O texto do Evangelho que trata dos “vinhateiros homicidas” está nos três evangelhos sinóticos. É uma mensagem, portanto, considerada importante pela maioria dos evangelistas. Uma mensagem repleta de símbolos, significados e mensagens. Difícil até escolher apenas uma das múltiplas facetas do texto para nos aprofundarmos.
O texto, uma referência clara e nítida à alegoria ao capítulo 5 do livro do profeta Isaías, nos apresenta todo um desenho imaginário: um proprietário, uma vinha, um lagar e uma torre. Além disso, um grupo de vinhateiros para quem o dono da vinha havia arrendado suas terras antes de sair para viajar.
Como era de se esperar, no tempo apropriado da colheita, o senhor daquelas terras envia seus servos para receberem os frutos colhidos. Todos eles são espancados, apedrejados e mortos. Até que, por fim, o proprietário envia seu próprio filho, imaginando que este seria respeitado. Pois é justamente o contrário que acontece: os vinhateiros matam o filho, fora da vinha, e tentam tomar posse de sua herança.
Jesus então traz à mente dos ouvintes a verdade de que Ele era o Filho enviado, a “pedra rejeitada pelos construtores”, pedra esta que, agora, esmagaria em pedaços aquele sobre quem ela caísse. E não deu outra: os chefes dos sacerdotes e os fariseus perceberam que era deles que Jesus falava. Eles eram os “vinhateiros homicidas” que mataram os profetas e todos os que denunciavam sua religião fraudulenta e agora estavam prestes a matar o próprio Filho de Deus, o dono da vinha.
A vinha sempre foi uma alusão a Israel. Todos eles sabiam disso. Era comum essa referência ao “Povo Escolhido”. O problema é quando os que deveriam cuidar da vinha pensaram que eram os donos da vinha. E começaram a impor suas ideias, suas crueldades, suas “técnicas de plantação”, suas “teolovinhas” como se aquilo fosse a própria obra do dono, como se eles fossem os proprietários da vinha, do lagar, da torre, de tudo aquilo que dissesse respeito ao que lhes foi dado como espaço de serviço e não como possessão.
O Reino de Deus não tem dono, a não ser o próprio Deus, que mesmo sendo Senhor ainda insiste em nos chamar de amigos. E a qualquer um que se colocar no lugar de dono, essa pedra angular lhe esmagará, será feito em migalhas e seu “poder” será conferido a “outro povo”. Nenhuma igreja, nenhuma denominação, nenhum “vinhateiro” pode se arvorar dono da vinha, dono do Reino. O reino é de todas as pessoas, para todas e acontece em todas.
Por fim, para desespero dos “donos da religião”, este Reino é entregue “a um povo que o fará produzir os seus frutos”. Os frutos do Reino são justiça e paz, amor e equidade, a benignidade e alegria. Se os religiosos não conseguem mais arar a terra de modo que esses frutos apareçam, é só observarmos onde eles estão brotando: na luta das minorias rejeitadas pela religião, nas religiões demonizadas pelos “donos da terra”, nas classes subestimadas e subalternizadas pela religião do poder.
É por isso que os donos da religião sempre reconhecem quando Jesus fala deles, mas esse reconhecimento nem sempre é de arrependimento. Muitas vezes é um reconhecimento carregado de ódio que gera mais violência: “procuravam prendê-lo”, dizem os evangelistas. Ainda é assim hoje, infelizmente. Os donos da fé, os empresários religiosos ainda matam profetas e aprisionam o Filho. E sabem do mal que estão fazendo.
Mas o Vento continua soprando livre, chamando para produzir frutos “um outro povo”, que enche de esperança a terra e faz com que os bons frutos dessa terra ainda cheguem a muitos de nós. Esses são benditos de Deus, que têm suas consciências leves e frescas, arejadas pelo eterno soprar do Espírito. O Reino de Deus está entre nós. Percebamos e nos juntemos, não aos “donos da vinha”, mas ao povo a quem Deus confiou produzir os bons frutos.
Amém!
Pr. Zé Barbosa Junior – pastor da Comunidade de Jesus – Campina Grande – PB