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Onde estão os protestantes?

Duas segundas-feiras atrás participei do Fórum Laicidade e Intolerância, promovido pelo Penses/Pensamento Estratégico, da Universidade Estadual de Campinas. Pesquisadores, parlamentares e um jurista contribuíram com as reflexões de um tema que não é preocupação exclusiva da academia. Ele é foco de debate nos movimentos sociais, nas ruas, nas mídias, muito especialmente por conta da intensa visibilidade alcançada pelos evangélicos na política partidária.

No fórum, um consenso: a presença de grupos religiosos no espaço público é parte da História do Brasil e do mundo e é saudável numa democracia. Esta, pautada pela participação e identificada pela laicidade, deve garantir a liberdade de crença e de manifestação pública de todos os grupos, inclusive os religiosos.

A questão da intolerância emerge, relacionada à religião, não apenas quando grupos religiosos defendem no espaço público os textos e preceitos que lhes são sagrados como verdade única. Ela aflora quando religiosos atuam por meio do poder público, legislando ou travando leis, para impor a todos os cidadãos aquilo que julgam adequado para seus fiéis. A intolerância impede a realização plena do caro princípio democrático da liberdade de crença.

É fato que a bancada evangélica no Congresso tem uma plataforma antidemocrática, de controle dos corpos e de normatização de um modelo patriarcal de família. Isto realmente põe em risco o Estado democrático laico. No entanto, colocar as ameaças tão só na conta da bancada evangélica é limitar demais a discussão. A Igreja Católica permanece com privilégios concedidos pelo Estado brasileiro e dela também partem posturas intolerantes de controle de relacionamentos humanos e de corpos.

A atuação de grupos religiosos no campo político tem o seu lugar em nossa sociedade. Deve ser garantido o direito de manifestação de todos os segmentos sociais, desde que atuem nos limites constitucionais. Senão, aí teremos intolerância contra as religiões. Por isso, o Estado não pode ser neutro: deve intervir sempre pela garantia de liberdade e igualdade para todos os cidadãos. Assim se vive uma cidadania plural.

Um exemplo desta prática cidadã é um fato significativo que ocorre nesta semana em que se celebra os 498 anos da Reforma Protestante (31 de outubro). Trata-se do manifesto de representantes e membros de segmentos e de movimentos evangélicos pela “imediata saída do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha”, membro da bancada evangélica. O grupo apartidário que assina o texto facilmente encontrado nos espaços da internet é formado por bispos, pastores, pastoras e lideranças leigas de diferentes igrejas evangélicas de várias partes do Brasil. Os manifestantes se afirmam “como evangélicos que prezam a ética, a verdade e a justiça” e declaram “repúdio às ações do deputado”. Por isso, concordam “quanto à insustentabilidade da permanência (dele) na presidência da Câmara”.

Ao escrever sobre o “princípio protestante”, o teólogo luterano alemão do século XX Paul Tillich reconheceu que a dimensão profética, contestatória, protestante, é própria do Cristianismo, inspirada nas ações de Jesus de Nazaré. Para este teólogo, a Reforma foi a encarnação deste princípio; uma volta às origens do ser cristão. Eis aí, no manifesto pela renúncia de Cunha, um grupo de evangélicos que recria a identidade protestante tão fragilizada em nossas terras. Eis aí o fascinante poder transformador das crises. É como diz a expressão da Bíblia: “Esperando contra toda a esperança” (Carta aos Romanos 4.18). Ou a canção popular, também cheia de teologia: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

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