A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Mateus 26,14-27,66 que corresponde ao Domingo de Ramos, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Boa leitura!
A execução do Batista não foi algo casual. Segundo uma ideia muito disseminada pelo povo judeu, o destino que espera o profeta é a incompreensão, a rejeição e, em muitos casos, a morte. Provavelmente, Jesus contou desde muito cedo com a possibilidade de um final violento.
Mas Jesus não foi um suicida. Tampouco procurava o martírio. Nunca quis o sofrimento nem para Ele nem para ninguém. Dedicou sua vida a combater a doença, as injustiças, a marginalização ou o desespero. Viveu entregue a «procurar o reino de Deus e sua justiça»: esse mundo mais digno e ditoso para todos que procuram seu Pai.
Se Jesus aceita a perseguição e o martírio, é por fidelidade a esse projeto de Deus, que não quer ver sofrer os Seus filhos e filhas. Por isso não corre para a morte, mas tampouco se atira para trás. Não foge diante das ameaças, tampouco modifica sua mensagem nem se desdiz das suas afirmações na defesa dos últimos.
Seria fácil evitar a execução. Bastaria calar-se e não insistir no que poderia irritar o templo ou o palácio do prefeito romano. Não o fez. Seguiu seu caminho. Preferiu ser executado a trair sua consciência e ser infiel ao projeto de Deus, seu Pai.
Aprendeu a viver num clima de insegurança, conflitos e acusações. Dia a dia foi-se reafirmando na sua missão e continuou anunciando com clareza sua mensagem. Atreveu-se a difundir não só nas aldeias retiradas da Galileia, mas nos arredores perigosos do templo. Nada o deteve.
Morrerá fiel ao Deus em quem sempre confiou. Continuará acolhendo a todos, inclusive a pecadores e indesejáveis. Se ao fim é rejeitado, morrerá como um «excluído», mas com sua morte confirmará o que foi toda sua vida: confiança total num Deus que não rejeita nem exclui ninguém do seu perdão.
Continuará a procurar o reino de Deus e sua justiça, identificando-se com os mais pobres e desprezados. Se um dia O executam no suplício da cruz, reservada para escravos, morrerá como o mais pobre e desprezado, mas com sua morte selará para sempre sua fé num Deus que quer a salvação do ser humano de tudo o que o escraviza.
Os seguidores de Jesus descobrimos o Mistério último de Deus encarnado no seu amor e entrega extrema ao ser humano. No amor desse crucificado está Deus mesmo identificado com todos os que sofrem, gritando contra todas as injustiças e perdoando os verdugos de todos os tempos. Neste Deus pode-se acreditar ou não, mas não é possível zombar Dele. Nele nós cristãos confiamos. Nada o deterá no seu empenho de salvar seus filhos e filhas.
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Fonte: Instituto Humanitas, 07/04/2017.