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A cura pelas mãos da fé – rezas e cantorias populares

Neste dia Nacional da Saúde, o CEBI traz uma proposta de círculo bíblico para pensar as experiências populares de cura através da fé. Escrito por Daniela Christine Aparecida da Silva, este texto fará parte do PNV “Coração Alegre Ajuda a Curar (Pv 17:22a)”.


  1. Preparação do ambiente 

Preparar um ambiente aconchegante, simples e com um leve aroma (pode ser de cânfora). O ambiente deverá ser enfeitado com ervas tidas, pela cultura popular, como curativas, além de uma colcha de retalhos, Bíblia, terços, crucifixo…

  1. Acolhida

Animador/a: Irmãs e irmãos, nossos encontros são como verdadeiro refazimento ou tempo para o necessário descanso na caminhada da vida. Esses caminhos, muitas vezes, são repletos de pedras, espinhos e outros obstáculos, nos quais não raras vezes nos machucamos… Então, acheguemo-nos para um momento de memórias e cura… Sejam bem-vindas e bem-vindos.

Faz-se um círculo: Cada participante irá para o meio e fechará os olhos. Os que estiverem de fora esfregarão uma mão na outra, com o intuito de gerar calor e aproximarão as mãos da pessoa que estiver no meio até chegar bem pertinho de sua cabeça, a ponto de que essa pessoa sinta o calor das mãos como uma onda de bem-querer.

(Enquanto isso, todos cantam a Glória de Deus, de Zé Vicente, ainda que somente o refrão, usar percussão, se possível – pode ser chocalho improvisado)

Olha a Glória de Deus brilhando, Aleluia! 

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nKhys_UFf7U

Animador/a: Neste dia, vamos nos colocar no colo de Deus como crianças, buscando conforto, calor, amor, paz e vida plena. Ao longo de nosso caminhar, como Povo de Deus, muitas vezes precisamos de pausas para mergulharmos nas fontes da vida. Lembraremos de mulheres e homens que, com fé, empregaram seus conhecimentos visando à cura daqueles que mais padeciam, em um tempo no qual não se contava com os avanços da medicina e da ciência. Parteiras, rezadeiras, benzedeiras e muita fé, traziam a vida em abundância… Descobriremos que a natureza, criada para cada Mulher e Homem, para que fosse dominada, na verdade, é Mãe e fonte de cura em verdadeira relação de fraternidade. 

  1. Palavra de Vida

Gênesis 1, 1-31

(Antes, canta-se Palavra do Meu Senhor, de Zé Vicente, ainda que só o refrão)

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=S7TOC2Yvnew

Leitor/a 1: No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia: as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: “Faça-se a luz!”. E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. (1, 1-4)

Leitor/a 2: Deus disse: “Faça-se um firmamento entre as águas, e separe ele umas das outras”. Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam debaixo do firmamento daquelas que estavam por cima. E assim fez. (1, 6-8a).

Leitor/a 3: Deus disse: “Que as águas que estão debaixo do céu se juntem num mesmo lugar, e apareça o elemento árido”. E assim se fez. (1, 9).

Leitor/a 4: Deus disse: “Produza a terra plantas, ervas que contenham semente e árvores frutíferas que deem fruto segundo a sua espécie e o fruto contenha a sua semente”.  E assim foi feito. A terra produziu plantas, ervas que contêm semente, segundo a sua espécie, e árvores que produzem frutos, segundo a sua espécie. Contendo o fruto a sua semente. E Deus viu que isso era bom. (1,11-12).

Leitor/a 5: Deus disse: “Façam-se luzeiros no firmamento do céu para separar o dia da noite. Que sirvam eles de sinais e marquem o tempo, os dias e os anos, e resplandeçam no firmamento do céu para iluminar a terra”. E assim fez. Deus fez os dois grandes luzeiros: o maior para presidir o dia e o menor para presidir a noite; e fez também as estrelas. (1, 14-17).

Leitor/a 6: Deus disse: “Pululem as águas de uma multidão se seres vivos, e voem aves sobre a terra, debaixo do firmamento do céu”. Deus criou os monstros marinhos e toda a multidão de seres vivos que enchem as águas, segundo a sua espécie, e todas as aves segundo a sua espécie. E Deus disse que isso era bom. E Deus os abençoou: “Frutificai – disse Ele – e multiplicai-vos, e enchei as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra”. (1, 20-22).

Leitor/a 7: Deus disse: “Produza a terra seres vivos segundo a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selvagens, segundo a sua espécie”. E assim se fez.  Deus fez os animais selvagens segundo a sua espécie, os animais domésticos igualmente, e da mesma forma todos os animais, que se arrastam sobre a terra. E Deus viu que isso era bom. (2, 24-25).

Leitor/a 8: Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra”. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: “Frutificai – disse ele – e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra”. Deus disse: “Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente para que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu, a tudo o que se arrasta sobre a terra, e em que haja sopro de vida, eu dou toda a erva verde por alimento”. E assim se fez. Deus contemplou toda a sua obra e viu que tudo era muito bom. (1, 26-31a).

  1. Partilhando a vida e a palavra

Animador/a: Em uma interpretação apressada do primeiro relato da criação, diríamos que Deus fez todas as coisas, considerou-as muito boas e as deu aos homens e mulheres para que as submetesse aos próprios caprichos. Certamente essa interpretação serviria como escusa àqueles que, em busca de riquezas, tratam a Mãe-terra de forma predatória, não importando que se esgote. Entretanto, uma leitura mais cuidadosa leva-nos, inevitavelmente, ao entendimento de que somos irmãos de todas as criaturas e que somos filhos da Terra, da qual depende nossa sobrevivência, de modo que o “submetei-a”, a bem da verdade, torna-se “cuidai dela”. 

Leitor/a 1: Essa interpretação, simples e complexa, diante do sistema de exploração no qual vivemos, é a interpretação capaz de salvar toda a humanidade de uma ruína que se anuncia. É óbvio que, desde muito tempo, algumas poucas pessoas, muitas vezes sem acesso à leitura, entenderam a relação de igualdade entre as criaturas, já que somos todos criaturas, e fizeram desse saber fonte de cura e cuidado para com milhares de pessoas que, diante de enfermidades, viam-se sem esperança. E estamos falando de mulheres e homens, que, com o uso do conhecimento acerca da função curativa de Terra, levavam a vida plena aos doloridos… 

Animador/a: Falemos de Zulmira da Conceição, ou “Mira Preta” ou “Nhá Mira”, como era carinhosamente conhecida. Era filha de João Claro da Silva e Guilhermina da Conceição, descendia de escravos pertencentes a Major Pereira, no Bairro das Areias, na cidade de Angatuba – SP. 

Seu pai, João Claro, era considerado o ‘homem mais carismático, místico do lugar’, sua casa vivia cheia de gente para as curas dos problemas de saúde. Nhá Mira não se casou e seus filhos foram as inúmeras crianças que, batizadas ou não, consideravam-na madrinha. Após ter vivido muitos anos na Fazenda das Areias, transitou pelos bairros rurais dos Mineiros e Leites, estabelecendo-se, finalmente, na cidade de Angatuba. Era no singelo espaço de seu casebre que Nhá Mira, herdeira do carisma paterno, indistintamente, confortava os necessitados, benzendo, orando, curando, aconselhando… Mulher simples, humilde, desprovida de bens materiais, mas riquíssima de valores e princípios cristãos. Por meio dos dons que Deus lhe deu, uma mulher incomum perpetuou com fé e esperança o mais sublime dos apostolados: o de ser benzedeira, curandeira. Nhá Mira faleceu na cidade de Angatuba, em 23 de junho de 1990, deixando a todos nós um legado de verdadeira caridade. 

Fonte: LISBOA, Maria Aparecida; PRADO, Bárbara Heliodora Soares do. Fazenda das areias e fazenda da conquista: história, memória e cultura. Campinas: Unicamp, 2019. 

Ilson, morador da Fazenda, disse, da Senhora Zulmira da Conceição: “Tinha uma mulher aqui na fazenda, a Mira ‘Preta’, que fazia de tudo, curava, benzia, rezava, era também parteira. A gente dizia que ela tinha mais de cem anos”.  

Leitor/a 1: Mira, mulher, negra, solteira no seio de uma sociedade patriarcal, sem posses, abraçou o ofício de cuidar das criaturas de maneira que seu gesto materno lhe rendeu uma multidão de filhos, ou afilhados, entre batizados e não batizados, entre filhos de coronéis e trabalhadores rurais, porque para ela o amor jamais encontrou qualquer diferenciação por cor, classe ou quaisquer outros tipos de divisões reinantes em nossa sociedade. Apenas amava e curava… Talvez muito mais que com ervas, curava com amor. “Nhá Mira” sabia cuidar das obras da criação…

Animador/a: Vamos conversar um pouco sobre os trechos extraídos do Livro do Gênesis e da História de “Nhá Mira”.

a) O que o texto extraído do Livro do Gênesis e a História de “Nhá Mira” dizem aos nossos corações?

b) Como podemos observar a resistência no cuidado com a vida em pessoas como “Nhá Mira”?

c) Diante da cultura do individualismo vigente em nossa sociedade, é possível afirmar que estamos cuidando da criação?

d) O que figuras como a de Nhá Mira nos ensinam atualmente?

e) Você já teve alguma experiência com rezadeiras, benzedeiras, parteiras?

(Espaço para partilha)

  1. Oração final

Amimador/a: Pai, Criador de todas as coisas, ensina-nos a enxergarmos as obras de Tuas Mãos como irmãs e irmãos e a delas cuidar para que sejamos também cuidados em uma eterna relação de fraternidade. Que encontremos na busca pelo bem de todos o verdadeiro sentido da vida em abundância, que se releva vida para todos. Que nossas mãos curem, nossas palavras soem como cantigas de ninar e nossos pés caminhem em direção ao próximo como os pés apressados de uma parteira, para fazer vir à luz cada vez mais vida. Afinal, somos todos irmãs e irmãos. 

  1. CANTO

Vidas pela Vida, de Zé Vicente. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GRG5HTOHSeA

(Durante o canto cada participante abençoa a outra, fazendo uso de um óleo perfumado (pode ser um hidratante).


Daniela Christine Aparecida da Silva. Católica e leiga, com atuação atual na Pastoral Litúrgica. Também já atuou na Pastoral da Criança e no teatro. Graduação em Direito, com trabalho de conclusão de curso sobre Educação e Liberdade de Expressão. Formação inicial promovida pelo CEBI na cidade de Angatuba e participação nos Estudos sobre o Livro de Salmos e a Carta de São Tiago. Atualmente prossegue os Estudos com o CEBI (on-line). 

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