Reflexão do Evangelho

Seguimento de Jesus: Comunidades de Comunhão e Exclusão? Mt 15, [10-20] 21-28

  1. SOBRE O EVANGELHO

Atualmente a maioria dos estudiosos concordam com as informações sobre a elaboração da Comunidade segundo Mateus. Esse Evangelho teria sido escrito na cidade de Antioquia da Síria, nos anos 80 EC (Era Comum). As pessoas que participaram de sua elaboração pertenciam à tradição helenista (cultura grega) e tinham profundo conhecimento da Bíblia hebraica (em sua versão grega, a Septuaginta). Essa comunidade conhecia também todas as tradições cristãs já existentes.

É importante ainda ressaltar que, o Evangelho pertence à segunda geração do movimento de Jesus. Nesse tempo, as comunidades sentiam a necessidade de registrar as memórias da atividade de Jesus, bem como de sua própria trajetória no seguimento do seu projeto. A primeira geração de comunidades seguidoras de Jesus havia sofrido uma grande baixa com a guerra judaico-romana, que durou anos na Palestina.

  1. O CONTEXTO HISTÓRICO

A guerra entre o povo judeu e Roma representou uma grande mudança para o judaísmo e também para o grupo dos seguidores e seguidoras de Jesus, os judeus-cristãos. Após a guerra o único grupo que se salvou foi o dos fariseus. Esse grupo dedicou-se a reorganizar o judaísmo e fundou uma Academia ou Sinédrio em Jâmnia ou Jafne. O grupo dos fariseus assumiu a Torá – Lei Judaica – e passou a escrever comentários sobre ela. Nasceu assim, o judaísmo rabínico.

As comunidades judaico-cristãs situadas na Síria e na Palestina não aceitaram essa forma de judaísmo que excluía as experiências diferentes. Eram duas formas diferentes de viver a herança deixada pelo povo de Israel. Começam a acontecer conflitos entre os dois grupos e cresce o afastamento entre as Comunidades seguidoras de Jesus Cristo e as sinagogas (casa de oração dos judeus) que seguiam o judaísmo rabínico.

  1. ONDE ESTÁ JESUS E SEUS DISCÍPULOS?

De acordo com o presente texto, Jesus chega na região de Tiro e Sidônia. Tiro é uma cidade estrangeira. Não pertence a Israel e não professa a fé no Deus de Israel. Uma cidade considerada idólatra, profana e ímpia. Fica a norte da Galileia, à beira mar, na direção oposta à de Jerusalém. Pior ainda, em sentido religioso, os sidônios que habitavam aquela região eram considerados depravados. Eram “acusados de fazerem lascivas orgias sexuais relacionadas com a deusa Astorete (Astarte)”, atitudes essas como uma parte destacada da sua adoração.

Vale a pena destacar que Jesus tinha acabado de ter uma discussão sobre as tradições e sobre o puro e o impuro, com alguns fariseus e doutores da Lei, vindos de Jerusalém. Termina explicando essa discussão aos discípulos que ainda não tinham compreendido o motivo dela. (Mt 15,1-20).

  1. O ENCONTRO-DESENCONTRO

É neste contexto que Jesus é abordado por uma mulher, duplamente discriminada (por ser mulher e estrangeira) que busca nele ajuda para sua filha. Este encontro, aqui apresentado, deixa transparecer posições diferentes que a própria Comunidade de Mateus vivia, representada pelos discípulos (primeira posição) que incentivam Jesus a despedir a mulher. Jesus é apresentado (no primeiro momento) como um autêntico representante do mundo judeu e ignora a mulher. Em seguida fala a ela como alguém que considera as mulheres e as pessoas estrangeiras como inferiores. O silêncio descrito revela a insensibilidade da própria comunidade que pensa e age assim. Insensibilidade de quem não se deixa comover pela dor e gritos daquela mulher, mãe, filha que recorre a Ele como alguém que confia, até mais que muitas outras pessoas que, em diversos lugares, e muitas vezes tinham escutado as pregações de Jesus, ou visto os seus milagres e nunca se deixaram converter para um seguimento verdadeiro. O ponto alto dessa primeira posição é a fala colocada na boca de Jesus que revela o discurso repetido na comunidade: “Eu fui mandado somente para as ovelhas perdidas do povo de Israel.” (Mt 15,24).

  1. A MUDANÇA

A vida da comunidade porém tem uma posição diferente na busca do seguimento de Jesus. Essa posição não aceitava a discriminação ou a exclusão de pessoas, conforme era proposto por um judaísmo rabínico. Uma outra expressão da busca de viver a herança deixada por Israel, que a Comunidade de Mateus procurava colocar em prática, naquele momento, aparece na boca daquela mulher estrangeira, que não abaixa a cabeça diante da resposta recebida. A mulher se utiliza da mesma palavra colocada na boca de Jesus para apresentar os seus argumentos de inclusão e de reconhecimento do seu lugar na vida da Comunidade: “Sim, Senhor, é verdade; mas também os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.” (Mt 15,27). Ela se manifesta assim, como a expressão e a voz das pessoas que estavam buscando o reconhecimento como filhas de Deus e no entanto, estavam sendo impedidas de serem acolhidas no seio da Comunidade.

A Comunidade de Mateus recebe um novo alento quando ela passa a ouvir a voz dos “sem voz”, os gritos que sobem ao céus, os clamores dos oprimidos, quando ela passa a perceber a dor das pessoas que estavam pedindo para ela superar a escravidão que seus antepassados viveram na escravidão do Egito. Lá o Deus de Israel ouviu o clamor do seu povo e o libertou da casa da maldição (Ex 3,7-8). Agora ela faz um gesto de conversão e coloca na boca de Jesus a expressão que traduz essa atitude: “Mulher, é grande a sua fé! Seja feito como você quer.” E o texto completa: “desde esse momento a filha dela ficou curada.” (Mt 15,28).

Jesus não veio só para um povo, só para uma cultura. A sua missão é ampla. Ele veio para salvar a todas as pessoas que o Pai Lhe confiou. Na sua Salvação não cabe exclusão, não pode haver lugar somente para os que se acham puros, perfeito, certinhos. Quem precisa de médicos são as pessoas doentes e Ele veio para chamar pecadores e pecadoras (cf Mt 18,11).

  1. E HOJE?

Ainda temos pessoas excluídas das Comunidades? Foram elas que fizeram essa escolha? As práticas nossas ajudam ou atrapalham elas chegarem? Quando vem até nós de que maneira elas são recebidas? Elas são ao menos ouvidas?

Meditando a Liturgia da Palavra que nos é proposta aprendamos com a Comunidade de Mateus a viver o seguimento de Jesus Cristo em tempos de tantas exclusões e pessoas fora da convivência comunitária.

OBS: Para a Liturgia da Igreja Católica Apostólica é reservado no 3º domingo de agosto o texto magnífico de um outro encontro que mostra o protagonismo das duas Mulheres grávidas de seus primogênitos: Maria que visita a sua prima Isabel (Lc 1,39-56). Aprendamos também com elas.

Pe. Manoel David Neto
CEBI-ES

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