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Em MG, Samarco ignora crianças que estão doentes por causa do rejeito de Fundão

Em MG

Em Barra Longa, mãe relata peregrinação por médicos. Pai trabalha em dois empregos e gasta o que ganha com remédio. Um das vacinas custa 300,00.

Na madrugada do dia 6 de novembro de 2015 a família de Simone Maria da Silva, 39, foi testemunha do caos provocado pela lama da Samarco na cidade de Barra Longa. Acompanhada de Sofia Silva Marques, na ocasião com apenas 10 meses de idade, assistiu do alto do morro a devastação causada pelo rompimento. O marido, José Márcio Marques, 38, e o filho David Silva Marques, 13, desceram para ver o estrago. A fábrica de ração que Márcio trabalhava estava sendo destruída.

Simone ouviu o barulho e sentiu o cheiro insuportável que atingia os moradores que estão longe do rio do Carmo. “Era um cheiro muito forte que entrava dentro da gente e incomodava a gente respirar. Aí não desci com Sofia, fiquei com ela dentro de casa”, relembra.

Ao amanhecer, o que viu foi uma paisagem de destruição. O que antes era um rio limpo em meio a montanhas esverdeadas tornou-se uma mancha marrom de rejeitos que vieram da barragem de Fundão.

Além da angústia de ver a cidade destruída e o trabalho do marido comprometido, Simone viveu a tristeza de saber que as duas casas que sua avó tinha no povoado de Gesteira não existiam mais. “Foi um desespero. Os vizinhos não acreditavam, não tínhamos informações. Sem perceber, minha tia bebeu duas garrafas de café cheia por causa da nervosia”, conta Simone.

Maria Geralda Bento, 78 anos, hoje vive em uma casa alugada em Barra Longa e espera que sua moradia seja reconstruída no reassentamento. Samarco diz que somente entrega tudo pronto em 2019.

Mas, o drama da família de Simone não parou por aí. Apesar de a lama ter atingido, principalmente, as margens do rio Carmo, a cidade de Barra Longa se tornou um canteiro de obras com imensa movimentação de máquinas, caminhões e gente. Em dado momento, a cidade de menos de 5 mil habitantes, tinha 650 trabalhadores em operação.

E a vítima mais frágil é a pequena Sofia. Segurando uma pasta cheia de receitas e laudos médicos, a mãe lembra nervosa a peregrinação por médicos, a infinita compra de remédios caros para problemas respiratórios, as respostas negligentes que a Samarco apresenta para o seu problema.

O rejeito sobe o morro e amplia a tragédia

“Desde o dia 29 de novembro de 2015, o primeiro dia que ela foi ao médico, eles me dizem que a poeira do rejeito pode ter relação com a doença da minha filha. E até o meio do ano, eu fiquei levando ela nas clínicas e a Samarco nunca tinha respostas para meus pedidos. Meu marido agora tem que trabalhar em dois empregos e o nosso dinheiro vai todo para pagar remédio. Veja esta vacina aqui: custa 300,00 reais”, conta, apontado para um laudo médico que pede a compra de uma medicação.

O mesmo laudo assinado pelo médico pediatra e alergista Antônio Carlos Pires Maciel, de Ponte Nova, afirma que o “quadro clínico é desencadeado por inalantes (fatores desencadeantes e irritativos relacionados a exposição da poeira proveniente dos rejeitos de minérios) resultado do rompimento da barragem de Mariana afetando o meio ambiente da cidade de Barra Longa, cidade onde reside a menor”.

A situação de Sofia ficou mais grave a partir do mês de julho de 2016, conforme atesta o registro de entradas e saídas em postos de saúde e hospitais, as receitas médicas e as datas de reclamação na Samarco. O principal motivo seria o fato da Prefeitura Municipal de Barra Longa, por meio de uma empreiteira contratada ter utilizado rejeitos de minério para o calçamento de ruas, incluindo a Santa Terezinha, local onde mora Simone.

“Eles despejaram caminhões de rejeito na minha porta. Era uma poeira imensa e a partir deste dia minha filha piorou totalmente. Já debatemos muito isto em reuniões. A Prefeitura ignora o assunto e a Samarco disse que não autorizou e não tem conhecimento. Como isto é possível em uma cidade tão pequena?”, questiona.

David, o filho de 13 anos, também tem marcas na pele oriundos do contato com lama e com a poeira. Mas, como somente Sofia tem plano de saúde, ela está aguardando ter condições financeiras para leva-lo ao médico.

A maior parte dos pedidos que Simone fez à mineradora desde novembro é que ela pague os remédios receitados pelos médicos. A Samarco se recusou a fazê-lo e sequer entregou o cartão subsistência que foi distribuído a parte dos atingidos e que poderia amenizar o impacto na renda da família.

 O que a Samarco Mineração S.A respondeu para a atingida em documento datado de 21 de setembro de 2016 é que está monitorando a qualidade do ar e que tudo está dentro de limites estabelecidos internacionalmente. E que além da limpeza das ruas, tem dado toda a assistência para a Secretaria Municipal que é a responsável por resolver o problema dela. 

Para Thiago Alves, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) a resposta da empresa mostra sua negligência com o tema.

“Estamos há meses neste debate. A situação da Simone já foi amplamente discutida e cobrada da Samarco. E existem dezenas de casos semelhantes entre crianças e idosos. A maioria deles estão sendo obrigados a sair da cidade pagando atendimento privado em Ponte Nova e outras cidades porque, definitivamente, o sistema local precariamente apoiado pela Samarco não dá conta das demandas que estão aparecendo, os resultados não são positivos e os problemas só crescem,” denuncia.

O MAB considera que o direito à saúde é um dos mais violados por este crime da Samarco, Vale e BHP. E as mineradoras ignoram este assunto, mentem nas reuniões ao apresentar informações contraditórias sobre o uso do rejeito para calçamento e apresentando respostas evasivas sem considerar os problemas complexos e de longo prazo que criaram.

“Nós vamos organizar todas as famílias que enfrentam este problema para ampliar o conceito de atingido e pressionar as empresas para que respeitem as populações após um crime tão devastador, a começar por seus membros mais frágeis, as crianças e os idosos,” conclui Thiago Alves.

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