Gênero

Mulheres pressionam o Vaticano e Francisco por mais espaço na Igreja

via IHU Online*

A nomeação por parte do Papa Francisco do jornalista italiano Paolo Ruffini como o primeiro leigo a dirigir um dicastério vaticano, em 5 de julho, foi saudada pelo Voices of Faith, um grupo que promove a liderança das mulheres na Igreja.

Uma porta-voz da rede internacional de mulheres católicas descreveu a decisão de nomear o jornalista italiano de 62 anos como prefeito do Dicastério para a Comunicação como um “precedente”.

“Isso abre as portas para os leigos de ambos os gêneros liderarem entidades vaticanas”, disse Chantal Götz ao NCR. Mas acrescentou: “É também uma oportunidade perdida”.

Ela disse que as mulheres precisam liderar dicastérios e conselhos, porque é aí que as decisões são tomadas. “Agora, esperam-se ações ou implementações, se o Vaticano estiver falando sério sobre a presença de mulheres em posições de liderança”, disse.

Francisco disse em uma entrevista em junho à Reuters: “Eu não tenho nenhum problema em nomear uma mulher como chefe de um dicastério”. Mas ele disse que é difícil encontrar as candidatas certas e convencer as autoridades da Cúria a aceitarem mulheres para cargos de liderança.

Götz, diretora-executiva do Voices of Faith, acredita que há muitas mulheres com excelentes qualificações para esses papéis. A questão é: “Por que o Vaticano não as encontra?”, perguntou.

Ela fez seus comentários após uma declaração do Voices of Faith chamando Francisco e o Vaticano a adotarem políticas de recursos humanos sustentáveis, que se mostraram eficazes para alavancar a mudança, facilitar a transparência e garantir a prestação de contas.

O Voices of Faith convidou o Vaticano a adotar práticas de contratação abertas, baseadas no mérito e transparentes, que funcionam para empresas, governos e outras instituições importantes.

“Pedimos que o Vaticano anuncie publicamente quaisquer vagas, liste abertamente as qualificações exigidas para cargos vagos e implemente políticas transparentes de seleção e contratação”, disse o grupo.

O segundo passo na proposta do Voices of Faith diz respeito a uma política de igualdade de gênero no local de trabalho. A organização quer que o Vaticano projete e implemente políticas e procedimentos que salvaguardem a igualdade de oportunidades e removam barreiras para o emprego feminino no Vaticano. O treinamento antidiscriminação para todos os empregados vaticanos faria parte desses procedimentos.

O terceiro passo refere-se ao monitoramento e à avaliação do andamento do processo, medindo indicadores-chave, e o Voices of Faith quer que os resultados sejam publicizados.

“Acreditamos que os esforços do Papa Francisco e de outras altas autoridades vaticanas só terão impacto se um alto funcionário receber a autoridade necessária para liderar, monitorar e relatar sobre o andamento desse processo”, disse Götz.

Embora a primeira nomeação na história de mulheres como consultoras da Congregação para a Doutrina da Fé em abril e como subsecretárias no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida seja um sinal esperançoso, o Voices of Faith está preocupado com o “ritmo muito lento de mudança” e com os ambientes dominados por homens dos quais essas mulheres farão parte.

“Alguns veem como radicais os três passos concretos propostos pelo Voices of Faith para atualizar as práticas de emprego do Vaticano, mas, sejamos honestos, esses três passos seriam padrões mínimos na maioria das organizações governamentais ou empresariais”, disse Götz. “Muitas dioceses católicas em todo o mundo operam com tais padrões, então por que não deveríamos esperar que a sede da Igreja os implementasse? O padrão vaticano deveria ser mais alto, não mais baixo do que em qualquer outro lugar.”

Em uma entrevista à revista pastoral e litúrgica dos bispos irlandeses, Intercom, o cardeal Kevin Farrell falou sobre a nomeação por parte de Francisco de três mulheres como consultoras da Congregação para a Doutrina da Fé – a “usina central” do Vaticano.

“Francisco, despercebidamente, vem colocando mulheres em posições de poder gradualmente”, disse Farrell, que é prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.

O papa, acrescentou, se dá conta de que a Cúria Romana está “superlotada de clérigos, e não deveria ser assim”. Mas Farrell também enfatizou que a administração é diferente da ordenação.

“Queremos transformá-las em clérigos? Nós não. A ordenação de mulheres não é verdadeiramente uma solução para a Igreja, porque, se você simplesmente ordenar mulheres, você as isolará, se você continuar o sistema, se você não mudar as estruturas”, disse ele.

Voz das mulheres

No entanto, a ex-presidente irlandesa Mary McAleese não está tão impressionada com isso. Em uma entrevista ao The Irish Times em 29 de junho, em Dalgan Park, na Irlanda, como parte de uma celebração para marcar o centenário da Missionary Society of St. Columban, ela descreveu Francisco como “uma decepção em relação às mulheres”.

“Ele não é diferente de qualquer outro papa em relação às mulheres”, disse McAleese, que é canonista. “Algumas nomeações a mais (…) aumentaram a visibilidade, mas não a voz. E elas não vão a lugar algum.”

A Igreja magisterial da Cúria, de acordo com McAleese, “está muito atrasada” sobre as mulheres, “é embaraçoso”, particularmente em relação à ordenação de mulheres. “A Igreja sempre ficará para trás por causa da sua estrutura de cima para baixo e da falta de uma discussão de baixo para cima e, particularmente, por causa da falta de oportunidade para as mulheres entrarem na discussão”, disse.

McAleese afirmou ainda: “Os argumentos apresentados contra as mulheres e o presbiterado são insustentáveis, em última análise”. Ela lembrou que escreveu ao Papa João Paulo II sobre a sua carta apostólica Ordinatio sacerdotalis, de 1994, que descartava a ordenação de mulheres e qualquer discussão sobre o assunto.

“Eu tive uma grande dificuldade quando ela foi articulada pela primeira vez”, disse. “Eu escrevi a João Paulo e disse que não podia aceitar isso. Eu sei que, provavelmente, posso ficar de fora da comunhão com a Igreja agora, mas simplesmente não vou ensinar isso a meus filhos.”

Ela disse ter recebido “uma bela carta de resposta de um secretário, que disse que o papa queria me assegurar que eu não estava fora da comunhão e que, desde que pudesse aceitar que esse era o ensinamento da Igreja, em vez de aceitar o ensinamento, então ele estava suficientemente feliz. Eu pensei que isso era muito jesuítico, e foi assim que eu consegui continuar.”

Tal flexibilidade sobre uma questão que viu alguns padres censurados pelo seu apoio à ordenação de mulheres pode surpreender alguns. O pragmatismo sobre as sacerdotisas foi o foco das discussões em junho no congresso da Rede Internacional de Reforma da Igreja em Pezinok, perto de Bratislava, na Eslováquia.

Mediante uma reunião de associações de padres internacionais e de organizações leigas de reforma, o congresso destacou a experiência da Igreja clandestina na antiga Tchecoslováquia, na era comunista. Várias pessoas que eram padres ou bispos durante aquele período participaram do congresso para relatar suas experiências.

Kate McElwee, diretora-executiva da Women’s Ordination Conference, explicou ao NCR que ela e Deborah Rose-Milavec, diretora-executiva do FutureChurch, falaram com o bispo Dusan Spiner, um padre que foi ordenado para servir a Igreja clandestina em 1973 pelo bispo Felix Maria Davidek.

Rose-Milavec descreveu a oportunidade de conhecer Spiner como “um momento especialmente pungente”, pois lhe deu uma certa compreensão da “rica e muitas vezes violenta história de repressão que ele e tantos outros católicos sofreram sob um regime totalitário”. Isso também expôs a determinação da Igreja oficial em reprimir aqueles que haviam garantido a sua sobrevivência por meio da Igreja clandestina, porque levantaram questões incômodas.

O Vaticano estava ciente da Igreja clandestina na Tchecoslováquia sob o regime comunista e reconheceu a consagração de Davidek, que passou a ordenar mulheres. Parece que a hierarquia tolerou essas sacerdotisas devido à adversidade das circunstâncias.

Para Davidek, ordenar mulheres era uma resposta pastoral para fornecer os sacramentos ao povo de Deus. A sua própria prisão fez com que ele percebesse os sacramentos eram negados às mulheres nas prisões. As sacerdotisas podiam levar os sacramentos aonde os homens, mesmo os padres ordenados clandestinamente, não eram permitidos.

McElwee explicou que, com o colapso do comunismo na Tchecoslováquia após a Revolução de Veludo em 1989, a Igreja institucional se moveu para abafar a existência dessas sacerdotisas.

“As mulheres que foram ordenadas e serviram suas comunidades foram demitidas e ignoradas pela Igreja institucional”, disse. “O único nome que é amplamente conhecido é o de Ludmila Javorova, uma mulher ordenada em 1970 por Dom Felix Maria Davidek. Mas, até hoje, as outras ficaram em silêncio sobre suas ordenações clandestinas.”

“Aquelas que foram ordenadas na Igreja clandestina fazem parte de uma história viva de mulheres corajosas que correram grandes riscos para viver sua fé. Não é nenhuma surpresa que o Vaticano tenha tentado apagar as mulheres da história”, acrescentou McElwee. “Mas nós sabemos – e essas mulheres sabem – que o que aconteceu com elas era válido. O silêncio e o medo contínuos que essas mulheres experimentam são familiares a muitas mulheres católicas hoje que são demitidas, desacreditadas ou silenciadas por defenderem a igualdade ou viverem suas vocações sacerdotais.”

“O nosso trabalho hoje é de trazer à tona as partes subterrâneas da nossa Igreja, aquelas que são mantidas em silêncio”, disse McElwee. “A Igreja Católica deve se confrontar com a sua própria participação em sistemas de opressão.”

Publicado no site do Instituto Humanitas. A reportagem é de Sarah Mac Donald, publicada em National Catholic Reporter, 11/07/2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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