Por Kinno Cerqueira*
As palavras. Procuro-as como um corpo tremulante de frio busca uma coberta.
As palavras. Desejo-as com a intensidade com que os meus lábios se apertam quando fitam meus olhos as tesas cumeeiras de seios em dias frios.
As palavras. Como-as como quem frui o último café no último minuto da última primavera da vida.
As palavras. Dão-se-me. Na seca, me dessedentam o paladar. Quando de muitas águas, fazem dos meus lábios deserto e do meu existir, divagação.
As palavras. Dançam-me. O ritmo imprevisto inaugura à meia-luz o entrelaçar de dedos sem fim, ponteiros que galopam imóveis qual lua pintada nos chaveados diários dos amantes.
As palavras. Metamorfoseiam-se. Naquele ontem, amargura, amargor. Hoje, esquivas de amargar, apenas amar o mar.
As palavras. Deslizam-me os sentidos. As travessias eram, na verdade, travessuras. O meu pudor, ah, parece que mo levaram sem dizer para onde.
As palavras. Custa crer que se podem fazer carne, a carne é que se faz palavra. No princípio era o corpo, e o corpo se fez palavra.
As palavras. Balanços coloridos sob floridas laranjeiras. A fixidez não lhes é possível – nem as seduz. É seu ir-e-vir que faz irromper chuvas de flores.
As palavras. Vejo flores a cair, a chover. Eis que brinco sob laranjeiras…
*Pastor batista, biblista e assessor do CEBI na área de estudos bíblicos.