“Tu és o meu Filho bem-amado; em ti encontro o meu agrado”
Nesse Domingo, que comemora o batismo de Jesus, mais uma vez encontramos a figura do Precursor, João Batista, que foi uma das principais personagens das liturgias do Advento. Mas, na leitura de hoje, a ênfase mesmo está na aceitação não somente do batismo de João, mas de quem viria depois dele: literalmente “atrás de mim”. A expressão, que denota a dignidade, como em um cortejo, põe toda a importância na pessoa que vem – pois tirar as sandálias era serviço de um escravo. Jesus é o mais importante, pois com a vinda dele inaugura-se o tempo de salvação, esperado naquele tempo por muitas pessoas e grupos (como os Essênios) somente para o fim dos tempos.
Nesse texto de Marcos, o interesse volta-se menos para o batismo de Jesus como tal, e mais para a revelação divina que se lhe seguiu. Sendo batizado por João, Jesus coloca-se dentro da humanidade caída, e publicamente assume o compromisso com a vontade do Pai. A frase “viu os céus rasgarem-se e o Espírito como uma pomba descer sobre si” enfatiza que Deus intervém para realizar as suas promessas (cf. Is 63,19) através do envio do Espírito Santo. Descendo sobre Jesus, o Espírito o designa como sendo o Salvador prometido e esperado. A voz do Pai confirma que Ele reconhece Jesus, desde o início do seu ministério público como seu Filho (cf. Sl 2,7), seu bem-amado, objeto da sua predileção.
Um dos sentidos mais importantes do nosso batismo também é o nosso compromisso público com a vontade do Pai. Todos nós podemos sentir a veracidade da mesma frase usada pelo Pai diante de Jesus – cada um(a) de nós também é verdadeiramente filho(a) do Pai celeste (cf. I Jo 3,1), a quem aprouve escolher-nos. Nada pode nos separar desse amor divino – nem a nossa fraqueza, nem o pecado (cf. Rm 8,39). O que é importante é reconhecer que Deus nos amou primeiro, incondicionalmente, e cabe a nós responder a este amor gratuito por uma vida digna de filhos e filhas do Pai, no seguimento de Jesus (cf. I Jo 4, 10-11). Jesus não achou privilégio ser o amado do Pai, mas assumiu as conseqüências – uma vida de fidelidade, que o levaria até a Cruz e a Ressurreição! (cf. Fl. 2,6-11) Celebrando essa festa litúrgica, renovemos o compromisso do nosso batismo, comprometendo-nos com o seguimento do Mestre, no esforço de criação do mundo que Deus quer, um mundo onde reinam o amor, a justiça e a verdadeira paz. O nosso batismo confirma que somos parceiros de Deus no ato permanente de criação, fazendo crescer o Reino dele, que “já está no meio de nós” (cf. Mc 1,14).