Reflexão do Evangelho

É convivendo que os olhos se abrem (Jo 9,1-41) [Mesters, Lopes e Orofino]

O encontro de Jesus com um cego:

O texto sobre o qual meditamos é comprido. Mas é um texto muito vivo. Difícil de ser cortado pelo meio. Trata da cura de um cego, a quem Jesus devolve a luz aos olhos. É uma história cheia de simbolismos. Temos aqui mais um exemplo concreto de como o Quarto Evangelho tira raio-X para revelar o sentido mais profundo que existe escondido dentro dos fatos. É o sexto sinal, realizado em dia de sábado (Jo 9,14) e ligado à Festa das Tendas (Jo 7,2.37), que era a festa da água e da luz.

As comunidades do Discípulo Amado identificaram-se com o cego de nascença e com a sua cura. Cegas desde o nascimento por causa da prática legalista da Palavra de Deus, elas conseguiram enxergar a presença de Deus na pessoa de Jesus de Nazaré. Para chegar a isso, tiveram que fazer uma travessia cheia de conflitos e de perseguições. Por isso, pela descrição das várias etapas e conflitos da cura do cego de nascença, descreveram também o itinerário espiritual que elas mesmas percorriam, desde a escuridão da cegueira até a luz plena da fé esclarecida em Jesus.

 

  1. João 9,1-5: O ponto de partida: cegueira a respeito do mal que existe no mundo

Ao verem o cego, os discípulos perguntaram: “Quem pecou, ele ou os pais, para ele nascer cego?” Naquela época, todo sofrimento era visto como castigo de Deus por algum pecado. Esta mentalidade precisava ser combatida. Associar um defeito físico ao pecado era uma das maneiras de os sacerdotes da Antiga Aliança manter seu poder sobre o povo. Para os saduceus e fariseus, um defeito físico ou uma doença eram sinais da maldição de Deus sobre a pessoa. Jesus não era desta opinião e corrigiu os discípulos. Não existe pecado na pessoa. “Nem ele nem os pais pecaram, mas para que nele sejam manifestadas as obras de Deus!” Obra de Deus é o mesmo que Sinal de Deus. Aquilo que para a época era sinal da ausência de Deus, para Jesus vai ser sinal da sua presença luminosa no meio de nós. Ele disse: “Enquanto é dia, tenho que realizar as obras do Pai que me enviou. Quando vem a noite, já não dá mais para trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.” O Dia dos Sinais começou a raiar quando Jesus realizou o primeiro sinal em Caná. Mas o Dia está chegando ao fim e logo será Noite. A noite é a morte de Jesus.

 

  1. João 9,6-7: O sinal do enviado de Deus

Jesus cuspiu na terra, fez lama com sua saliva, aplicou sobre os olhos do cego e pediu que fosse lavar-se na piscina de Siloé. O homem foi e ficou curado. Este é o sinal! João comenta, dizendo que Siloé significa enviado. Jesus é o Enviado do Pai que realiza as obras, os sinais do Pai. O sinal deste “envio” é que o cego começou a enxergar. E, tal como Deus criara o ser humano a partir do barro, Jesus vem recriar as pessoas. Nele, somos novas criaturas (2Cor 5,17).

 

  1. João 9,8-14: A base da fé é a humanidade de Jesus

A primeira reação veio dos vizinhos e das pessoas chegadas. O cego era muito conhecido. Eles ficaram na dúvida: “Será que é ele mesmo?” O cego respondia: “Sou eu mesmo!” Perguntaram: “Como é que se abriram seus olhos?” O que antes era cego tem que testemunhar: foi o homem Jesus quem me abriu os olhos. O fundamento da fé em Jesus é aceitar que ele é um ser humano igual a nós. Os vizinhos perguntaram: “Onde está ele?” – “Não sei!” Eles não ficaram satisfeitos com as respostas do cego. Para tirar tudo a limpo, levaram o homem até os fariseus, que eram as autoridades religiosas. Aquele dia era um sábado! Em dia de sábado era proibido exercer a medicina.

 

  1. João 9,15-17: Jesus é o profeta, ele responde às aspirações do povo

Diante da polêmica criada pelo sinal de Jesus, o caso foi para as autoridades religiosas. O homem agora testemunha o sinal de Jesus diante dos fariseus, contando tudo de novo. Cegos na sua observância das leis, alguns fariseus comentaram: “Ele não é de Deus, porque não observou o sábado!” Não aceitavam que o homem Jesus fosse um sinal de Deus por fazer tal coisa num dia de sábado. Mas outros se questionavam: “Como é que alguém, sendo pecador, pode realizar tais sinais?” Aí perguntaram ao cego: “E você, o que nos diz a respeito de Jesus?” O homem avançou no seu testemunho. Agora, para ele, Jesus “é um Profeta!”

 

  1. João 9,18-23: Cegos pelo preconceito da lei, os fariseus não aceitam o testemunho da lei

A terceira reação vem dos pais. Os fariseus, agora chamados de judeus, não acreditavam que o rapaz tivesse sido cego. Achavam que fosse uma fraude montada. Por isso, mandaram chamar os pais e perguntam: “Este é o filho de vocês? Ele nasceu cego? Se nasceu cego, como é que agora enxerga?” Com muita cautela, os pais responderam: “É nosso filho e ele nasceu cego! Como agora enxerga não sabemos, nem sabemos quem o fez enxergar. Vocês interroguem a ele. Ele tem idade!” A cegueira dos fariseus gerava medo no povo, pois quem fizesse a profissão de fé em Jesus como Messias seria expulso da sinagoga. A conversa com os pais revelou a verdade, testemunhada por duas pessoas. Mas as autoridades religiosas se negaram a aceitá-la. A cegueira delas era maior que a evidência. Elas, que tanto insistiam na observância da lei, agora não queriam aceitar a lei que declarava válido o testemunho de duas pessoas (Jo 8,17).

 

  1. João 9,24-34: O discípulo não é maior que o mestre. O mestre foi rejeitado…

Chamaram de novo o cego e disseram: “Dá glória a Deus! Sabemos que este homem é um pecador!” Dar glória a Deus significava: “Peça perdão pela mentira que você nos pregou!” O cego tinha dito: “Ele é um profeta!” Conforme os fariseus, ele deveria ter dito: “Ele é um pecador!” Mas o cego era vivo. Ele disse: “Se ele é pecador, não sei. O que sei é que eu era cego e agora estou enxergando!” Contra fato não vale argumento! De novo, os fariseus perguntaram: “O que ele fez? Como abriu seus olhos?” O cego respondeu com ironia: “Eu já disse a vocês! Vocês também querem tornar-se discípulos dele?” Responderam: “Você, sim, é discípulo dele. Nós somos discípulos de Moisés! Sabemos que Deus falou a Moisés. Mas esse Jesus, nós não sabemos de onde é!” Novamente, com fina ironia, o cego disse: “Espantoso! Vocês não sabem de onde ele é, e ele me abriu os olhos! Se este homem não viesse de Deus, não seria capaz de fazer um sinal desses!” Confrontado com a cegueira dos fariseus, a luz da fé cresceu dentro do cego. Ele rompeu com a velha observância da Lei de Moisés, afirmando que quem lhe abriu os olhos só pode ser alguém que veio de Deus. Esta profissão de fé resultou em sua expulsão da sinagoga. Assim acontecia também no fim do século I. Quem quisesse professar sua fé em Jesus tinha de romper laços familiares e comunitários. Assim acontece até hoje. Quem decide ser fiel a Jesus sofre e corre o perigo de tornar-se um excluído em sua própria família e vizinhança.

 

  1. João 9,35-38: A nova comunidade: Jesus o acolhe e ele se entrega

Jesus não abandona quem por causa dele padece ou é perseguido. Quando soube da expulsão, procurou o homem e o ajudou a dar mais um passo, convidando-o a assumir sua fé no Filho do Homem. Ele respondeu: “Quem é, Senhor, para que eu creia nele?” Jesus respondeu: “Você está olhando para ele. Sou eu que estou falando com você!” O cego exclamou: “Creio, Senhor!” E prostrou-se diante de Jesus. A atitude do cego diante de Jesus é de total confiança e de inteira aceitação. De Jesus ele aceita tudo. Esta é a fé que sustenta as comunidades do Discípulo Amado.

 

  1. João 9,39-41: Uma reflexão final

O cego, que não enxergava, acaba enxergando melhor que os fariseus. As comunidades, que antes eram cegas, descobrem a luz. Os fariseus, que pensavam enxergar corretamente, são mais cegos que o cego de nascimento. Presos à velha observância, eles mentem quando dizem que veem. O pior cego é aquele que não quer enxergar! Os fariseus. Na verdade, continuam cegos.

 

O nome “EU SOU”

Para esclarecer o significado da cura do cego de nascença, o Quarto Evangelho lembrou a frase de Jesus: “Eu sou a luz do mundo!” (Jo 9,5; 8,12). Em vários outros lugares e oportunidades, repete esta mesma afirmação: EU SOU. O Evangelho de João, no seu conjunto, é uma resposta para a pergunta inquietante feita pelos contemporâneos de Jesus, tanto discípulos quanto  adversários:  “Quem  és tu?” (Jo 8,25) ou “Quem pretendes ser?” (Jo 8,53). Para responder a essas questões e, ao mesmo tempo, revelar a profunda identidade entre ele e o Pai, Jesus repete várias vezes a expressão “Eu sou” (Jo 8,24.28.58). Dessa forma, a comunidade joanina quer-nos mostrar que fez a experiência com Jesus como a encarnação do Deus libertador do Êxodo (Ex 3,1-14).

Além disso, Jesus repete a expressão com complementos: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6,34.48); “Eu sou o pão vivo descido do céu” (Jo 6,51); “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12; 9,5); “Eu sou a porteira” (Jo 10,7.9); “Eu sou o bom pastor” (Jo 10,11.14); “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11,25); “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6); “Eu sou a videira” (Jo 15,1); “Eu sou rei” (Jo 18,37).

Esta revelação de Jesus atinge seu ponto alto numa discussão com os judeus em que ele afirma: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que Eu sou” (Jo 8,28).

O título que melhor resume o resultado desta busca é “Eu sou” (Jo 8,58). Este nome é como que o ponto de chegada após uma longa caminhada. “Eu sou” é o mesmo que Javé, o nome que Deus assumiu no êxodo como expressão da sua presença libertadora no meio do povo (Ex 3,14). Agora, para as comunidades do Discípulo Amado, o verdadeiro rosto deste Deus é o rosto de Jesus de Nazaré: “Quem me vê, vê o Pai!” (Jo 14,9). Depois do exílio babilônico, no Antigo Testamento, o nome sagrado Javé, que aparece quase 7 mil vezes no Antigo Testamento, foi substituído pela palavra Senhor. Desde Pentecostes, os discípulos e as discípulas chamam Jesus de Senhor (At 1,36; Fl 2,11; Jo 20,28). Até hoje dizemos: nosso Senhor Jesus Cristo.

 

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