Mudou, sobretudo, a política. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, o século 20 terminou, assinalou Eric Hobsbawm. Agora o planeta está hegemonizado pelo capitalismo; o Estado de bem-estar social já não se faz necessário para conter a ameaça comunista; e um novo dogma é proclamado: fora do mercado não há salvação!
Vale tudo por dinheiro!
A lógica do neoliberalismo reduz o nosso ângulo de visão. Vemos apenas a sucessão de árvores, e não a floresta. Os fatos são ludibriados pelas interpretações. A história é reduzida a uma sequência de episódios pitorescos, bizarros, dos quais ficam sumariamente excluídos os conceitos de povo, nação, classe social e modos de produção.
Nesse mundo supostamente desideologizado e conturbado são descartados os programas estratégicos, as propostas de longo prazo e as utopias libertárias. Torce-se o nariz para políticos e partidos. Cede-se à síndrome do corpo de bombeiros: em plena crise, peça-se socorro urgente a quem parece estar acima das instituições corrompidas e conceda-lhe todos os poderes!
Foi assim que a Revolução Francesa desembocou em Napoleão; a Alemanha se ajoelhou aos pés de Hitler e a Itália, de Mussolini. É assim que, hoje, o Reino Unido se ilha ainda mais ao se desconectar da União Europeia na esperança de levar vantagem. É assim que os eleitores estadunidenses elegem Trump e, os franceses, Macron. Essa mesma lógica entregou a João Doria a prefeitura de São Paulo, e faz Bolsonaro figurar entre as preferências presidenciais dos eleitores brasileiros.
Não adianta chorar diante do leite derramado. É hora de dar respostas para certas perguntas: por que o povo brasileiro não ocupa as ruas? Por que não se arrancam as máscaras da minoria que insiste em reduzir o caráter das manifestações a atos de vandalismo? Por que nenhum setor progressista, salvo o MST e o MTST, faz trabalho de base de formação política de militantes? Por que muito se discute nomes para as eleições de 2018 e pouco sobre programas e critérios? Por que o reduto da esquerda envolvido em corrupção não faz autocrítica? Por que a ambição de ganhar eleições é, hoje, mais notória do que o projeto de mudar as estruturas da sociedade brasileira?
Enquanto não houver respostas claras e práticas a essa questões, o Brasil também ingressará na era dos avatares.