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A nova lógica do Reino – MT 20,1-16

Talvez um ponto de partida interessante para a leitura desta parábola seja tomar conhecimento da sua moldura, na qual ela se encontra inserida.

O primeiro elemento da moldura, poderíamos dizer: a sua porta de entrada, ou melhor, o seu pano de fundo, trata-se do encontro de Jesus com as crianças (Mt 19,13-15); apesar da tentativa dos discípulos de impedi-las de se aproximar do Mestre. Ele, simplesmente, declara: “Deixem vir a mim as crianças, e não as impeçam de vir a mim, porque delas é o Reino dos Céus”. E Jesus impôs as mãos sobre elas. Das crianças é o Reino dos Céus, por causa de sua abertura, de sua docilidade acolhedora, ao espírito e aos valores do Reino e por serem contadas entre os últimos (excluídos/as) da sociedade do seu tempo.

Do seu lado esquerdo, vem o diálogo de Jesus com o “jovem rico” (Mt 19,16-30). Este à procura do que deveria “fazer de bom para ganhar a vida eterna”. A “vida eterna” para um judeu era, antes de tudo, a vida que poderia durar para sempre, a vida plena, na felicidade e na Paz (Shalon). O jovem estava no caminho: “cumpria a Lei”! Mas lhe faltava algo mais: “distribuir seus bens aos pobres”. A sua impossibilidade pessoal de cumprir esta exigência o impedia de entrar no caminho do Reino. O amor à riqueza era para ele um impedimento monstruoso e, consequentemente, não permitia sua solidariedade para com os empobrecidos, justamente pelo acúmulo do CAPITAL. Pedro, representando os 12, já queria saber qual a recompensa deles que optaram pelo caminho do Reino, mas Jesus não lhes assegura nenhuma primazia ou privilégio: “os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”!

Do seu lado direito vem o anúncio da paixão de Jesus e a promessa da sua ressurreição para assentar-se na glória do Pai (Mt 20,17-28). De súbito, vem a intervenção da mãe dos filhos de Zebedeu, com um pedido a Jesus: “Ordena que estes meus dois filhos sentem um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu Reino”. Apesar de Jesus apresentar as condições para tal exigência, isto gerou uma indignação entre os discípulos. Ainda predominava entre eles a perspectiva e a expectativa do Reino nos moldes “do mundo”, do predomínio do PODER dominador, de privilégios, ao qual Jesus contrapõe o SERVIÇO gratuito: “Quem de vocês quiser tornar-se grande, seja aquele que serve a vocês”.

Sob o pano de fundo das CRIANÇAS como destinatárias do Reino e entre a ganância pela RIQUEZA e pelo PODER, como impedimentos para entrar nele, situa-se uma parábola tratando do TRABALHO humano (Mt 20, 1-16).

O TRABALHO diário traz em si uma ambiguidade. Se, por um lado, ele é um serviço à sociedade, fonte de realização humana, de participação criativa no plano da criação divina, por outro, ele pode ser vivido como uma tortura, castigo (tripálio). O trabalho quando subjugado pela injustiça, torna-se cruz. A mercadoria “trabalho” se torna muitas vezes a mercadoria “desemprego” (que é a moeda de troca pelo baixo salário) que engorda o capital e humilha o trabalhador. Na sociedade atual o trabalho tornou-se uma mercadoria disputada por dois polos tensos e antagônicos: o SALÁRIO e o LUCRO. Na disputa entre os dois, o dinheiro sempre corre para o lado do lucro e lucro vira LUXO e o salário vira FOME.

Nas atuais relações de trabalho predomina a lógica do individualismo meritocrático: quem trabalha come, quem não trabalha, passa fome! A pessoa vale pela que produz. Ainda que o resultado do seu trabalho produza o enriquecimento, o acúmulo de riqueza de poucas pessoas e a pobreza de muitos. A lógica ferrenha do sistema produtivo na sociedade capitalista é: trabalho, produção, comércio, lucro, capitalização. Além disso, as relações humanas, dentro deste sistema, são marcadas pelo exercício do poder verticalista, quase sempre autoritário, e pelo monopólio do saber nas mãos de poucos. O/a trabalhador/a é duplamente alienado/a: do exercício do poder e do domínio do saber.

A parábola dos/as trabalhadores/as vem questionar esta realidade e propor uma nova lógica nas relações humanas e no mundo do trabalho, ou seja, a lógica do Reino. Ao imperativo da justiça meritocrática ela aponta para a prática da generosidade, da gratuidade e da bondade. Se não se comete injustiça contra os primeiros, por que os últimos não podem ser tratados como primeiros?

A parábola sinaliza para o trabalho diuturno na “vinha do Reino” – trabalho coletivo em favor da vida e da alegria, construindo novas relações, dispensando um cuidado prioritário com as pessoas. No qual se respeita a hora, o tempo e o ritmo de cada trabalhador/a. O trabalho de cada pessoa não pode ser avaliado apenas pelo resultado produtivo, a pessoa possui um valor em si mesma. Na lógica do Reino não se avalia o resultado somente do ponto de vista individual, mas coletivo. Quem produziu menos, ou chegou mais tarde, ganha e come como os demais e todos vivem felizes. O prazer, a alegria, o lazer, o ócio saudável e o descanso devem fazer parte do trabalho.

O que há de comum nesta moldura? A apresentação das condições, das exigências, ou até mesmo da nova lógica para a entrada no caminho do Reino. É necessário tornar-se pequeno, acolhedor da sua novidade, este é o seu pano de fundo. É uma condição para entrar no Reino despojar-se da RIQUEZA e do PODER, tornar-se SOLIDÁRIO e se colocar a SERVIÇO dos empobrecidos pela ordem social vigente. É preciso agir na GRATUIDADE e na GRATIDÃO nas relações humanas.

Na contramão da lógica dos privilégios individuais e a justiça meritocrática, os/as caminheiros/as do Reino deverão abraçar outra lógica subversiva, na qual “os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”! e “Quem de vocês quiser tornar-se grande, seja aquele que serve a vocês”. Deve-se romper com a lógica da acumulação individualista egocêntrica e romper com o exercício do PODER dominador e promotor de privilégios pessoais

Para finalizar este ensaio de reflexão em torno desta parábola, a música UM SONHO, de Gilberto Gil, poética e profeticamente, põe a nu a lógica das relações de trabalho e produção na sociedade capitalista e anuncia em suas entrelinhas a lógica do Reino. Vale a pena ouvi-la.

Ainda na borda da moldura, está o clamor dos dois cegos de Jericó: “Senhor, que nossos olhos sejam abertos”! (Mt 20,33). Seja ele nossa oração. Amém!

Autor: Zé do Cerrado

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