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Quando o mestre é um monstro

por Isabela Garrido do blog Tem Mulher na Igreja*

O assunto da semana foi o caso João de Deus, com centenas de mulheres denunciando os abusos e estupros cometidos por ele. Não é a primeira vez que vemos um escândalo envolvendo líderes espirituais que se aproveitam da sua autoridade e credibilidade. Também não é privilégio de uma só religião – todas têm seus falsos profetas que escandalizam o meio. Mas como é possível uma mesma história se repetir tantas e tantas vezes?

É possível porque ainda não perdemos a mania de idolatrar homens iguais a nós. Em várias passagens a Bíblia condena a idolatria e deixa bem claro que todos somos pecadores e não merecemos a graça de Deus. Mas ainda assim insistimos em colocar no altar pessoas comuns, dando-lhes um poder que elas não têm e, junto com ele, o aval para que façam o que quiserem. O poder embriaga.

Que fique bem claro: não estou culpando as vítimas de João de Deus pelo que aconteceu, pois elas também foram vitimadas pela idolatria dedicada a ele. Afinal, foi o fato dele ser [o grande] “João de Deus” que as inibiu por muito tempo de denunciar. Quem acreditaria nelas? O que quero é chamar atenção pra esse erro muito comum que acontece em todo meio religioso e que acaba servindo como uma manta para acobertar pessoas mal intencionadas, que veem na religião um lugar seguro e confortável para exercer seu desvio de caráter e praticar seus delitos.

Cuidado sempre

Existe uma necessidade real de exercermos a nossa consciência crítica dentro da igreja / instituição religiosa. “Examinai tudo, retende o que é bom” (1 Ts 5:21). Não podemos nos sujeitar a tudo que dizem os líderes só porque eles estão dizendo. Não podemos nos esquecer que pastores, padres, gurus ou quaisquer outras lideranças espirituais são, antes de tudo, seres humanos, fracos, pecadores, destituídos da glória de Deus (Rm 3:23). Não existe santidade absoluta. Ter isso sempre em mente é o primeiro passo para nos protegermos dos abusos.

Desconfie de lideranças que se vendem como infalíveis, que exigem ser consultadas pra tudo, que se colocam como necessárias para guiar os fieis e que, sobretudo, aceitam a adoração que lhes é destinada. Desconfie de igrejas que ensinam a obedecer cegamente ao pastor, que não permitem questionamentos nem promovem discussões aprofundadas sobre temas sensíveis. Infelizmente, muitas igrejas nos querem crianças e precisamos aprender a perceber isso e não aceitar. Não existe liderança mais santa que os membros e Deus não designou representante algum na Terra. Podemos chegar a Ele diretamente, sem necessidade de intermediários.

O abuso de poder religioso pode acontecer de diversas maneiras: por meio de assédios, abusos sexuais e estupros; por meio de extorsão e exploração financeira; por meio do voto de cajado (quando o líder diz em quem o fiel deve votar ou que orientação política deve adotar); por meio de abuso emocional (quando faz o fiel acreditar que depende das orientações dele para viver e tomar decisões acertadas) e muitas, muitas outras. A maldade humana não tem limites.

Algumas regrinhas básicas valem para ajudar a se proteger:

  1. você não tem obrigação de prestar contas da sua vida íntima ou financeira;
  2. você não tem obrigação de pedir autorização para tomar decisões importantes (como casamento, divórcio, viagem ou novos negócios);
  3. aconselhamentos são sempre feitos em locais reservados, mas que permitam que outras pessoas vejam ou entrem (portas destrancadas e janelas de vidro geralmente resolvem);
  4. homens não aconselham mulheres sozinhos e vice-versa;
  5. nada deve ser sigiloso se o fiel não quiser. O líder tem obrigação de guardar sigilo em relação às histórias que escuta nos aconselhamentos, mas o liderado pode compartilhar com quem quiser o que aconteceu naquele momento e não deve ser coagido a não contar.

Quando a liderança é séria, não vai se recusar a seguir essas regras.

Não ficarão impunes

Se por um lado a adoração de meros homens como se fossem seres iluminados provoca neles a embriaguez do poder e a sensação de ser Deus, por outro não faltam advertências:

“[…] qualquer um que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar. […] Ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mt 18:6-7);

“[…] haverá falsos mestres entre vocês. Esses contarão com habilidade suas mentiras sobre Deus […], porém o fim deles será repentino e terrível. […] Deus já os condenou há muito tempo e a destruição deles está a caminho.” (2 Pe 2:1-3).

Essas e outras passagens bíblicas mostram que Deus não está alheio a tudo isso e nos dão a certeza de que não haverá impunidade. Mas independente disso, não podemos abrir mão de denunciar os abusos que sofremos ou vemos acontecer, pois a justiça divina não impede a justiça dos homens.

Às mulheres que denunciaram o falso profeta João de Deus, força pra seguir na batalha. A elas toda a nossa empatia e orações. Aos espíritas de verdade, que estão envergonhados nesse momento, nossa solidariedade. Que cada vez mais esse tipo de oportunismo seja desmascarado e que tenhamos força pra resistir e combater esse estelionato inescrupuloso da fé.

Publicado originalmente no blog da autora.

Foto de capa: O curandeiro João Teixeira de Faria (C), conhecido como “João de Deus”, é escoltado por seus seguidores ao chegar a Abadiânia, Goiás, 12 de dezembro de 2018 – AFP. Publicada por IstoÉ.

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