por Marcos Monteiro*
Meu querido inimigo,
Ontem eu tive um sonho estranho. Estava na cena da crucificação, naquele passado distante, e muita gente gritava: “Bandido bom é bandido morto!” E carregavam o seu nome e o seu número na túnica. Acordei assustado e pensativo e resolvi orar por você.
Você sabe que sou pastor evangélico, mas desses que não apoiam você, porque sempre apoiei os movimentos das sem-terra, sem-teto, sem-direitos, e apoiei em nome de Jesus, sem ódio e sem medo.
Se a criminalização dos movimentos sociais acontecer, serei considerado um bandido e talvez estarei na lista da morte, como Jesus. Você sabe que Jesus foi considerado um bandido pelo império romano e muitos de nós somos considerados criminosos pelo imperialismo global de hoje.
Mas fiquei pensando. Você se considera uma pessoa violenta? Não acredito que pense assim, mas você sabe que se tornou um símbolo da violência simbólica e estrutural, porque assumiu um discurso de ódio e votou contra tudo que era direito das trabalhadoras e dos pobres, dos que sofrem, e a favor de todos os privilégios dos ricos e poderosos, daqueles que causam sofrimento.
Já lhe disse que estou tentando amar você, meu inimigo, mas não é fácil. Você está claramente do lado dos que perseguem os profetas. Taí, lembrei novamente de Paulo Freire, aquele contra o qual você e seus aliados vociferam ódio. Ele escreve que entre os privilégios que os poderosos defendem, está aquele de definir quem são os violentos. Violência para os poderosos é a nossa luta pacífica por direitos, para trabalhadoras e trabalhadores pobres.
Voltei à cena da crucificação e vi muitas mulheres chorando pelo bandido, Jesus, sendo morto. Lembrei que bandido tem mulher e filha que choram pela sua morte. E você sabe que muitos considerados bandidos são injustamente acusados.
Fui levado pela imaginação para outra cena. Você no meio da multidão sendo esfaqueado. E não tive como não pensar: Será que o fanático não lhe considera um bandido? Será que ele tinha em sua cabeça naquele exato momento o seu slogan odioso: “Bandido bom é bandido morto?” Não sei.
Mas sei de uma coisa, Jesus mandou Pedro recolher a espada e afirmou que quem com espada fere com a espada será ferido. O contrário do armamento que você prega. E sei também que se fosse arma de fogo, você poderia estar morto agora.
Sou pastor evangélico e minha oração é que você viva muito, mas se converta. Mude de atitude, mude de discurso e mude de direção. E desista logo dessa mania nova de querer ser presidente. Você corre o risco de perder o seu emprego de deputado e ficar exposto a ser considerado bandido, talvez injustamente.
–
Marcos Monteiro, pastor batista. Esta é a terceira carta publicada pelo autor.
Leia as outras cartas publicadas pelo autor: