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SOUC 2016: Todas as coisas

SOUC 2016: Todas as coisas
O mundo moderno nos impõe uma dinâmica pesada e desumana. Somos, desde a primeira infância, treinados/as para uma competição implacável em meio a uma “selva de pedras” feroz, onde seu status e condição financeira significam o quanto você é bem-sucedido/a e feliz. Em pouco tempo, achamos que faz parte do que é natural competir, explorar, eliminar e, com o passar dos anos nesse quase “canibalismo”, o/a outro/a vira o/a inimigo/a inevitável e o Planeta, lugar de espoliação.

Nesta dinâmica sistêmica, não há espaço para o cuidado. Tudo o que estiver ao alcance deve ser prontamente utilizado para meus objetivos e prazeres, não importando as consequências para outrem. Qualquer elemento, pessoa ou recurso torna-se “meio para” e, como tal, percebido e afirmado como objeto, como mercadoria, ou seja, “coisificado”. Quando alcançamos esse estado de consciência, de que pessoas/relações/planeta são coisas, conseguimos facilmente descartar aquilo que não mais serve ou explorar até a escassez recursos sem se importar com as consequências de nossos atos. Aqui, a fala de Leonardo Boff faz grande eco quando afirma que “se, ao largo da vida, o ser humano[2] não fizer com cuidado tudo o que empreender, acabará por prejudicar a si mesmo e por destruir o que estiver à sua volta. Por isso, o cuidado deve ser entendido na linha da essência humana”[3]. Parece que abandonamos nossa essência e os prejuízos já estão em nossos corpos.

Aqui cabe uma reflexão crítica de onde estamos e de nossa percepção de mundo e suas dinâmicas. É inegável que os recursos naturais que antes se consideravam inesgotáveis estão todos entrando em colapso. Ainda mais límpido aos olhos são as relações humanas cada vez mais abaladas, frágeis e autocentradas. Criamos e idolatramos um modelo de sociedade que nos suga a essência da alma, tem roubado vidas e apagado esperanças. Tenho olhado sempre para nossa situação e ouvido ecoar no meu ser o alerta de Jesus Cristo: “pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”[4].

Diante deste cenário, a fé cristã precisa assumir sua responsabilidade e se colocar a serviço da Casa Comum, percebendo-se como serva humilde e proclamadora da Esperança que faz renascer a vida. A fala do Cristo aponta para essa dimensão quando diz: “eis que faço novas todas as coisas”[5]. Faz-se indispensável assumir mais uma vez a radicalidade de nossa fé que afirma categoricamente não ser em favor de alguns poucos, mas aponta a renovação e a restauração da Vida, em sua totalidade, logo, de toda a humanidade, bem como de todo o Planeta. A restauração é integral, de todas as coisas.

Tendo essa realidade restauradora que faz brotar água em terra seca, que faz renascer a flor da esperança em nossa existência, devemos proclamar que somos todos e todas filhos e filhas do mesmo Pai. Somos chamados a proclamar a unidade de todos e todas, tendo claro que nosso discurso não pode ser vazio, mas de prática e testemunho vivo dessa unidade em Cristo. Nesta unidade, percebendo cada um e cada uma como irmão e irmã é que conseguiremos ser “a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”[6]. Devemos resgatar como prática essencial da vida cristã a dinâmica do andarmos lado a lado, lutando pelo bem da Casa Comum, assumindo uma espiritualidade público-ecumênica, disposta a estar nas fronteiras e ser profética, ou seja, pelo bem de todas e todos, assumindo nossa alteridade como fruto da graça e Dom do próprio Deus TriUno que vem a nós.

Quando estendemos a mão, mesmo em nossas alteridades, fazemo-nos corresponsáveis pelo agir de Deus na história e alinhamos nosso coração à fala do próprio Deus na voz do profeta: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”[7]. Nossas diferenças não podem ser justificativas para a exploração, quer do próximo ou da Natureza. Precisamos, mais uma vez, correr os riscos de uma vida que seja ao mesmo tempo testemunha fiel de uma nova forma de ser-viver os relacionamentos e, por isso, uma vida que se faz denúncia, apontando a exploração, opressão e a desumanização das relações. Dessa forma, poderemos juntos, como irmãos e irmãs, viver mais uma vez na dinâmica do cuidado em sua integralidade, vendo em nosso tempo “um novo céu e uma nova terra”[8].
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* Por Deivis Macedo, casado com Elaine há 13 anos e pai de Alice. Farmacêutico e Teólogo. Especialista em Ministério com Juventude pela FLAM-SP; Pastor de Jovens na Primeira Igreja Batista em Agostinho Porto, São João de Meriti, Rio de Janeiro. Autor do livro: REJU: uma proposta da presença “público-ecumênica” da fé cristã, publicado pela Editora Reflexão.

[2] Acréscimo do autor.

[3] BOFF, Leonardo. Saber Cuidar. Editora Vozes. p., 39.

[4] Marcos 8.36.

[5] Apocalipse 21.5.

[6] 1 Pedro 2.9.

[7] Amós 5.24.

[8] Apocalipse 21.1.

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