A Sexta-feira da Paixão tem sua atenção voltada para a pessoa e obra de Jesus Cristo. É o dia em que a Igreja olha para o Cristo crucificado, o centro da obra redentora. Ali esta denunciada toda a pecaminosidade humana e está declarado todo o amor de Deus. Deus precisou intervir para solucionar a questão do pecado. E ele o fez em Cristo.
O texto bíblico de Isaías que é a base para a nossa meditação hoje aponta um contraste. Chama atenção o contraste entre o que é exaltado entre os seres humanos e o que é importante diante de Deus. A vitória de Jesus não é a vitória da força, do poder, da glória, mas a vitória em meio ao sofrimento, a dor, a humilhação. O servo do Senhor era tido como aflito, ferido de Deus e oprimido, mas por meio dele, a vitória sobre o pecado foi alcançada.
Diante desta verdade é importante revisarmos nossos valores. Quanto os nossos valores são moldados pelo que Deus revela através das Escrituras Sagradas e o quanto são moldados pelo que é considerado importante no mundo, e, no entanto, ofende a Deus?
Numa sociedade competitiva como a nossa, somos propensos, induzidos até, a pensar que “somos o que conquistamos”. Somos nós, através de nossos atos, que nos desenvolvemos no que somos. Valorizamos ao extremo nossas conquistas, diminuímos o valor de tudo quanto temos recebido ou até o esquecemos. Competir passa a ser mais importante de que partilhar. Pensamos que é melhor depender de nosso mérito do que experimentar a graça de Deus. Mas isso não é verdade, em verdade “somos o que recebemos”, já a vida é um presente, para o qual nada pudemos contribuir. Tudo que é essencial para sobreviver e nos desenvolver passamos a receber. Conhecimento, experiências e bens se transferem. Dependemos de toda a criação, pela qual Deus nos supre “abundante e diariamente de tudo o necessário para o corpo e a vida” conforme Martim Lutero.
Diante de Deus não serve para nada o que conquistamos, mas exclusivamente o que recebemos. Tudo o que recebemos desde o nosso nascimento pode ser limitado, e de fato é. Inclusive a vida que nos foi dada terá seu fim com a morte. Mas a entrega total do Filho de Deus é para nós também um presente total que desfaz todas as limitações e apaga todos os nossos pecados. Todos, sem exceção, ficam sem efeito. A própria morte é derrotada e substituída pela vida eterna.
O texto de Isaías também mostra a gravidade do pecado. O pecado é realidade que atinge a cada um de nós. Ninguém pode olhar apenas para a pessoa do outro achando que aí está à causa de todo mal. Ninguém é melhor do que ninguém. Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, conforme Romanos 3.23.
Em Cristo vemos o amor de Deus em ação em favor da humanidade e em favor de cada pessoa. Diante da graça de Deus, só nos resta pedir perdão pelos nossos erros e confiantes exultar na redenção recebida.
Quando vemos tudo o que Deus fez e faz nós, apesar de não o merecermos, cabe-nos confiar inteiramente nele, louvá-lo e colocar a vida a seu serviço. Em Cristo, temos a oportunidade de revisar nossos valores e corrigir nossa vida. Afinal, nele temos o perdão.
Em meio a sofrimentos, dores, injustiças, Deus em Cristo nos socorre e vence todo o mal. É a vitória de Cristo, é a vitória do amor que é humilde ao ponto de inclusive interceder pelos transgressores. Acusação, julgamento, condenação, tortura e morte. Por estas situações passa o caminho da Paixão de Jesus Cristo. Jerusalém na Judéia é a cidade que testemunha os fatos que culminam com a morte de Jesus na cruz. Esta historia é conhecida por muita gente. E hoje ainda é representada no cinema e no teatro. Ela nos faz pensar sobre nossas atitudes e maneiras de viver a fé cristã no dia a dia.
Já é famosa a representação que se faz em Nova Jerusalém, em Pernambuco, da historia da Paixão de Cristo. O nordeste brasileiro é o palco da reconstrução parcial da cidade de Jerusalém como era no tempo de Jesus. Nova Jerusalém, com seus setenta mil metros quadrados, é considerada o maior palco de teatro ao ar livre do mundo. A Paixão de Cristo é apresentada como um espetáculo comovente. Artístico, cultural, religioso, mas, os caminhos da Paixão de Cristo passam, principalmente, pelos lugares mais miseráveis do mundo. Onde há conflitos por mais vida, por respeito ao ser humano, por dignidade, por justiça, lá se encontra o palco da Paixão de Jesus Cristo.
Para finalizar: Conta-se que certa vez havia três árvores em uma floresta. Elas conversavam entre si, planejando o que queriam ser quando ficassem adultas. Uma das árvores disse que, quando crescesse queria ser transformada num belo palácio. A outra disse que, quando crescesse queria ser transformada em um espaçoso navio, que velejasse pelos mares, carregando reis e príncipes. A terceira árvore disse que queria permanecer na floresta apontando sempre para Deus, o criador de todas as coisas. Um dia veio o lenhador e cortou a primeira árvore. Mas, ao invés de ser utilizada em um palácio, a sua madeira foi empregada na construção de um curral de gado, onde nasceu o Menino Jesus. As pranchas de madeira da segunda árvore, que queria ser um grande navio, foram aproveitadas na armação de um pequeno barco que, singrando docemente as águas do mar da Galiléia, conduzia o Mestre Jesus, o qual, do seu convés pregava as multidões. Finalmente a terceira árvore que queria ficar de pé apontando para Deus foi convertida em cruz onde foi pregado o Redentor da humanidade. Desde então aquela cruz instrumento de suplicio atroz vem apontando o amor de Deus pela humanidade.
Que o Espírito Santo no dê sabedoria para vivermos diariamente aquilo que temos aprendido de Deus. E que o amor de Deus revelado em Jesus fortaleça a nossa fé e o nosso testemunho cristão por onde quer que andemos. Que usemos os nossos dons para colocar sinais do Reino de Deus entre nós. Sejamos verdadeiros discípulos de Jesus em nosso pensar, falar e agir. Que Deus nos abençoe. Amém.
Texto: Fabiani Appelt