Por Fábio Py Murta de Almeida, coautor do livro Vem pra rua! (PNV310)
"Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós." (Manoel de Barros)
Não se pode negar que uma manifestação em plena segunda-feira, no Rio de Janeiro, ao fim do expediente, às 18, no qual reúne 100 mil pessoas que não seja representativa. Ainda mais, quando esse contingente abriga (apenas) a pauta da educação. Até porque a manifestação é fruto do protesto de uma classe desgastada em greve há dois meses. Grupo que luta não só na questão do salário e do plano de cargos (como quer os governos do Rio de Janeiro) mais que aloca sua reivindicação na forma ampliada na questão do sistema educacional no todo: com o plano de cargos dos professores, melhores salários, melhores condições de sala de aula, menor quantidade de alunos em sala de aula e professor assume a disciplina no qual tem formação. Ou seja, as reivindicações abarcam mais do ato educacional. E, não apenas uma pauta (personalista) em prol dos próprios professores.
Visão de Classe
Óbvio que essa visão ‘maior', classista, não interessa aos governos. Eles foram surpreendidos quando o plano de cargos proposto aos professores foi negado seguindo a sina da greve – mesmo com o ponto cortado. Agora, esses dois elementos vêm causando revolta na classe professoral. Indignação é grande, pois se vêm percebendo as alianças entre os grupos da tênue hegemonia do atual (Gramsci). Compreende-se que grupos e empresas são as mais bem apreciadas pelo governo como seus bancos e suas empreiteiras dos grandes eventos. Assim, pergunta-se: por que, que o todo do sistema educacional não pode ter um olhar especial? Por que de uma vez não se busca sanar os problemas educacionais do Rio de Janeiro? No meio da manifestação, perguntava-se disso, pois justamente nas campanhas eleitorais indica-se o sistema educacional como prioridade da governança – não se recebendo o dedo do apoio. Os políticos transformam o sistema educacional num bom tema eleitoreiro, mas o retiram da pauta quando assumem a governança. Afinal, que político quer gente educada?! Como bem se sabe, os nossos nunca quiseram.
A manifestação do dia 7.10.2013 do Rio de Janeiro reuniu um montante de quadros da educação no geral: professores e alunos básicos do Rio de Janeiro, profissionais da educação privada, professores universitários, Black Blocs do Rio de Janeiro (anarquistas de preto), setores partidários de esquerda (PSol e PSTU), anarquistas e tendências comunistas que vêm sendo ressuscitadas. E, sobre ela, ao menos inicialmente, duas coisas merecem ser destacadas. Primeiro, é quanto o crescimento exponencial da manifestação. Diz-se isso por que na sua concentração formava-se mais ou menos 5 mil pessoas ligadas aos partidos de esquerda. E, de acordo com a caminhada (ao longo do processo) chegou-se aos valores de 100 mil pessoas na manifestação. O que mostra o grau de adesão à pauta educacional no Estado do Rio. Tendo milhares de pessoas se somando ao longo da manifestação.
Câmara Tomada
O segundo elemento, é que quando foi chegando a seu destino final avistou-se as escadas da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro ocupadas pelos manifestantes de preto: muitos professores (e uns alunos) ocuparam simbolicamente as escadarias mostrando que aquele local de fato pertence aos educadores e não o inverso. Até, por que, professores formaram os membros daquela Casa gestora. Pena que a memória dos vereadores e governantes é curta. Acabam se lixando para a categoria professoral que recusa apenas o plano de cargos que não pode atingir toda classe. Seus representantes aprovaram um projeto de lei que não interessa à categoria. Por isso, ocuparam suas escadarias de luto sem deixar um espaço para que pudessem passar.
Agora, também, ocuparam outro local na totalidade, as escadarias do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. O palco da "cultura da elite" do Brasil. Onde, pelos preços, dificilmente um professor conseguiria pisar nas escadas por sua média salarial. Mais, naquela noite pisaram. E, não só pisaram, cantaram, dançaram e espalharam seus cartazes com os dizeres de quem é o culpado pela desvalorização da profissão. Por trabalharem a cultura e educação da população, merecem estar mais nesse local do que realmente conseguem. Cantaram, dançaram e pisaram de preto (em luto) nas escadarias habitadas pelos ricos (do Teatro Municipal). Eles e seus governantes que efetivamente terão como pagar seus ingressos e os da sua Copa e Olimpíadas. E, meio profeticamente, sobre as escadarias símbolo da ostentação e da riqueza se cantou: "Não adianta me reprimir. Esse governo vai cair", e, entre os outros (como num relâmpago) viu-se uma faixa se abrir sobre o Municipal, lembrando das opções governamentais: "não vai ter Copa e nem Olimpíadas: senhores governantes, o que estão fazendo sobre a educação?".
Caras de Pau
Fico me perguntado se agora a cara de pau da dupla de governantes do PMDB, irá seguir desprezando as reivindicações dos professores. Se seguirão indicando que as manifestações são apenas um pleito dos partidos políticos de esquerda, de vândalos e dos arruaceiros em geral. É melhor começarem a escutar senão vai que a profecia de fato se cumpra. Afinal, se seguirem mexendo com os professores, logo (no mínimo) estão mexendo com as 100 mil pessoas que estavam na segunda-feira no Centro do Rio.
♦ Fábio Py Murta de Almeida é é teólogo, historiador e doutorando em Teologia pela PUC-RJ