Reflexão do Evangelho

Reflexão do Evangelho: Hino à paixão de Deus

Leia a reflexão sobre João 1,1-18, texto de Luís Sartorel.

Boa leitura!

Todas as introduções de livros ou textos são escritas no fim da obra, também João resume aqui, no prólogo do seu evangelho, todo o conteúdo da sua mensagem.

É bom dar uma olhada na sua composição, para entender melhor o enredo:

v. 1-5 – a Palavra está junto de Deus, e é Deus; e por meio dela tudo foi feito v. 16-18 – a Lei é superada pela graça em Jesus Cristo, Manifestação do Deus invisível
v. 6-8 – intermédio sobre o testemunho de João       Batista v. 15 – intermédio sobre o testemunho de João Batista
v. 9-11 – a Palavra vem como Luz ao mundo sendo rejeitada pelos “seus”… v. 14 – a Palavra se fez carne e mora no meio de nós, plena de graça e verdade
                   (dobradiça v. 12-13) … mas é acolhida pelos “filhos de Deus”

 

Este esquema nos mostra como havia uma Palavra/Projeto desde o começo, que era também uma proposta de Deus para a humanidade, e esta Palavra veio morar no meio de nós trazendo-nos e anunciando-nos esta proposta (a nossa resposta é: aceita-la ou rejeitá-la). A proposta é a vivência do amor sem limites.

Podemos observar como o esquema acima nos evidencia este processo: o texto é composto com uma construção de dois painéis, com passos paralelos (setas no meio) e com o proceder na história desta presença amorosa de Deus (setas externas, na direção descendente e ascendente).

Vamos agora refletir sobre alguns pontos importantes.

Normalmente, na Bíblia, os escritores colocam no centro do texto o que acham mais significativo da mensagem. Assim nós começaremos a nossa reflexão indo diretamente ao versículo central, talvez o mais importante: “veio para o que era seu, mas os seus não a (a Palavra) acolheram” (v. 11) e, à recusa, contrapõe o aspecto positivo: “A quantos porém a acolheram, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (v. 12). É interessante notar que “filhos de Deus” o somos somente em potencialidade, segundo este texto de João, porque a verdadeira filiação é dada pelo acolhimento de Jesus. Deus, portanto, não anula a pessoa dominando o seu ser, mas a potencializa comunicando-lhe a sua mesma capacidade de amar.

Outro ponto importante é a conclusão a que chega o texto. Escreve João no v. 18: “A Deus, ninguém jamais o viu;… o unigênito, que é Deus,… no-lo descreveu”. Esta é uma afirmação muito pesada, contradizendo até a própria Bíblia, porque na Bíblia se afirma que Moisés e outros personagens viram Deus. Todas as descrições de Deus feitas até aqui, mesmo as de Moisés, são limitadas, são incompletas. Às vezes desviantes ou até falsas. Somente o “Unigênito”, que vem do seio do Pai, e que “Ele mesmo é Deus”, na plena intimidade com o Pai, Ele o revelou. Assim dizendo, João quer nos obrigar a encentrar toda a nossa atenção em Jesus: é Deus que é igual a Jesus, e é por Ele que nós conhecemos Deus. Todas as ideias sobre Deus, anteriormente formadas na nossa cabeça, não correspondem na verdade à real. Tudo o que vemos em Jesus é Deus, e por isso devemos continuamente nos “questionar” sobre a imagem de Deus que existe em nós: a que temos pode não ser a verdadeira.

Justamente para fazer-nos entender isso, foi necessário que Jesus instaurasse uma nova relação entre a humanidade e Deus; e, continuando de trás pra frente, no v. 17 está escrito: “A Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”. Moisés, o servo de Deus, tinha iniciado uma relação entre “servos e o seu Senhor”, baseada na obediência da lei; mas, Jesus, que não é servo e sim Filho de Deus, propõe uma nova relação entre “os filhos e o seu Pai”. Com a expressão: a graça e a verdade, João quer indicar o amor fiel e verdadeiro e, portanto uma nova relação baseada não sobre a lei e o medo, e sim no acolhimento do seu amor.

Tudo isso nos leva a entender melhor o que significa “Todos nós recebemos graça por graça” (v. 16), porque ao amor recebido do Pai corresponde um amor comunicado aos irmãos, e este é o caminho de crescimento de todos os crentes: pois maior será a resposta deste amor ao irmão e, por sua vez, maior será a resposta por parte de Deus com o seu amor. Assim funciona este “redemoinho” crescente e sem fim: mais amor recebemos e mais amor podemos dar, recebendo em troca um crescimento no amor. Este crescimento no amor é o que realiza de verdade a nossa vida e nos amadurece como pessoas.

Em dois pontos que funcionam como “pisca-pisca” para nos alertar (v. 15 e paralelo 6-8), é lembrada a figura de João Batista que é testemunha privilegiada da Luz que deve vir ao mundo (cf. 1,19-36), e este é o profeta que encerra o Antigo para anunciar o Novo. Jesus é a novidade do Reino.

No texto, uma afirmação importante, talvez a mais conhecida, do evangelista: “e a Palavra se fez carne…” (v. 14). A “Palavra” nos lembra a Palavra criadora, mas indica também o projeto de Deus, o plano de Deus formulado segundo a sua sabedoria. É interessante notar como o evangelista não escreveu “se fez homem” e sim “se fez carne…”, que indica a pessoa humana em toda a sua fraqueza. O projeto de Deus não se realiza num super-homem que só se pode admirar, mas não imitar, e sim, se realiza na fraqueza da natureza humana. Isto significa que Deus se manifesta na humanidade: quanto mais a pessoa se torna “humana”, mais se manifesta o divino que está nela. E esta Palavra que se fez carne, pelo projeto de Deus que se faz carne, é a plenitude do amor de Deus que se manifesta na pessoa humana, que se torna assim o único verdadeiro santuário que irradia o amor do Pai.

Desta realidade nos vem também a raiz da alegria cristã (cf. Jo 15,11), que é plena e profunda. Ao contrário da crença dos povos pagãos, em que os deuses pagãos não queriam que os homens vivessem uma alegria demasiada, e por isso exigiam sacrifícios para apaziguar as suas mágoas; a alegria dos homens era vista como a usurpação de uma coisa que só pertencia aos deuses.

No mesmo v. 14, podemos ler que a Palavra que se fez carne é “plena de graça e verdade”, isto é “completa e plenificada” e podemos assim dizer que o que distingue Jesus é o seu amor fiel e total, sem medidas. O amor é verdadeiro quando é fiel, pra o que der e vier. É por isso que esta Palavra que se fez carne nos coliga com o começo deste texto: “No princípio era a Palavra…”. João aqui amplia a teologia do livro do Gênesis, que começa dizendo: “No princípio, Deus criou o céu e a terra…”. Parece que João quer lembrar o pensamento dos mestres judeus quando escreveram no livro dos Provérbios: “Antes que surgissem as montanhas, antes das colinas, eu (a Sabedoria) fui gerada (…) eu estava lá quando Ele firmou os céus (…), ao seu lado estava eu, qual mestre de suas obras (…) brincando o tempo todo (…) junto à humanidade encontro as minhas delícias” (Pr 8,22-31), onde a Sabedoria é personificada e é a expressão do projeto de Deus, a Palavra feita Projeto. O evangelista quer dizer que ainda antes de criar o céu e a terra, existia esta Palavra, Palavra e Sabedoria criativas, uma Palavra que expressa um projeto, que, por sua vez, interpela Deus. E o projeto era este: doar à humanidade a condição divina. Podemos assim definir este prólogo do evangelho de São João como um hino do amor de Deus por nós. Deus é tão apaixonado pela humanidade que, ainda antes de criar o mundo, tinha o projeto de dar a ela a sua própria condição, a divina.

Podemos concluir dizendo que este hino, conhecido como Prólogo de São João, é a manifestação do “otimismo” de Deus, é uma proposta para cada pessoa tornar-se filha de Deus. Filhos de Deus não é um status e sim uma escolha contínua e cotidiana do amor fiel como o que o Pai nos comunica.

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