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Carlos se encantou…

Carlos Rodrigues Brandão se foi desse mundo, se encantou. Tornou-se parte do universo todo, composto de gentes, matos, frutos, flores, bichos, águas, pedras, colinas, de quem se sentia parte integrada e que tanto o atraia desde sua juventude quando escalava montanhas. Foi montanhista, psicólogo, antropólogo, poeta e pesquisador, que se dedicou aos estudos sobre educação, antropologia, pesquisa participante, saúde, sujeitos, suas relações com a escola e com a sociedade.

Quando fazia graduação, li o seu livro “O que é educação?”. Foi o momento em que questionamentos e intuições sobre a relação entre o mundo das Letras (o qual pertencia) e a educação foram explicitadas. Ele me deu as palavras que eu não tinha para explicar o que sentia e me sugeriu um rumo para que eu caminhasse por onde desejava e ainda não sabia. Depois passei a acompanhá-lo em textos e o ouvi, totalmente envolvida, em um congresso grande da área, em que mal conseguíamos nos aproximar dos palestrantes, que ficavam no palco do auditório e saiam “escoltados” por seus colegas professores, que pareciam os únicos possuidores do privilégio de estar perto das figuras ilustres da academia.

Mais tarde, em 2005, no Fórum Social Mundial, Porto Alegre, em meio à correnteza de atividades do evento, um amigo querido Adriano Vieira, nos disse, “Vamos ali falar com o Carlos”. E quando cheguei, tamanho foi meu espanto em saber que era Carlos Brandão. Quase não falei, atônita, o cumprimentei de modo tímido, primeiro, porque precisei de um tempo para acreditar que ele estava em minha frente. Depois porque ficava tentando encontrar algum sinal de extraordinário naquele homem, algo que justificasse o motivo de minha satisfação. Não foi difícil encontrar a ternura, simplicidade e sabedoria que escorria nos comentários espontâneos sobre o fórum, enquanto emendava uma história a outra no curso da conversa.

Quando fui fazer o concurso para professora da UnB, dentre os temas da prova didática: Literatura Infantil, Alfabetização, Variações dialetais, Letramento, Multiletramentos, calhou de, no sorteio, eu retirar do envelope, o tema mais inóspito para uma aula, que além de demonstrar conhecimento específico, deveria ser interessante. Meu tema foi “O trabalho pedagógico com os verbos nas classes de alfabetização numa perspectiva sociolinguística”. Tópico muito importante, mas com uma margem de extrapolamento criativo menor do que todos os outros temas.

Pois bem, durante as poucas horas de preparação para a prova, após, selecionar o enfoque conceitual, tinha certeza de que o diferencial da aula seria os textos com os quais exemplificaria o fenômeno linguístico. Como tinha convicção de que deveria ser poesia, busquei ajuda em Cecília Meireles, Bartolomeu Campos, Sérgio Capparelli e tantos outros poetas maravilhosos. Mas ainda não era o que procurava e resolvi ir até a estante. Ao me aproximar, o livro “Abecedário dos bichos que existem e não existem” salta aos meus olhos, livro de Carlos Brandão, com ilustrações das crianças e dos jovens ribeirinhos do Rio São Francisco nos sertões de Minas Gerais, tirei-o da estante com a certeza que encontrara a chave certa que abriria aquela porta. Quando enredei a temática aos poemas “O camarão”, “O caxinguelê”, “A tartaruga” e “O zabelê”, vi que os olhos das professoras da banca avaliadora sentiram algo parecido com o que seu senti quando os li pela primeira vez: surpresa e contentamento com uma criação poética tão inteligente e ao mesmo tempo delicada.

Nos tempos pandêmicos, assisti uma live que ele fez para a Associação de Pós-graduação e Pesquisa em Educação. Depois a ouvi mais três vezes seguidas enquanto fazia faxina na casa. E mais, recentemente, outro amigo, Faustino Teixeira, o convidou para participar de nosso grupo de Literatura e Mística. E não deixei de me surpreender com o fato de pertencer a um grupo de leitura com Carlos Brandão. Infelizmente o câncer que já o acometia, fez com que não pudesse estar conosco, mas a cada bilhete ou mensagens enviados, demonstrava que, mesmo distante, estava em sintonia com nosso encontro. Isso me tocava profundamente.

Esperava pelo dia em que contaria para ele esse enredo, no qual ele assumiu centralidade em alguns momentos da minha vida. Não foi possível. Por isso conto a vocês. Vejam que estive com ele, presencialmente, apenas duas vezes, no mais, enredei fragmentos de aprendizagens por meio de seus livros, textos, lives e histórias vividas por mim, mas emolduradas pela admiração e afeto imensos que sinto por ele. Os caminhos da aprendizagem e do bem-querer são tão singulares, que me sinto emocionada com sua passagem, como se ele fosse um amigo de aventuras. Um amigo de uma sabedoria e ternura indescritíveis e de olhinhos sorridentes…

Profa. Dra. Paula Gomes de Oliveira – Faculdade de Educação – Universidade de Brasília.
CEBI Planalto Central

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