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Indígenas admitem: data não tem muito que se comemorar

Indígenas admitem: data não tem muito que se comemorar
Hoje eles estão nas ruas, por quase toda a parte. Vestidos de maneira bastante simples, eles são taxados de maltrapilho, de mendigos, ou moradores de rua, mas mal sabe a sociedade que por detrás dos olhos pequenos, lábios grandes e do rosto característico, os indígenas podem oferecer muito mais que os balaios ou artesanatos que fabricam e vendem.

É por essas e outras que os indígenas sentem dificuldades em se adaptar ao ‘mundo dos brancos', tendo de ser submetidos aos mais diversos tipos de preconceitos e rejeição, além dos desafios que têm em preservar a sua cultura e evidenciar sua importância histórica na formação não só do Brasil, mas de toda América Latina. Sentimento esse expressado nas palavras do kaingang Edemar Floriano. "Pela nossa visão, muitas vezes a gente é sofrido; depende da cidade, dos poderes e de partidos, mas não colaboram com nossos costumes: a gente chega na cidade e tem que obedecer às ordens; pra ir na rua tem que pedir permissão, mas o que fazemos não é contrabando", afirma ele, relatando também as dificuldades impostas à comercialização dos produtos artesanais que evidenciam a cultura do índio.

DIA QUE NÃO MERECE COMEMORAÇÃO

Apesar das políticas públicas de incentivo a manutenção, preservação e conhecimento da cultura indígena, os próprios descendentes afirmam que o 19 de abril não é um dia de comemoração. No olhar sofrido e tímido, eles dão a entender que esta é uma data que muito mais atende a interesses dos brancos que dos próprios indígenas. "Esse foi um dia de massacre. As pessoas pensam que o Dia do Índio é festa e festa, mas ainda falta reconhecerem nossa cultura", diz Edemar Floriano.

Na verdade, o 19 de abril foi conseqüência da luta de classe. O Dia do Índio foi instituído ainda em 1943, no governo de Getúlio Vargas e foi uma consequencia do I Congresso Indigenista Interamericano, realizado três anos antes, no México.

Apesar de a valorização da cultura indígena ter evoluído a ponto de a mesma ser obrigatória nas escolas, outro indígena também compartilha da opinião de Floriano e reconhece que o 19 de abril é uma data que não merece comemoração. "Foi um dia de massacre. A melhor forma de comemorar é as pessoas reconhecer, valorizar e ajudar o povo indígena", pontua José da Silva, que em kaingang é Kryj.

DIFICULDADE TAMBÉM NA SUBSISTÊNCIA

Atualmente os indígenas moram em tribos especialmente destinadas à eles. Os nossos entrevistados, Floriano e Kryj, são da aldeia Kondá, em Chapecó, Santa Catarina. A aldeia é formada por cerca de 500 pessoas, todas da tribo dos kaingangs. Lá, apesar das contradições sociais e da dominação do branco, ainda muito se fala a língua mãe da tribo, a Jê.

Em um breve relato dos indígenas que lá vivem, é possível identificar a impossibilidade do isolamento do índio. A aldeia fica há poucos quilômetros da cidade e para quem pensa que lá os indígenas vivem ainda à maneira natural, de quando os portugueses chegaram aqui, engana-se. As casas da aldeia possuem energia elétrica e água encanada, além de vários equipamentos e eletrodomésticos. Os moradores do local contam com a organização social indígena (com cacique, vice cacique…) e também com assistência à saúde e escolar especializada.

Na época produtiva, entre os meses de agosto e janeiro, os indígenas permanecem na aldeia, plantando, cuidando e colhendo alimentos para sua subsistência. Porém, tão logo inicia o ano eles já começam também a se preparar para enfrentar os meses de frio que se seguirão. É aí que começa o trabalho de fabricação artesanal, onde são feitos balaios e cestos de palhas, além de colares, pulseiras e anéis. Após boa parte de estes produtos ser feitos os índios saem para vende-los. Com autorização da Fundação Nacional do Índio, eles migram para outras cidades, como Francisco Beltrão, por exemplo, onde um grupo de kaingangs está há cerca de dez dias e pretende ficar por mais duas semanas.

Tendo como abrigo um acampamento improvisado no Parque de Exposições Jaime Canet Junior, as mulheres trabalham na confecção do artesanato, enquanto que os homens os vendem em pontos estratégicos, como a feira da agricultura familiar, no calçadão central do município. É com o dinheiro da venda de artesanatos produzidos por eles mesmos que os índios garantem o sustento nos meses de frio e mesmo não estarem tendo sorte nos negócios, falam com entusiasmo da acolhida no Sudoeste. "Eu achei cidade estranha aqui. Fomos bem acolhidos, em outras têm os fiscais que chegam e não deixam vender", relata Kraj, que completa: "a venda tá fraca, mas a gente tá bem acolhido".

SOCIALMENTE EXCLUÍDOS

Muitos dos costumes indígenas já se perderam com o tempo. Na região Sudoeste, por exemplo, a colonização predominantemente ítalo gaúcha foi difundida e a cultura dos verdadeiros donos da terra esquecida. Com a luta de classe, reivindicando o reconhecimento, e políticas públicas que mais servem como um pedido de desculpas ao índio, o cenário aparentemente começa a mudar.

A valorização das tradições indígenas vem sendo bastante incentivada através de políticas públicas, mas ao mesmo tempo, o que se efetiva não é um reconhecimento pleno da importância dos índios na formação histórica do Brasil. "Muitos têm preconceito; uns 90% não conseguem entender o que a gente é. Hoje a gente come a comida diferente, com química e tudo aquilo, não tem mais o uso tradicional, da caça, pesca, porque isso já foi destruído", crítica Floriano, que ainda completa: "temos que se adaptar, mas o que não podemos perder é nossa principal marca: nossa língua mãe".

O sentimento dos indígenas com relação ao homem branco e sua dominância desde o 22 de abril de 1500 é bem expressado na música ‘O Índio', de Caetano Veloso, que diz: "o que se revelará aos povos surpreenderá a todos, não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto quando teria sido óbvio".

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