rio, de modo que as redes mal podiam ser retiradas da água.
Gentes pobres e escravizadas passaram a se reunir em torno daquela imagem da Mãe de Jesus que se apresentava com a cor das pessoas que a Igreja oficial dizia não terem alma. Acolhida pelas excluídas, a Mãe Negra e vinda das águas doces foi certamente chamada também como Oxum, por aquelas que padeciam sob o jugo da escravidão.
A devoção se intensificou em 1790. Um homem negro e escravizado de nome Zacarias tentava fugir do seu patrão quando foi capturado. Acorrentado no pescoço, nos pés e nas mãos, era levado de volta para a fazenda quando pediu para fazer uma oração a Santa. Contam que quando o homem começou a orar, um grande barulho foi ouvido, as correntes se arrebentaram e caíram no chão. Tomado de pavor, o patrão de Zacarias lhe concedeu a alforria.
Reconhecemos na memória popular em torno da Padroeira do Brasil os traços daquela jovem de Nazaré que glorificava a um Deus que expulsava os soberbos e exaltava as pobres e humildes.
Que neste dia, reunidas enquanto pessoas brasileiras em torno desta imagem de inclusão, possamos refletir sobre o desejo de liberdade, partilha e justiça cantado pela Santa Mãe de Jesus.
“Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor,
E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador;
Porque atentou na baixeza de sua serva; Pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada,
Porque me fez grandes coisas o Poderoso; E santo é seu nome.
E a sua misericórdia é de geração em geração.
Com o seu braço agiu valorosamente; Dissipou os soberbos.
Depôs dos tronos os poderosos, E elevou os humildes.
Encheu de bens os famintos, E despediu vazios os ricos.
Auxiliou o seu povo, Recordando-se da sua misericórdia;
Como falou a nossos pais, Para com Abraão e a sua posteridade, para sempre.”
Lucas 1:46-55
Autor: Ruan Isnardi