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O toque erótico e herético que movimenta a vida, Apontamentos sobre saúde a partir de Mc 5,25-34

Paulo Ueti1

Introdução

Normalmente quando falamos de saúde, o que logo nos vem à mente, na verdade, são exemplos ou situações de doença. Falamos de hospital, curas, dores e sofrimentos. Parece que o ordenamento social em que vivemos, bem como os conceitos construídos em torno da palavra “saúde” nos fizeram acreditar que uma pessoa “saudável” é aquela que não tem doença ou não está doente.

Conectada a isso temos ainda a associação direta de doença com terapias, remédios, farmácias e hospitais. Se perguntarmos a qualquer pessoa como tratar uma doença ou qualquer distúrbio que seja, normalmente a resposta mais comum é que devemos procurar um médico ou um hospital, tomar remédios ou nos submetermos a determinadas terapias.

O conceito de saúde presente na constituição da Organização Mundial de Saúde já nos alerta para o equívoco da associação perversa e economicista entre saúde e ausência de doença. Para a OMS, “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença [grifo meu]”. Ainda assim, há problemas semânticos na definição do conceito. Falar de “completo bem estar físico, mental e social” é um tanto exagerado e irrealista, sem mencionar a carga de classismo que isso carrega. As pessoas empobrecidas e oprimidas do mundo jamais alcançarão essa “realidade”, se é que ela seja possível. Seria a saúde de domínio somente da classe media e alta?

Com relação à reflexão bíblica não me parece tão diferente. Se formos fazer um levantamento bibliográfico de livros, livretos, cartilhas e outros materiais escritos sobre saúde, vamos encontrar uma gama de reflexões bíblicas sobre “cura, exorcismos, sofrimentos e doenças”. São temas relacionados e estruturantes do debate e da reflexão sobre saúde, especialmente em nosso contexto latino americano de empobrecimento, opressão e exclusão estruturais, bem como o eram no mundo antigo.


1 Filósofo e teólogo biblista, do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI, coordenador do Serviço de Intercâmbio, membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica – ABIB, professor de teologia bíblica em Brasília- DF, assessor do Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra em Brasília-DF.


Seguindo o caminho das reflexões em torno da saúde pública e da importância da religião em termos de qualidade de vida e de engajamento em processos de libertação, quero neste artigo caminhar junto e a partir daquelas pessoas (e das diversas formas de vida, e no limite do próprio planeta) que estão numa situação de desequilíbrio (que chamamos de doença). E também perguntar pelo processo de revelação de Deus em direção ao seu Reino e da “integridade da criação”.

Infelizmente no decorrer da História e por influência do Iluminismo, da cientificidade moderna e do positivismo exagerado a religião foi apartada da ciência médica. Esta lacuna que se transformou em dívida para com o mundo precisa ser preenchida. Precisamos rever essa postura tão dicotômica do ponto de vista epistemológico (do ocidente certamente) que impede reflexões e práticas terapêuticas eficientes e “científicas” ao mesmo tempo que reveladoras do mistério da vida de Deus para o planeta.

Em um bibiodrama realizado em Havana de Cuba com um grupo de evangélicos/as com o texto da “mulher que lutou até o fim pela sua vida” ou “da mulher que é exemplo de discipulado cristão” de Marcos 5,25-34 (cf. também Mt 9,20-22 e Lc 8,43-48), descobri que ela pode ter um nome. O grupo a identificou com uma mulher chamada Josefina, nome pela qual vou chamá-la neste escrito. Descobri também que ela poderia não estar sozinha, apesar de estar em situação de solidão profunda. Descobri também que pode ser que aquela multidão que estava perto do tal Jesus poderia ser de gente que também estava numa mesma situação que a dela. Convido a percorrer o texto para imaginar as possibilidades para a cura e a vida plena.

Determinantes da saúde/doença: a quebra de um elo fundamental

““…but Zamolxis, he added, our king, who is also a god, says further, ‘that as you ought not to attempt to cure the eyes without the head, or the head without the body, so neither ought you to attempt to cure the body without the soul; and this,’ he said, ‘is the reason why the cure of many diseases is unknown to the physicians of Hellas, because they are ignorant of the whole, which ought to be studied also; for the part can never be well unless the whole is well” (PLATÃO, 2008)]2

Saúde, doença e política são elementos interligados, são lados de uma mesma moeda, partes de um mesmo todo sobre e a partir do qual devemos pensar, viver e intervir. Estamos inseridos/as numa mesma “oikoumene” – casa comum – e somos responsáveis pela sua vida “eterna” ou pela sua destruição iminente. Essa consciência está cada vez mais inscrita em todos os níveis em que vivemos e falamos. Aqui e hoje não podemos mais falar somente em termos de humanidade. Falamos do planeta, da casa em perigo de destruição. O ser humano pode destruir a si mesmo e danificar profundamente toda a biosfera. Neste sentido ganha centralidade em nossas reflexões teológicas não mais somente o ser humano ou a dignidade da vida humana, mas a vida do planeta e suas interconexões. A vida do planeta, da criação divina, está em perigo. O planeta está doente e “sendo adoecido” pela ação sistemática de práticas, a maioria delas, pautadas em teorias antropocêntricas milenares.


2 “…mas Zamolxis, ele acrescentou, nosso rei, que é também um deus disse ainda, ‘que, como você não pode tentar curar os olhos sem a cabeça, ou a cabeça sem o corpo e nem curar o corpo sem a alma; e esta’ ele disse, ‘é a razão porque a cura de muitas doenças é desconhecida pelos médicos de Helas, porque eles são ignorantes do todo, que necessita ser estudado também; porque a parte não pode estar bem enquanto o todo não estiver” [tradução minha do inglês].


Houve um momento em que isso era muito claro em algumas sociedades, ou seja, que a saúde e as curas para doenças estavam intimamente conectadas com a política, economia e organização social. Muitos filmes conhecidos, como Daens: um grito de justiça, mostram como a organização da economia e do trabalho influenciavam no aparecimento das epidemias e das doenças em geral. Para mudar a situação de morbi-mortalidade, acabar com as epidemias e ter uma sociedade mais “saudável” era necessário transformar as relações sociais, políticas e econômicas. A cura, e a luta pela saúde contra as doenças, significava organizar o povo em movimentos sociais/políticos que pudessem transformar a vida.

“Virchow e Neumann em 1847 conseguem a aprovação da lei de saúde pública prussiana que, se formos apresentar de forma sintética, pode ser resumida como: saúde direito de todos, dever do Estado. O movimento dá a explicação para o processo saúde- doença e tende a tornar-se hegemônico enquanto modelo explicativo: “mudem-se as condições da sociedade que acabam as epidemias e transforma-se o perfil das patologias””(BAGRICHEVSKY, PALMA e DA ROS, 2006: p. 47-48)

Esse conceito de saúde implicava necessariamente em movimentos políticos de reivindicação e de transformação da sociedade. A higiene (saúde) está condicionada a organização Eles evidenciavam que os determinantes de saúde em uma sociedade têm a ver com o jeito que, principalmente, a economia está organizada. Claro que isso resultou em problemas para a classe dominante da época. Melhorar a vida das pessoas, eliminando doenças, epidemias e desequilíbrios significava mexer nas horas de trabalho, no salário que era pago, nas condições de higiene e saneamento dos locais de trabalho. Grande problema.

Temos uma vasta história em relação a este tema que considerava o todo e não apenas as partas na análise da natureza ou causa de doenças/desequilíbrios no corpo, mente e espírito da humanidade. Isto também estava conectado a uma determinada antropologia que considerava o ser humano como uma totalidade e não simplesmente como junção de partes, das quais a alma (psique) era a mais importante, relegando o corpo a uma condição negativa e dispensável. Por exemplo, Friedrich Schelling, filosófo alemão, “considerava as doenças como desarmonia de uma totalidade, estruturada em nível de polarização, na qual, em um determinado momento, predomina um pólo em relação ao outro, provocando um desequilíbrio, à medida que o indivíduo já não pode mais representar a totalidade. Esta visão não é diferente da de Goethe, que considera os dois principio fundamentais do corpo na atração e na repulsão, tese que por sua vez desemboca na visão de Confúcio da reciprocidade harmoniosa dos princípios do Yang e Yin. Não foi por acaso que naquele tempo ganhou novamente espaço a teoria dos ‘tons’ dos estóicos: como uma forma de ser e de sentir-se em relação à natureza, na qual a desarmonia provoca as “doenças neuróticas”. A saúde é “homotonia”, as doenças são provocadas pela atonia ou astenia (como a histeria) ou a hipertonia (como a hipocondria).

Na época porém, essas teorias logo foram esquecidas diante das “constatações científicas” dos microbiólogos como Virchow, Pasteur e Koch que demonstraram, no final do século XIX, que as doenças infecciosas eram causadas por micro-organismos particulares. Koch, com seus famosos postulados sobre as causas da tuberculose, estabeleceu os critérios do mecanismo causador da doença: cada bacilo causa uma determinada doença. (TERRIN, 1980: p. 193-194)”

Com a descoberta da associação causal entre a bactéria e a doença, a partir de Pasteur e outros, ao invés de aumentarmos o potencial explicativo do processo saúde-doença, há uma ruptura, em favor do sistema capitalista em franca ascensão, sintetizada por Behring em 1896 na Prússia: “agora, com a descoberta das bactérias, desnudada a causa das doenças, o médico não precisa mais se preocupar com a sociedade” (BAGRICHEVSKY, PALMA e DA ROS, 2006: p.48). E este passa a ser o modelo hegemônico ao final do século XIX, início do século XX – o modelo unicausal de explicação da doença, negador da determinação social.

Outra quebra ou divórcio aconteceu ao longo da história, especialmente em nosso ambiente ocidental e ocidentalizado, foi o da exclusão da religião dos assuntos de saúde, que se tornaram especialidade da ciência médica.

“Para manter a objetividade científica, a visão religiosa foi totalmente eliminada do universo da doença: o universo religioso não tem elementos que possam ‘ser verificados’ e portanto não tem qualquer valor que possa ser aferido. As religiões e as manifestações de crenças baseadas na fé, fazendo parte de ‘universos que, por excelência, não podem ser transformados em objetos’, eram e continuam sendo deixados à margem ou fora de qualquer processo de cura, não obstante o fato de que todas as religiões do passado tenham se atribuído a função terapêutica e que as curas sempre estejam inseridas num contexto de estrita conexão com fatores eminentemente religiosos…”

Deve-se lembrar que só nos tempos modernos e só no mundo ocidental a ciência média descartou e eliminou por completo da religião, e da religião cristã em particular, sua função de cura” (TERRIN, 1980: p. 196-197).

É esse modelo marcado por dicotomias que impera hoje em nossa realidade e que está amplamente inserido na vida cotidiana de todo mundo. É esse modelo de “unicausalidade” que influencia profundamente também nossas interpretações sobre curas e milagres no universo religioso. O mundo das relações, da solidariedade e do compromisso mútuo de encontrar caminhos sumiu das nossas anamnésis3, análises e interpretações. Acrescenta-se a isso a nossa tendência extremamente andro e cristocêntrica de leitura e interpretação das ações onde Jesus está envolvido, o que nos impede muitas vezes de perceber outros processos de cura e libertação. Mesmo quando Jesus diz que não foi ele quem fez, ainda no nosso senso comum hermenêutico a figura dele (homem, deus) permanece no epicentro dos acontecimentos.

Marcos 5: o tecido a partir do qual fazemos fuxico4

Os evangelhos surgiram a partir das perguntas levantadas pelas comunidades e pela preocupação delas em manter viva a memória de Jesus, o Cristo, segundo a tradição recebida de Jesus próprio e dos apóstolos/as dos primeiros tempos da igreja. Marcos, por exemplo, tem o desafio “de equacionar o conflito judeus-gentios, ajudando as comunidades cristãs a enfrentarem o trauma da perseguição romana, em relação com a iminente ou já configurada destruição de Jerusalém.” (GEMELEIRA e JUNIOR, 2002: p.13)

O evangelho de Marcos pode ter sido o primeiro a ser editado e que entrou para o cânon da Bíblia. O texto deve ser lido a partir do tempo em que ele aparece, ou seja, a partir do ano 70 EC, na comunidade de Roma. Naquele tempo a comunidade de Roma e todo o império enfrentavam uma crise muito grande. Muitas coisas haviam acontecido que esmoreceram a fé das comunidades.

A Palestina sempre foi palco de muitos movimentos políticos de enfrentamento contra o império romano. Desde o século VI a.C., quando aquela região tornou-se colônia do império babilônico e nunca mais recuperou sua autonomia, os judeus esperam por alguém ou algum acontecimento que devolva a eles a terra prometida e expulsem os impérios dali. Muitos movimentos messiânicos, desde a morte e ressurreição de Jesus, apareceram e conclamaram o povo para revoltarem-se contra a dominação de Roma.


3 Para as ciências da saúde: Anamnese (do grego ana, trazer de novo e mnesis, memória) é uma entrevista realizada por um profissional da área da saúde com um paciente, que tem a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico de uma doença. Em outras palavras, é uma entrevista que busca relembrar todos os fatos que se relacionam com a doença e à pessoa doente (fonte: Wikipédia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Anamnese_(saúde). Para a liturgia: Anamnese (“recordação” em latim – o zikkaron – hebraico [da família SKR]) designa uma coisa muito diferente da memória psicológica. Hoje se pense que a palavra significa zikkaron significa reatualização, engajamento. No contexto bíblico, “lembrar-se” é tornar alguma coisa presente e atual. Para essa “memória” o tempo não passa de modo linear: nele o futuro ainda não existe, o passado não existe mais, e o presente é um ponto fugidio que surge do futuro e é engolido pelo passado. (fonte: BROUARD, M. Eucharistia. Enciclopédia da Eucaristia. Paulus, São Paulo, 2006.)

4 Um trabalho artesanal, feito com retalhos formando uma rodelinha franzida que lembra uma flor.


Olhando o evangelho, em comparação com outros, chama a atenção que Marcos não apresenta Jesus fazendo discursos. Ele sempre está ‘fazendo coisas’. No inicio temos, em Mc 1,21-22: “Entraram em Cafarnaum e, logo no sábado, foram à sinagoga. E ali ele ensinava. Estavam espantados com o seu ensinamento, pois ele os ensinava como quem tem autoridade e não com o os escribas”. Mas logo em seguida temos o relato de uma ação de Jesus. E isso se repete pelo restante do Evangelho. A impressão que fica é que o ensinamento de Jesus é a sua prática.

Todo o capitulo 5 é de uma força impressionante. Do corpo de Jesus sai e/ou é retirada uma força (dynamis) que restaura a vida, dá coragem para enfrentar situações de morte, restaura a dignidade e a membresia a uma comunidade de fé (Mc 5,21-43). Sai e/ou é retirada uma força (dynamis) que faz anunciar, envia em missão, cria uma excentricidade teológica e espiritual que impressionam as igrejas daquela época. Jesus não precisa e não quer que fiquem com ele. Ele prefere que haja envio, missão, expansão. Sai uma força que faz dizer “a verdade”, mesmo com tremor e angústia.

A dinâmica de expulsão do demônio, que pode ser interpretado como um desequilíbrio de ordem psicossomática, do que acontece com a mulher [Josefina] com fluxo de sangue e com a filha de Jairo devolvem à práxis das igrejas daquela época, e oxalá para nós hoje também, a dimensão relativa e holística do enfrentamento do mal e das doenças, a convivência com os desequilíbrios nossos de cada dia e a integração das nossas sombras como parte dos processos terapêuticos que nos levam a plenitude de vida e de existência. A experiência da aproximação e dos toques como rituais terapêuticos eficazes na luta contra o mal muda a consistência do discurso teológico da igreja de Marcos (quem sabe dos nossos de hoje) bem como devolve para o cotidiano da teologia e da espiritualidade a corporeidade necessária, exigente e sanadora do Reino de Deus que “já está no meio de nós” (Mc 1,14-15).

O nosso texto em questão, como já dito acima, faz parte de um conjunto maior do Evangelho de Marcos, aliás um evangelho muito bem organizado em termos de evidenciar os conflitos que surgem quando alguém opta pelo caminho com Jesus. Ele é conhecido como o evangelho da “cruz”, do conflito e, neste sentido, em termos teológicos, muito próximo a teologia paulina de primeira geração. Dor e sofrimento, exclusão e conflitos/cruz são o cotidiano da vida cristã. A espiritualidade que brota do caminho é tomada de problemas e tensões que, só com alguma companhia e com os olhos certos para seguir o caminho de quem entendeu o que deve ser feito, certamente aqui não estou falando dos chamados “apóstolos”, será possível suportar e superar.

Lendo o texto da “mulher [Josefina] que nunca perdeu a esperança” de Marcos 5, vamos nos deparar ainda com outro aspecto dos processos de cura: não são originados no messias, salvador, mágico e curandeiro simplesmente, nem apresenta o mesmo como centro do drama exposto. A participação ativa e protagonista de outros corpos, menos “santos”, impuros, doentes, desequilibrados é testemunha de uma outra teologia e de um outro caminho terapêutico que leva a integralidade divina.

Estamos diante de um texto e de uma memória guardados e celebrados provenientes da segunda geração de cristãos/ãs. Depois do ano 70 E.C.5, houve um grande movimento a procura de identificar melhor quem era Jesus, como organizar melhor seu movimento, o que significa segui-lo e ouvi-lo. As igrejas já estavam espalhadas pelo império todo. Muita coisa havia mudado desde as primeiras iniciativas, especialmente de Paulo. Havia uma crise maior já instalada nas igrejas: crise de identidade e de vocação. De comunidades carismáticas já estamos dentro de uma conformação de possíveis “ortodoxias” e de uma certa estrutura hierárquica.

Também se enfrenta a tentativa de dominação de certos grupos em termos de eclesiologias e cristologias hegemônicas. Os textos dos evangelhos, para além de fazer memória do tempo de Jesus, querem ajudar as igrejas a organizarem sua vida e sua vocação. Há muitos conflitos e tensões internas nas igrejas que precisam de iluminação e de elementos para o debate. A memória de Jesus foi um desses elementos fundamentais para a continuidade das igrejas e sua organização. Também acontece que os textos são relembrados e passados a diante, reinterpretados é claro, com o objetivo de justificar certas teologias, eclesiologias e espiritualidades já estabelecidas dentro de algumas igrejas.

A cena é conhecida. O estilo taumatúrgico de apresentação de Jesus, de Nazaré e também de Jesus, o Cristo (o Jesus da fé das Igrejas das décadas de 70-100) também é conhecido e muito aplicado para identificar a revelação de Deus como revelação da busca da vida e da completude. As interpretações, por outro lado, precisam ser revisitadas e rearticuladas a partir de outros lugares e outros corpos, não dos saudáveis e inteiros (física e psicologicamente), mas dos/as quebrantados/as, dos/as deprimidos/as, dos/as doentes, dos/as que estão em vulnerabilidade constante.

A – 5,24b E numerosa multidão o seguia, apertando-o de todos os lados
B – 5,25-28 Certa mulher que havia 12 anos tinha um fluxo de sangue, e que muito sofrera nas mãos de vários médicos, tendo gasto tudo o que possuía sem nenhum resultado, mas cada vez piorando mais,

tinha ouvido falar de Jesus. Aproximou-se dele, por detrás, no meio da multidão, e tocou-lhe a

 

roupa. Porque dizia: “se ao menos tocar as suas roupas, serei salva/ficarei curada”.
C – 5,29-31 E logo estancou a hemorragia. E ela sentiu no corpo que estava curada de sua enfermidade. Imediatamente, Jesus, tendo consciência da força que dele saíra, voltou-se para a multidão e disse: “Quem me tocou nas vestes”? Os discípulos disseram-lhe: “Estás vendo a multidão que te comprime e perguntas: ‘Quem me

tocou?’”

B’ – 32-33 Jesus olhava em torno de si para ver quem havia feito aquilo. Então a mulher, amedrontada e

trêmula, sabendo o que lhe tinha sucedido, foi e caiu-lhe aos pés e contou-lhe toda a verdade.

A’ – 34 E ele disse a ela: “Minha filha, tua fé te salvou. Vai em paz e viva de maneira inteira/integrada6,

livre do teu mal.

Um dos conflitos que surgiram após a primeira geração certamente foi a presença de mulheres grego- romanas dentro das igrejas, bem como a manutenção da memória revolucionaria do tempo de Jesus em relação ao seu relacionamento com mulheres dentro do que foi chamado e se configurou como um movimento. A presença de mulheres que o seguiam desde a Galiléia (Lc 23,49) já incomodava os Doze há algum tempo. A presença de mulheres no ministério foi alvo de debates nas igrejas desde o inicio7 do cristianismo.

A característica “cidadã” da nova ekklesia não foi tão tranqüila para muita gente. A fórmula do batismo guardada em Gl 3,28 afirmando que a adesão a comunidade cristã exige uma equidade de raça/etnia, gênero e condição social/política foi foco de tensão nas igrejas. Tensão essa que acabou gerando um movimento contrário às primeiras intuições. De comunidades com equidade (1Cor por exemplo), chegamos a comunidades extremamente segregacionistas em relação a mulheres e complacentes em relação a escravidão (1Tm).

Já na década de 70, as igrejas estão se configurando de um jeito perigoso em relação à presença e atuação de mulheres. Parece que novamente há um grupo bem expressivo que deseja colocá-las em segundo plano e rediscutir seu status, para algo diferente do que foi no tempo de Jesus. Esse “grupo” que está contribuindo para o que se tornou um fato no século seguinte, ou seja a exclusão de mulheres do ministério e das lideranças em geral das igrejas (cf. Tt e Tm especialmente), é representado nos evangelho pelos “apóstolos”. Eles são apresentados pelos evangelhos como o grupo que sempre se interpõe entre Jesus e os/as empobrecidos/as e os/as excluídos/as. São eles que quase sempre não entendem o que Jesus propõe. Não são elogiados. Ao contrário, são sempre muito criticados por Jesus em suas ações. Por que será?


5 Para maiores informações e aprofundamento ver KOESTER, H. Introdução ao Novo Testamento. 1. História, cultura e religião do período helenístico. São Paulo: Paulus, 2005, PP. 403-411.

6 Em todas as versões consultadas em português esse verso é traduzido por “E ele disse a ela: “Minha filha, tua fé te salvou. Vai em paz e estejas curada do teu mal.” Optei pela tradução que encontramos nas versões em ingles onde utiliza-se a palavra “whole”, traduzindo a palavra grega u`gih.j (hugios), que pode significar também “inteireza, integridade, plenitude”, o que combina perfeitamente com o conceito de saúde utilizado neste artigo.

7 Vale a pena para aprofundamento consultar a obra de HEINEMANN – U. Eunucos pelo Reino de Deus. Mulheres, sexualidade e a igreja católica. Editora Rosa dos Tempos: Rio de Janeiro, 1998.


A comunidade de Marcos no capítulo 5,25-34 não nos deixa esquecer (nos conta uma verdade8) sobre uma mulher (Josefina) que, quem sabe com seus vinte e cinco anos de idade, estava muito doente havia 12 anos. Tinha procurado todos os médicos da região. Gastou tudo o que tinha. Era muito pobre e sozinha. Por causa da religião ela também foi abandonada por sua gente. Parece que ninguém mais queria sequer passar perto dela. Certamente, era “moradora de rua” nos arredores da cidade.

O texto em questão faz parte de um conjunto. Podemos assim identificá-lo: 5,21-24ª – início da narrativa sobre Jairo e sua filha

5,24b-34 – narrativa sobre a mulher que nunca perdeu a esperança – a “hemorroísa”

5,35-43 – continuação da narrativa sobre Jairo e sua filha

Podemos identificar nesta história, enfiada no meio de outra história, conexões profundas. São duas mulheres em questão. As duas são protagonistas de toda a narrativa (a “hemorroísa”/Josefina e a filha de Jairo). Os homens aqui, incluindo Jesus, são meros coadjuvantes. O texto não é cristocêntrico nem androcêntrico. Podemos facilmente identificas as portadoras e mantenedoras dessa memória. É fácil perceber como o Espírito desconcerta as leituras e interpretações convencionais desses dois textos (quem sabe de muitos outros), quando percebemos que essas mulheres são o motivo de toda movimentação taumatúrgica de Jesus e dos homens ao seu redor, nem sempre apresentados de maneira positiva. Há o número 12 que as envolve: uma há 12 anos sofre de uma hemorragia, exatamente o tempo de vida da outra que está morrendo. As duas não têm nome. As duas são “curadas” pela fé, da Josefina e de Jairo.

Duas mulheres que voltam para a comunidade. Duas mulheres que podem agora plenamente participar da ceia. Enquanto alguns (ou a interpretação religiosa de alguns) excluem, esquecem, não prestam atenção nos corpos necessitados, abandonam, se conformam com a realidade, um outro e umas outras saem em busca, querem mais, estão marcados pelo desejo da Páscoa, da vida. Uma enfrenta a própria fraqueza e outro descobre que a fraqueza dela foi forte o bastante para arrancar dele uma energia que salvou/curou. Um enfrenta sua religião e vai em busca de cura com alguém que não é muito bem visto nem bem falado pelos seus pares. Outro aceita entrar no quarto para “fazer levantar” e devolver para a mesa aquilo e aqueles que precisam da mesa.


8 Verdade vem de uma palavra grega avlhqei,a, que literalmente significa “não esquecimento”. Parece que verdade pode significar “não esquecer”, manter a “memória”.


São duas mulheres em situação de exclusão. Uma delas parece já exausta de tanto buscar, mas não desistiu. Estava desesperançada por não mais pertencer a nenhum grupo. Conforme a lei judaica a mulher com fluxo de sangue é impura e qualquer coisa que tocar se tornaria impuro, ninguém podia tocar nela ou tocar em algo que ela tivesse tido contato físico.

“Também a mulher, quando tiver o fluxo do seu sangue, por muitos dias fora do tempo da sua separação, ou quando tiver fluxo de sangue por mais tempo do que a sua separação, todos os dias do fluxo da sua imundícia será imunda, como nos dias da sua separação. Toda a cama, sobre que se deitar todos os dias do seu fluxo, ser-lhe-á como a cama da sua separação; e toda a coisa, sobre que se assentar, será imunda, conforme a imundícia da sua separação. E qualquer que a tocar será imundo; portanto lavará as suas vestes, e se banhará com água, e será imundo até à tarde.” (Lv 15,25-27)

“Os rabinos ensinavam que se os maridos teimassem em relacionar-se com elas nesse período, a maldição viria sobre os filhos. O rabino Yoshaayah ensinou que um homem deveria afastar-se de sua mulher já quando ela estivesse próxima da menstruação… Uma mulher com hemorragia não poderia relacionar-se com pessoas; antes deveria viver em isolamento, confinada numa caverna de solidão, sob o ostracismo social… Doze anos sem poder ir ao culto. (LOPES, 2006: p. 268- 270)”

Porém, sua aparente e descrita situação de fraqueza não atrapalha desejar. Ela supera os preconceitos e quem sabe sua baixa-estima e segue em frente. Ela enfrenta seus medos e rouba de Jesus uma força que a faz reerguer-se para a vida. Mesmo com medo, enfrente a própria limitação e assume o que fez e apresenta-se em nome da verdade.

Quando sou fraca é que sou forte

Que belos e infinitos são Teus nomes, ó Senhor Deus.
Tu és chamado pelo nome de nossos desejos mais profundos.
As plantas, se pudessem orar,
invocariam nas imagens das suas flores mais belas e diriam que tens o mais suave perfume.
Para as borboletas Tu serias uma borboleta,
a mais bela de todas, as cores mais brilhantes, e o teu universo seria um jardim…
Os que estão com frio Te chamam Sol…
Aqueles que moram em desertos
dizem que Teu nome é Fonte das Águas. Os órfãos dizem que Tens o rosto de Mãe…
Os pobres Te invocam como Pão e Esperança. Deus, nome de nossos desejos…
Tantos nomes quantas são nossas esperanças e desejos… Poema. Sonho. Mistério. (ALVES, 1999: p. 17)

Josefina devia estar muito entristecida. Estava cheia de esperança e de energia. A situação de doença em que ela vivia não a impediu de continuar a luta pela sua saúde e pela vida plena que lhe fora negada, tanto pela doença quanto pela sociedade em que ela vivia. Isso sem falar na dor da exclusão religiosa. Ela estava, segundo as normas da religião dela, “impura”. No tempo de Josefina, pessoas como ela não podiam morar junto com outras pessoas, viviam excluídas em lugares fora dos vilarejos. E ainda eram submetidas a violência de saber (isso era dito veementemente) que Deus se afastara dela. Se ela estava doente assim não poderia se aproximar de nenhum lugar sagrado porque deve ter cometido algum pecado e Deus a estava castigando. Além de estar doente há anos ainda devia suportar a dor de achar que era culpada ela mesma por essa condição. Mas, ainda sim, restava uma chama de força e esperança acesa.

Eu fico imaginando a possibilidade de ela, na verdade, estar em meio a gente conhecida. Normalmente os comentários sobre esse texto tratam a multidão como se fosse uma multidão de gente “pura”, diferente da condição em que se encontrava aquela mulher. E se ela estivesse no meio de “iguais”, gente marginalizada e “impura”? Josefina manteve sua luta por 12 anos. Não deve ter estado tão sozinha ou abandonada. Muito provavelmente encontrou muita gente que padecia de doenças ou “defeitos” que as colocavam num outro universo social de “iguais”.

Na sua fraqueza e marginalidade ela encontrou outros marginais e enfraquecidos como ela. Encontrou também alento e animo para continuar buscando sua felicidade e sua integridade.

É importante identificar Josefina como alguém submetida a situação de sofrimentos e estava “excluída” da sua sociedade e do seu universo religioso. Mas não podemos identificá-la como submissa ou mesmo como passiva diante desta situação. Ela não cometeu o pecado de desumanizar-se. Ela ainda firmemente acreditava que era gente, tinha direitos e alguma coisa estava errada com aquela gente toda dizendo a ela (e fazendo com ela) coisas horríveis em nome de Deus. Ela deve ter conhecido algo da história e teologia do livro de Jó. Mesmo quando muita gente institucionalmente dizia que ela era culpada e permanecia ditando regras e normas, em nome de Deus, a coisificando e retirando dela a beleza/bondade de ser imagem da divindade, ela encontrou algo e a movimentou em busca de alguma verdade, de alguma vida para alem do que apresentavam a ela.

Ela tinha ouvido falar de alguém que andava por aí fazendo memória dos tempos em que Deus lembrava, através dos seus profetas, que “aquele que quer gloriar-se glorie-se disto: que ele tenha inteligência e me conheça, porque eu sou aquele que pratico o amor, o direito e a justiça na terra. Porque é disto que eu gosto!” (Jr 9,23). Parece que as igrejas daquela época também se esqueceram disso. E também acho que muitos/as de nós nos esquecemos desse Deus, dessa esperança dos pobres que Deus é, desse pão cotidiano e dessa rebeldia que incomoda as normatividades hegemônicas e elitistas.

Por isso ela estava tão animada com esse tal Jesus que estava andando pelas cidades e lembrando essas coisas boas da religião. Devia também pensar consigo mesma, que religião é essa que “desliga” pessoas das suas relações? Acho que essa mulher, nos momentos de maior solidão e desencontro, devia perguntar isso também. Ela devia pensar consigo mesma porque as pessoas que acreditavam em Deus e se diziam praticantes de uma religião faziam isso com ela e com tantas outras pessoas. Algo revoltante. Que Deus é esse? Que “maldição” é essa, que em nome de Deus lhe era imputada?

Como Jó, ela se deu conta, e brigou por isso, de que religião (qualquer uma) deve ser sempre um espaço e uma experiência de unidade e de cura. Por isso ela “religa” pessoas e situações onde está tudo quebrado. Na nossa tradição cristã esse é o único jeito de “verdadeiramente encontrar Deus”, ou seja, temos que encontrar os/as irmãos/ãs. Segundo a 1ª Carta de João (1Jo 4,20): “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?”. O encontro pessoal com Jesus está no encontro pessoal com as pessoas e as realidades em que vivemos. É o amor do samaritano (Lc 10,25-37) que nos provoca na direção das pessoas em estado de vulnerabilidade (mais necessitadas) para sermos uma presença viva do Cristo Ressuscitado para elas. Elas são o nosso “próximo” onde encontramos e experimentamos com alegria e júbilo a graça de Deus.

Por isso também ainda hoje, os pobres são resistência na crença e esperança num Deus que quer um mundo melhor. Religião é pra isso: justiça, amor, conexão, fraternuras.

Por causa dessa crença dela e desta memória que ela tanto ansiava por escutar de novo, Josefina, crente e atormentada, tomou mais coragem ainda de ir atrás mais uma vez de seu restabelecimento. Mais do que enfraquecida por sua doença, ela tinha um fluxo de sangue continuo havia 12 anos, ela estava desesperançada pelo desprezo das pessoas que a jogaram e a mantinham naquela situação de exclusão e de empobrecimento. Ela queria viver de novo. Ela não sabia bem, mas queria uma nova vida. Ela foi atrás disso, não com muitas certezas, mas com a esperança, que mesmo no meio da dúvida, sobrevive e é mais forte: “se ao menos eu tocar na sua veste, estarei curada” (Mc 5,28).

A medicina que ela procurou e as “igrejas” (estou pensando aqui nas igrejas da década de 70/80 EC) que a excluíram, esqueceram que a cura/salvação se dá quando percebemos o todo, quando compreendemos as conexões e as micro-fisicas do poder que envolvem os ordenamentos das sociedades. Por isso ela gastou tudo o que tinha e não encontrou cura.

Lembro do Prólogo da Regra de São Bento: “Qual é o homem que quer a vida e deseja ver dias felizes? Se, ouvindo, responderes: Eu, dir-te-á Deus: Se queres possuir a verdadeira e perpétua vida, guarda a tua língua de dizer o mal e que teus lábios não profiram a falsidade, afasta-te do mal e faze o bem, procura a paz e segue-a”. Aquela mulher já começou a ficar curada na hora em que ela decidiu novamente ir atrás de seu restabelecimento. Ao mesmo tempo, em seu corpo e em sua vontade, a cura aconteceu. Aconteceu quando ela decidiu e criou coragem de aparecer publicamente e enfrentar o medo.

Penso sempre nas milhares de mulheres (alguns homens também) que doam sua vida cotidianamente em prol de pessoas (e do planeta) em situação de vulnerabilidade. Elas se desinstalam, enfrentam dificuldades nos círculos familiares, nas igrejas, nos empregos. Enfrentam o medo de ruas escuras e bairros “perigosos”. Essas lideranças e pessoas comuns tomam consciência e experimentam o ardor (que incomoda e não deixa a gente quieta) do Espírito Santo e saem de casa em busca da saúde, ou seja, organizam sua vida para garantir saúde e vida saudável. Um ardor que faz expressar aquela mística mais profunda, recheada de dúvidas, mas ainda uma chama viva de crença nos tempos melhores.

O mais impressionante do que a cura e o desenvolvimento das pessoas (a renutrição, a diminuição do índice de morbi-morbidade, a elevação da auto-estima, a mudança de status social, o reconhecimento da humanidade e de gente que é portadora incondicional de direiros) é a experiência de reciprocidade, uma verdadeira experiência do “toque de/em Deus”.

Saúde em Movimento – Convivendo com os conflitos

Aquela mulher resolveu enfrentar a multidão, ou pode ser que ela resolveu com a multidão enfrentar aqueles que estavam querendo controlar Jesus e fazê-lo passar rápido e sem ser incomodado. Lembremos que ele estava a caminho da casa de um chefe de sinagoga, alguém provavelmente “mais importante” que a multidão ou uma mulher. Ela já tinha decidido que ia tocar em Jesus e esse toque seria de muita diferença para a vida dela, porque sentia que aquele alguém iria dar atenção a ela e a escutar.

Não seria como a religião e os chefes daquele tipo de religião que a excluíram. Não seria como os discípulos que normalmente impediam que alguém se aproximasse muito de Jesus.

Alguém como Jesus, que falava tanto do amor e da justiça, seria solidário com ela naquele momento. Alguém como Jesus devolveria, inclusive para os apóstolos dele, o sentido da vida e da missão de Deus: que todos/as tenham vida em abundância. A religião deve humanizar as pessoas e não desumanizá-las, como o que aconteceu com aquela mulher: jogada fora da comunidade, tratada como um perigo em nome de Deus. Deus não quer isso. Deus não tem nada a ver com os nossos limites relacionais ou nossos egoísmos naturais.

A comunidade é o lugar da cura e do perdão, da festa e do conflito, da vida e da morte, a cruz e a ressurreição. Pode ser que fora de uma comunidade de amor e de solidariedade não haja possibilidade de encontro verdadeiro consigo mesmo e com Deus.

Aquela mulher resolveu ir ao encontro de Jesus. Foi. Deve ter esbarrado em muita gente (ou ter articulado com muita gente) até poder chegar perto daquele homem que despertava memórias tão antigas e esquecidas pelo povo da religião. Às vezes as pessoas mais apegadas à religião acabam esquecendo- se da memória do Deus revelou aos pobres e pequeninos coisas importantes e transformadoras (Mt 11,25).

Encontro e solidariedade transformam a vida e equilibram a doença – saúde coletiva e irradiadora

Onde encontrar Jesus? Como se achegar? Como ter uma relação pessoal e íntima com ele? Quando que o NOME de Jesus salva/cura? Quando o SANGUE de Jesus tem poder? Ou melhor seria perguntar: onde a gente se encontra? Em que momento nós enfrentamos a nós mesmos e tomamos as iniciativas necessárias para garantir vida em plenitude?

Não é difícil quando sabemos onde procurar e o que fazer. Nossa catequese já nos ensinara há muitos séculos que pode-se experimentar Deus em todos os lugares. Nossa poesia através da música nos recorda a mesma coisa. Nossos pastores/as ainda nos alertam para a presença de Deus nos/as mais necessitados/as. Nossa tradição bíblica é enfática nestes termos.

Jesus estava no MEIO da multidão, cercada por ela. A mulher foi ao encontro, saiu do seu lugar, enfrentou a fraqueza e a doença. O mal que a acometia não coordenava sua vida, não a impediu de continuar sua busca. Ela aprendeu, desde muito tempo, a conviver com o mal/doença. Parece que há uma preocupação grande das igrejas depois do ano 70 EC em explicitar ONDE está Jesus. O que ele faz? Como ele se comporta. Também parece que há uma necessidade grande de alguns grupos, que conseguiram manter-se no canon, de criticar os Doze sistematicamente, como no caso do nosso texto em questão.

Mas bem, ela conseguiu tocar nas roupas de Jesus. Sentiu a cura imediatamente. Jesus também sentiu algo diferente. O toque dessa mulher foi algo extraordinário para ele. Ele queria saber… o desejo tomou conta dele. Fez ele mudar de direção. Desejos são transformadores, são “metanóicos”, mudam a gente de rumo. Estava indo para a casa do chefe da sinagoga e parou, virou-se, indagou. Buscou saber e entender o que ele havia sentido. Mais um ator foi adicionado nesta dramaturgia catequética sobre saúde e salvação. O processo de cura/salvação necessidade desse “ato”: tocar, ser tocada, desejar, deixar-se mover pelo desejo de tocar alguém. Isso muda, transforma. Transforma a vida de quem toca e de quem é tocado. Também provoca medo. Muita gente não está acostumada com isso.

No nosso mundo tecnicista e pragmático, “científico e racional”, doenças são curadas com remédios, em lugares dedicados a tais pessoas e tais procedimentos, através de pessoas especializadas e práticas exclusivas. As igrejas estavam querendo retomar algo da mais antiga medicina. Parece que essa memória faz bem hoje também. Cura/salvação é processo. É necessário algo mais do que um remédio ou um ritual. É necessário toque, relacionamento, transformações, atenção, dedicação. É necessário parar para escutar o corpo (“alguém me tocou”). É importante compreender o que se passa: onde, quando, porque, de que jeito. É necessário gastar tempo. É necessário retirar o medo daquela mulher. Os/as médicos/as ou as autoridades (especialmente religiosas) são sinal de medo para a maioria da população. Afinal eles/as tem o poder de “ligar e desligar” para que se tenha vida ou não.

Enfim, Jesus encontrou uma mulher trêmula, com medo, apavorada pelo gesto que havia terminado de fazer. Quem sabe o que poderia acontecer com ela? O que poderiam pensar os Doze ou a multidão? Parece que a multidão não estava incomodada. Quem se incomoda no texto são os apóstolos. Pode ser que ela poderia ser apedrejada. Como uma mulher impura, doente e afastada há anos da comunidade ousava intrometer-se na multidão e tocar em Jesus?

Mas Jesus a reconheceu, quis saber quem era e da sua história. Jesus então torna-se como ela, um impuro para a sociedade do seu tempo. Ele opta por tornar-se um excluído. Reconheceu nela a humanidade que uma determinada interpretação da religião havia tirado. Reconheceu nela um símbolo de discipulado. Alguém que deve ser imitada – por isso sua memória manteve-se nos evangelhos.

Os discípulos de Jesus queriam seguir em frente, afinal seria melhor atender ao chefe da sinagoga do que a alguém anônimo de uma multidão. Não estavam atentos para as necessidades das pessoas que os cercavam, parece que queriam Jesus só pra eles. Parece que nem prestaram atenção no fato. Jesus parou e buscou aquela mulher. Olhou pra ela como fazia tempo que ninguém olhava. Conversou com ela como há tempos ninguém conversava. Essa mulher sentiu a vida voltando. Ela era gente novamente. Ela tinha um nome. Ela podia ser contada entre as filhas de Deus amadas e acolhidas. A saúde dela estava sendo devolvida plenamente.

Relações e comunhão: para que não haja doentes entre vós

Creio na ressurreição do corpo. Frase tão antiga. Frase tão repetida em nossas igrejas desde muitos séculos atrás. Afirmamos algo que não faz mais sentido para muita gente e para muitas espiritualidades. O corpo foi o destino de Deus: “fez-se carne e habitou entre nós e nós vimos sua glória (presença)” (Jo 1,14).

Mas, infelizmente, muitas vezes nos acostumamos com uma espiritualidade e uma teologia que “pensa encontrar Deus onde o corpo termina: e o fizemos sofrer e o transformamos em uma besta de carga, em cumpridor de ordens , em maqui de trabalho, em inimigo a ser silenciado, e assim o perseguimos, ao ponto do elogio da morte como caminho para Deus, como se Deus preferisse o cheiro dos sepulcros às delícias do paraíso. E ficamos cruéis, violentos, permitimos a exploração e a guerra. Pois se Deus se encontra para além do corpo, então tudo pode ser feito ao corpo” (ALVES, 1984: p. 8).

Mas, um dos aspectos mais fundamentais da conquista da saúde e da luta contra as doenças é integrar as pessoas com elas mesmas e com alguma comunidade, algum grupo social. Também é fundamental em tempos de doenças crônicas que, até agora, não têm “cura”, exercitar interpretações e abordagens bíblico-teológicas que continuem dando alento e esperança para as pessoas que crêem na comunidade e na vida eterna. É urgente revisitarmos nosso conceito de saúde, também nosso conceito de cura e de qualidade de vida. É urgente resignificar a “crença na ressurreição do corpo” como lugar erótico e redinamizador (a força que sai da divindade e que vivifica) das espiritualidades contemporâneas.

“de tantas maneiras o corpo deixava de ser o lugar de negação e de sofrimentos e se afirmava como lugar da criação e de prazer que era impossível não aprender a dize-lo de outra maneira também em nossas orações… Afirmar a ressurreição do corpo como plenitude erótica que nos humaniza traz desafios para a teologia e o jeito e o que dizemos de Deus.” (PEREIRA, 2001: p. 6)

Josefina, símbolo de tantas crianças e mulheres (homens também, é claro) pelo mundo afora, precisava de algum grupo para retomar sua vida e reviver de forma nova a fim de fazer um processo de ressuscitar para uma vida nova. Essa experiência batismal precisa ser revivida cotidianamente.

O recado da comunidade de Marcos foi forte. A comunidade precisa ser o espaço privilegiado de acolhida e de nova cidadania. A comunidade precisa ser o espaço do encontro consigo mesmo, com os/as outros/as e, portanto, ali encontrar Deus. Fora disso não é possível cura/salvação. Só há possibilidade de saúde quando a integralidade da pessoa e sua relação com o cosmos é restabelecida. A Carta de Coríntios também já alertava para essa relação direta entre solidariedade, comunhão, eucaristia com saúde/doença: “Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem” (1Cor 11,29-30). Parece que a indignidade e a possível condenação mencionadas por Paulo estão relacionados com a ausência de espírito solidário dentro da comunidade, falta o espírito do cuidado e da atenção aos mais empobrecidos.

Durante a Vigília Pascal lemos um texto que precisa estar presente nas nossas vidas e no nosso trabalho pastoral:

“De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição; assim também vós considerai- vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. (Rm 6,4-5.11).”

O que resultou desse “encontro pessoal” de Jesus com essa Josefina? Mudança de vida. Ele foi mudado e ela também. Retorno para a comunidade. Quem é responsável por mudar a vida de alguém? Ninguém, parece. Todos e todas são responsáveis uns/umas pelos/as outros/as. Na comunidade é que se faz caminhos de voltas, de retornos, de conversão (conversação).

O encontro termina com uma declaração de Jesus muito pertinente para nossas vidas: Vai e seja uma pessoa inteira / integrada. Na nossa sociedade segregacionista, que exclui e marginaliza as pessoas (inclusive muitas religiões fazem isso), essa mulher e Jesus fazem um caminho contrário: apostam nos encontros, tem fé de que isso faz vida nova aparecer, saúde brotar e novas relações estabelecerem-se.

Por uma espiritualidade do corpo, do toque

Do texto que visitamos reaprendemos a olhar com atenção os corpos em movimento. Aprendemos e somos convidados/as a tomar o corpo e entrar em contato com o sangue. “Isto é meu corpo. Este é meu sangue”. Já sabemos de longa data que teologia se faz a partir dos corpos (das pessoas, da sociedade, do planeta). Já sabemos que a espiritualidade deve vir “de baixo”.

“A espiritualidade que a teologia moralizante da modernidade tem transmitido parte de cima. Ela nos apresenta grandes ideais que nós devemos alcançar. Semelhante ideal consiste na abnegação, no autodomínio, na amabilidade constante, no amor desinteressado, na liberdade diante da cólera e no domínio da sexualidade… Os padres do deserto nos ensinam uma espiritualidade a partir da base. Eles nos mostram que devemos principiar em nós e em nossas paixões. Para os padres do deserto, o caminho para Deus sempre conduz ao autoconhecimento. Certa vez, Evágrio Pôntico formulou isso da seguinte maneira: ‘se queres conhecer a Deus, aprende a primeiramente conhecer a ti mesmo!’… É descendo para dentro de nossa condição terrena (húmus, humilitas) que nós entramos em contato com o céu, com Deus. Pois, à medida que nós temos coragem de descer até as nossas próprias paixões, elas nos elevam a Deus… O caminho para Deus passa pelo encontro comigo mesmo, pelo rebaixamento para dentro de minha realidade.” (GRÜN, 2002: p. 21-22.29)

Josefina sabia que do encontro ela (e ele) sairia modificada. Ela seria “curada”. Ela poderia encontrar-se novamente com ela mesma e encontrar alguém que desejava encontrá-la. Jesus desejou encontrá-la. Ele queria saber que o tocou. Qual fora o corpo que roubou dele uma energia que modificou a vida de todos ali. A sacramentalidade do corpo daquela mulher em relação íntima, quase erótica, com o corpo de Jesus é ponto de partida, e certamente ponto de chegada, de uma teologia e de uma espiritualidade que provoca rupturas e engravida-se de novos paradigmas e de novas práxis.

“Este princípio existencial… é retomado pela teologia da libertação e desenvolvido na práxis da liturgia, do serviço e do anúncio… O povo não é uma massa anônima, uma multidão manipulável, mas um organismo vivo. Na fragilidade de suas comunidades e organizações mostra-se sua impotência; nas relações, histórias e corpos de seus indivíduos mostra-se seu sofrimento.”

O ponto de partida é o corpo, não o espírito, nem a alma. É na concretude dá vida e das relações que ai se estabelecem que fazemos nossas teologias e experimentamos o Deus que da a vida e desconforta nossas certezas. É ali que encontramos quem deseja saber nosso nome, olhar nossa face,

contemplar nosso corpo e torná-lo membro de um corpo maior que nos completa e nos plenifica, nos saúda – nos da saúde.

Nossos corpos vivem situações de contradição de vida/morte. É neste contexto concreto e subjetivo que desenvolvemos nossas ações e que continuamos a viver no planeta.

“Que é ter saúde neste contexto concreto de vida, marcada por contradições? Saúde não é um estado, como quer a definição da OMS… Saúde, portanto, consiste na capacidade de ser pessoa, livre, criativa e determinada em qualquer situação, seja na doença, seja na “saúde”. (BOOF, 2002: p. 91)

Neste caminho de reflexão onde somos infectados e afetados pelo toque de Josefina me vem a necessidade que aparece em nosso cotidiano de resgatar a dimensão erótica da espiritualidade e da teologia. Por tantos séculos fomos apartados de nossos desejos e corpos que fomos “esquecendo” (fomos afastados da “verdade”) de que somos seres carentes de relações e carentes de mistérios. Precisamos disso. No caminho de busca de seu restabelecimento, não somente do seu corpo, mas também de seu espírito e de seu desejo, Josefina experimentou a eroticidade plena do contato entre Jesus e ela. A memória desse encontro nos transporta para a experiência de Deus fundante da nossa tradição: Deus é Amor! É uma experiência erótica: vivificadora, doadora de vida, transformadora dos sofrimentos em movimentos de busca.

“Erótica é nossa profunda dimensão de vínculo, saudade e desejo. É paixão de viver e deixar viver. Eros é riso e festa e dança. Ele possibilita a descoberta do novo, em novos patamares de existência e felicidade. Eros é fantasia, criatividade e união. Coesão de elementos na mesma unidade plural. Ao mesmo tempo harmonia e provocação. Eros pertence ao dinamismo do próprio amor. Paixão. Atração.” (MAÇANEIRO, 1995: p. 73)

Mulheres como Josefina (homens também) que crêem na ressurreição, crêem na possibilidade de vida continuada, de vida com harmonia, com qualidade de vida, vida com saúde, mesmo convivendo com os desequilíbrios do mundo, nos ajudam e nos convocam para entrar com ela nesse movimento:

  • Perceber-se necessitada/o – reconhecer as realidades de opressão e exclusão, mas ao mesmo tempo de articulação e de movimentação popular.
  • Decidir permanecer buscando – articular-se nas redes populares de reivindicação e de proposição de outros sistemas possíveis, outras teologias possíveis, outros atendimentos possíveis, outras democracias possíveis, outra políticas possíveis.
  • Permanecer buscando – envolver-se nos movimentos populares de busca e de luta pela saúde pública e de qualidade – defender o SUS neste Brasil tão carente, mas tão militante, buscar novos caminhos, buscar novas relações com o planeta.
  • Ir ao encontro, desinstalar-se e aventurar-se (bem aventurados/as são os que se põe em marcha … – paixão, aventura, desejo) – ocupar, resistir, produzir, cuidar da vida do planeta, movimento popular de saúde, movimentos ecológicos, rede nacional de pessoas vivendo com HIV/AIDS, articulação nacional de educação e praticas populares de saúde, rede de educadores em saúde, pastoral da saúde, movimento nacional de direitos humanos e do planeta, movimento antimanicomial, articulação nacional de agroecologia, articulação semi- árido, etc.
  • Enfrentar as dificuldades, enfrentar o dia-bolos, que impede o movimento, que atrapalha a busca, que massifica e aliena.
  • Surpreender com o toque que faz a diferença, reconstruir relações perdidas ou quebradas entre nós e com o planeta, fazer teologia desde a mãe terra.
  • Levantar-se para olhar nos olhos e dizer a “verdade”, mesmo com medo e trêmula (o medo não tem mais poder, o pecado não tem mais poder [Rm 6,1-11]).
  • Exigir seu lugar na comunidade
  • Espalhar o “shalom” experimentado e revelado.

Ó Deus,
Ajuda-nos a ver em nossos corpos e nos corpos de outras pessoas a manifestação carnal da tua divindade. Tu escolheste ser e viver num corpo como o nosso, e todas as dores e alegrias dos corpos das pessoas são sentidas pelo corpo de Cristo. Ajuda-nos a sentir a beleza e a dignidade dos nossos corpos: as carícias das pessoas, dos animais, da natureza; o gosto bom da comida, o cheiro do capim-gordura, dos jasmins, do feijão; o som do vento nas folhagens das árvores, o barulho do mar, os regatos que tagarelam com as pedras, os berimbaus, os órgãos, os tambores, o riso; o corpo arrepiado ao vento frio; o gosto das jaboticadas, das uvas, das mangas; o azul do mar… nós te agradecemos este estranho, terrível, maravilhoso poder do nosso corpo. Poder que o torna espiritual e imagem do teu amor, poder para sentir misericórdia e compaixão, de sorte que as dores de outros corpos são sentidas como se fossem nossas. Sofremos com os/as que sofrem e sabemos que, quando n’os mesmos sofrermos, não estaremos sozinhos/as. Por este corpo vivemos a fraternidade do amor. E queremos que tu nos enriqueças, libertando-nos dos limites estreitos de nossa pele, fazendo com que nosso corpo inche, para sentir as dores dos outros. E que assim – abertos/as à alegria e solidários/as no sofrimento, expressões de esperança e amor – nossos corpos sejam manifestações vivas do Corpo de Cristo, destino do Universo. Amém! (ALVES, 1999: p. 56)

BIBLIOGRAFIA
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