Reflexão do Evangelho

Para não dizer que não falei das Martas e Marias – Maria Soave

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS MARTAS E MARIAS

(LC 10,38-42)

É muito comum, numa roda de amigos, num churrasco de domingo, ou na partilha da cuida de chimarrão, ouvir piadas. Nessas rodas, antes ou depois, se escutam piadas sobre mulheres.

Mulheres… nas piadas, elas são sensuais, burras, fofoqueiras… mulheres… Nos contos populares ou são boazinhas, só à espera de um príncipe encantado, ou malvadas bruxas, tramando algo de ruim contra outras mulheres. Estou vivendo nesta vida como mulher, construindo, nas relações cotidianas, a humanidade do meu viver mulher. Não é fácil viver como mulher neste mundo assim violentamente patriarcal! Estou tentando…

Tento de um jeito radicalmente desconfiado. Desconfiar é uma atitude de espiritualidade, de alma no corpo, de quem quer resgatar e construir uma história que devolva dignidade a todos e todas os pequenos, sem voz e vez. Desconfiar, para poder ouvir um canto desde sempre cantado baixinho e sufocado pelas “palavras de ordem” gritadas por quem tem poder. Como mulher carrego nos olhos o choro sufocado de milhões de mulheres. Como mulher carrego a ferida da história não contada e esquecida de milhões de mulheres. Sou mulher, por isto desconfio das histórias que ocupam as estantes oficiais das importantes bibliotecas. São histórias contadas a partir de quem? As “verdades” de quem? Crianças, mulheres e empobrecidos, onde estão nessas histórias? Sou mulher, por isso desconfio…

O outono tinha chegado de mansinho, trazendo alguns dias de frio. As oliveiras brilhavam grávidas ao sol doce daqueles dias. Dali a pouco, óleo novo encheria os odres de barro cozido. Óleo e vinho novos: fartura e comida para o inverno que estava se aproximando.

Todas as tardes, Marta guardava um punhado de azeitonas maduras. Em breve, seriam espremidas e transformadas em óleo. Um pouco de azeite é fundamental em casa. Um pouco de azeite reaviva o sabor da comida. O óleo de oliva não deixará azedar o vinho. Um pouco de azeite cura a dor de ouvido e de garganta, faz as crianças crescerem fortes e sadias. Um pouco de azeite deixa a pele macia e cheirosa para o amor…

Fazia muitas luas que Jesus não aparecia naquela região da periferia de Jerusalém chamada Betânia. Era homem do norte, lá da Galiléia, terra de curandeirosn e profetas, gente do campo em luta contra o poder romano e a hipocrisia do templo. Betânia não. Era uma pequena ilha de amor e ternura. Lá se encontravam a casa das discípulas e dos discípulos amados: Marta, Maria e Lázaro.

Era gostoso para Jesus ir à casa de Marta (provavelmente era a mais velha dos irmãos, por isso a casa tinha o seu nome). Crianças, mulheres e pobres se reuniam na casa de Marta. Havia carinho. Maria contava boas histórias que faziam a esperança brilhas nos olhos das pessoas. Marta bendizia Adonai, o Senhor, e repartia o pão. Lázaro e Jesus eram colo seguro para as crianças…

A casa de Marta, mesa da Palavra, do Carinho e da Fração do Pão. A casa de Marta, lugar de inclusão de mulheres, pobres e crianças. Maria e Marta, diáconas da igreja doméstica de Betânia.

Fazia muitas luas que Jesus não aparecia naquela região do sul chamada Betânia. Uma nova moda de pensamentos era trazida pelo exército romano, invadindo também aquelas regiões do sul da Palestina. Filosofia grega e desenvolvimento do pensamento judaico. Alma separada do corpo. Sagrado separado do profano. Céu separado da terra. Mulher inferior ao homem. Algumas pessoas do grupo de Jesus deixavam-se levar por esta nova onda. Diziam que lugar de mulher não era na diaconia, na coordenação da comunidade, no ministério da Palavra e da Fração do Pão. Diziam que mulher era para ficar cozinhando e ouvindo. Tinha até gente que dizia que mulher nunca dava certo porque sempre acabava brigando com outra mulher.

Jesus foi à casa de Marta. O coração estava molhado de tristeza. Sempre tinha desejado no seu grupo um discipulado de pessoas iguais, homens e mulheres vivendo o amor e o serivço aos pobres. E agora, em nome da filosofia dos poderosos romanos, queria-se expulsar as mulheres dos apostolado.

O coração de Jesus estava encharcado de tristeza. Naquele momento, Jesus se lembrou de uma palavra: Dabar – “o que diz acontece”. Palavra ouvida e falad. “Maria, Marta, mulheres, não tenham medo. Continuem vivendo, ouvindo e anunciando a Palavra que gera vida nova. Novas relações! Uma Igreja e uma sociedade de iguais! É o fim do poder violento do patriarcado! Marta, não se desespere! Anuncie a Palavra que quebra o fetiche do poder. Palavra que resgata a memória dos pequenos… Maria escolheu a parte melhor… Sejam desconfiadas, afinem os ouvidos do coração para reconhecer as histórias escondidas, sufocadas, apagadas…”

Extraído de Luas… Contos e En-cantos dos Evangelhos, de Maria Soave (em reimpressão). Confira outros livros da autora.

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