O Reino de Deus é de Paz e Justiça. Rm 14,17
Nos dias 16 e 17 de julho estará acontecendo a Romaria dos Mártires da Caminhada. Enquanto Centro de Estudos Bíblicos, não poderíamos ficar indiferentes a esta celebração e ao tanto que ela ressoa em nós diante dos acontecimentos dos últimos dias. Esta mensagem, portanto, será não só uma manifestação de nosso júbilo pelo retorno presencial deste importante evento, mas também uma nota de manifestação de nossas angústias diante dos fatos dos últimos dias.
O CEBI não se propõe a reinventar a roda, como alguns querem sugerir. A mensagem de Cristo é explicita, “Eu sou as pessoas marginalizadas! (Mt25,31-46) Eu sou pobre (Lc 9:58), Eu sou todas e todos, em todos os corpos, sexos e raças (Cl 3,11). Eu sou tudo o que vocês desprezam, porque em mim não há majestade nem vaidades! (Is 53)”. Acontece que assim como nos tempos de Salomão, os poderosos sempre tentam tirar Deus do Povo. Seja prendendo a sua Aliança num lugar de poder, ou com discursos que dizem quem pode ou não estar próxima de Deus. Mas não somos nós que dizemos, é Deus quem diz: “Habitarei com eles e entre eles andarei; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (2 Cr 6,16). Também no Livro de Jó é afirmado que Deus não despreza NENHUM dos seres humanos (Jó 36,5). Deus não pode ser contido em prédios ou clubes, está com todas e todos!
Deus não se assenta no trono dos poderosos, mas é solidário ao sofrimento das pessoas humildes (Lc 1:52). E nós, pessoas cristãs, por vezes questionamos os sacerdotes judeus que não reconheceram Jesus como o Messias, “Como não perceberam? Está lá, em Isaías 53, será pobre, desprezado e sofredor, como que eles esperavam um Rei?!”. Pois estamos no mesmíssimo erro. Nossa sociedade se afunda em idolatria quando aceita como racional o argumento de que para salvar à “economia”, em um país exportador de alimentos, deixamos tantas pessoas passarem fome. Por isso Cristo dizia que não se pode servir ao dinheiro e a Deus (Lc 16). Deus se preocupa com o ser humano concreto, e por lógica com a natureza, pois para haver dignidade humana é preciso haver alimento, água, terra e tudo mais. Chamar de economia uma lógica em que muitos morrem pelo direito ao acúmulo de alguns é satânico.
E assim, com o olhar de julgamento dos que leem o evangelho e não compreendem como Jesus não foi reconhecido, ficamos pasmas diante daquelas pessoas que seguem ideologias de morte, de exclusão e de terror dizendo estar fazendo isso em nome de Deus. Perdemos Jesus Santos, Dom, Bruno, Marcelo Arruda e quantas outras que não chegaram nas mídias? Quantos outros casos de feminicídio? Um médico, alinhado com o horror que nos governa, se achou no direito de estuprar mulheres durante o parto, um dos momentos mais sagrados da vida. Corrupção desmedida em um dos momentos que a sociedade mais precisa. Pastores, não sabemos de que “deus”, roubando os recursos da educação. Como ver Jesus nestes que se dizem cristãos e colaboram com a morte? Que relativizam os direitos das mulheres, dos negros e de tantas pessoas?
Ah, “mas bem-aventuradas as pacificadoras, porque elas serão chamadas filhas de Deus” (Mt 5,9). A Romaria celebra a memória dos Mártires, todas aquelas pessoas que morreram por defenderem a vida, a justiça, a igualdade, a natureza e o fim da exploração humana. A Romaria celebra estas benditas memórias a fim de que nossa sociedade pare de fazer mártires. Precisamos, como Cristo ensinou, olhar para as margens, para as excluídas, pois é lá que encontraremos Jesus. Que Deus nos dê amor, pois força nosso povo tem muita para ter conseguido chegar até aqui, mas que nos dê amor para que possamos vencer essa desamorosidade que tem consumido as vidas de suas filhas. Falemos de Jesus, de seu evangelho, da liberdade, do amor, da paz, do respeito e, acima de tudo, da VIDA. É preciso protegê-la com urgência, em todas as suas formas. Não fiquemos caladas diante da morte.
