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Ouvir quem? Governar para quem?

A cidade está fragilizada e vulnerável frente ao poder econômico da Vale S/A e o braço nacional da anglo-australiana BHP Billiton.

Na manhã do sábado, dia 7 de novembro, o senhor Valdir foi cedo para a feirinha de produtos da agricultura familiar. Ficou em pé, ao lado da sua barraca que estava vazia. Não havia o que vender. Tudo foi levado pela lama criminosa da Samarco e Vale do Rio Doce na tarde do dia 5 de novembro de 2015. Ele me disse que foi lá para confortar as pessoas. Ele não sabe por quanto tempo não terá nada pra vender, nem sabe por quanto tempo ficará em abrigos provisórios e não tinha notícias das suas galinhas e de outros animais que não foram levados pela lama e estavam morrendo de fome e sede.

O governo do Estado não conversou com o senhor Valdir, como não conversou com outras vítimas desta tragédia. Conversou com a Samarco. O Centro de Operações envolvendo Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil foi montado dentro da sede da empresa, guardada por um forte esquema de segurança privada coordenado por ex-militares. É a Samarco que tem o controle das informações sobre os atingidos, onde estão, que assistência estaria sendo prestada. Também é a Samarco que tem o controle sobre o número de trabalhadores que estavam na região no momento da tragédia.

Não havia nenhum plano de atendimento emergencial para situação de desastre seja da empresa, seja do Governo do Estado. Foi da Samarco que o Governo, através de coletiva com a imprensa, conversou com a sociedade. Não poderia ter mensagem mais objetiva: não consideramos a Samarco responsável, ela é uma parceira para minimizarmos os impactos deste “acidente”.  Ou como diria o Secretário de Desenvolvimento Econômico, enquanto os sobreviventes ainda estavam nas matas do entorno da lama, ela é uma “vitima”.

Foi grande o esforço da mineradora para construir um discurso de tranquilidade. Rapidamente espalhou as pessoas em hotéis da cidade, informou que a lama não era tóxica e a visibilidade da solidariedade da população que enviou milhares de donativos contribuiu com a ideia de que as pessoas estão sendo assistidas. Senhoras e crianças usarão calcinhas usadas, a escova de dente que o senhor Valdir usará foi doada por alguém comovido com a tragédia. Os impactos não estão sendo assumidos pela Samarco e a Vale S/A, mas pelo povo. O prefeito, refém da estrutura montada pela Samarco, se divide entre cobrar providências e o desespero do impacto econômico que a suspensão das atividades da Samarco terá na região. A cidade está fragilizada e vulnerável frente ao poder econômico da Vale S/A e o braço nacional da anglo-australiana BHP Billiton.

Na manhã da última segunda-feira, a filha de um trabalhador desaparecido me relatava como a família estava perdida. Ninguém explicava nada. Só a espera. Até o início da semana sequer uma reunião com as famílias daqueles declarados oficialmente desaparecidos havia sido feita.

Numa tragédia como a que estamos vivendo não é possível estar nos dois lados. Ou você está ao lado do povo, vítima da mineração, ou está ao lado da Samarco e Vale S/A, responsáveis por tudo o que está acontecendo.

Ou se faz um balanço sério de até onde a mineração chegou em nosso Estado e se passa a impor limites e responsabilidades, ou entra na lista de doação das mineradoras nas próximas eleições. Tem que escolher para quem quer governar e quem quer escutar. As mineradoras já foram escutadas durante as três gerações do choque de gestão em Minas Gerais. Está na hora de escutar o povo. E governar para ele.

 

*Por Beatriz Cerqueira, professora, presidenta da CUT Minas e coordenadora-geral do Sind-UTE MG.

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