Leia a reflexão sobre Lucas 3,10-14, texto de Lilian Sarat
Boa leitura!
Neste terceiro domingo do Advento, onde celebramos a alegria que está cada vez mais perto, com o nascimento do Menino Jesus, nos encontramos com um texto do Evangelho de Lucas onde o personagem de João Batista é rememorado, assim como suas duras palavras, para aqueles que o seguiam. No início do capítulo temos a exposição de quem eram os donos do poder naqueles dias em que a Palavra de Deus veio até João, filho de Zacarias que vivia no deserto. Ao apresentar as instâncias do poder da época, Lucas nos traz informações sobre quem eram os inimigos do povo e do profeta e a quem a profecia de João Batista era endereçada. Imagino que seja por isso, sua opção de viver no deserto, mais livre destas estruturas e sem medo pregava o arrependimento com palavras nada fáceis de se ouvir. Se dirigia a multidão e os chamavam de “raças de víboras”. Uma pregação ameaçadora que levava as pessoas a perguntarem: “Que havemos pois de fazer?”
Quem eram aquelas pessoas que seguiam um andarilho, sem papas na língua que apontava o dedo até para os poderosos? Independente da classe social, é possível pensar que eram pessoas buscando respostas para o sofrimento, para as injustiças ou mesmo explicações para a sensação de fim de mundo, imposto pelo violento Império Romano, que tinha como Imperador Tibério César à época da pregação de João Batista.
Para a multidão sedenta, o Profeta apresenta respostas que podem parecer óbvias, porém são esquecidas ou não praticadas no cotidiano da vida. Pode parecer ser claro repartir com o irmão os seus bens, a sua comida ou sua roupa; entretanto numa sociedade de consumo e acúmulo, baseada na materialidade, a partilha ou mesmo a distribuição de riquezas não é nada óbvia. Por isso, de tempos em tempos é preciso aparecer profetas para nos lembrar que não há sustentabilidade possível para o planeta sem a cooperação, sem a partilha, sem a comunhão.
João Batista nos é apresentado como esse profeta, sem boa aparência, com palavras ásperas e contundentes e com a missão de trazer à consciência das pessoas, a urgência do sentido de comunidade e partilha, que vai se perdendo em meio ao individualismo e sede de poder.
Entre a multidão estavam lá os cobradores de impostos, classe trabalhadora oprimida pelo sistema romano, que espoliavam seus próprios parentes com a cobrança abusiva; perguntando também o que poderiam fazer. Outra resposta óbvia do João que pede para não cobrarem mais do que estipulado. Simplesmente deveriam obedecer a lei mosaica que dizia: Não roubarás!
Porém o que parece claro e evidente não é praticado e por isso são exortados pelo Profeta a deixarem de roubar. Também os soldados aparecem na narrativa perguntando: E nós, o que faremos? João nos traz outra resposta evidente “a ninguém maltrateis…” Os soldados também eram trabalhadores a serviço do sistema que impunham a ordem por meio da violência, produzindo ainda mais injustiças no meio do povo. Esses são convocados a mudar de atitude, assim como todos os perguntadores que aparecem no texto.
Quantas pessoas nestes tempos sombrios perguntando o que havemos de fazer? Muito à margem da sociedade, sem teto, sem chão, sem comida, sem esperança a procura de um Messias que lhes tragam as respostas para seus anseios e desesperança. Muitos pais e mães perguntando o que havemos de fazer? Pessoas de todas as classes perguntando o que faremos diante de uma realidade tão difícil em que vivemos. O Evangelho de hoje nos traz as respostas de forma simples e bastante óbvias, mas não menos profunda ou importante; e nos convoca nestes tempos de advento a refletir nossas práticas, que devem estar pautadas na partilha, no amor e na solidariedade.
Que a exemplo de João Batista possamos denunciar as injustiças e as violências que nos assolam cotidianamente e neste tempo de Advento nossa esperança seja renovada pela presença amorosa do Menino Jesus – o Deus conosco.