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Jesus criança, o rosto humano da ternura de Deus

Leia a reflexão do evangelho para o dia 25 de dezembro sobre Lucas 2,1-20. O comentário pertence ao biblista popular e assessor do CEBI, Ildo Bohn Gass.

Boa leitura!

No segundo capítulo de Lucas, ainda estamos no Evangelho da Infância de Jesus (Lucas 1-2). Mais do que dizer como os fatos aconteceram, essas narrativas querem conduzir-nos para além dos fatos, querem ir mais fundo. São literalmente “parábolas”, isto é, querem “jogar para além”. Por isso, fazem uma leitura teológica da infância de Jesus para servir de luz na caminhada das pessoas e das comunidades a quem elas se destinam, ontem e hoje.

Um dos textos propostos para refletir no dia do natal é a narrativa a respeito do nascimento de Jesus segundo Lucas 2,1-20. Podemos dividir este relato em três partes.

Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto…

A primeira parte situa o nascimento de Jesus na difícil realidade de seu tempo (Lucas 2,1-2). O povo judeu, como tantas outras nações, está sob a dominação do império colonialista de Roma. O nome do imperador da ocasião era César Augusto, que governou em Roma do ano 31 a.C. até o ano 14 d.C. Seu governo, portanto, durou nada menos que 45 anos. Foi Augusto quem deu início ao império romano, concentrando, dessa forma, ainda mais do que na época da república, o poder religioso, político, jurídico, militar e econômico na capital imperial. A comunidade de Lucas conhecia muita bem como os imperadores oprimiam as nações subjugadas. Anotou, inclusive, a análise crítica que Jesus fazia de sua tirania: “Os reis das nações dominam sobre elas, e os que exercem o poder se fazem chamar benfeitores” (Lucas 22,25).

Segundo o relato, Quirino, o governador romano na Síria, foi o responsável para organizar o recenseamento na região. Sabemos que os principais objetivos do censo tinham em vista a opressão política e econômica. Tinha como meta saber o número de homens aptos a serem eventualmente recrutados para a guerra (os judeus tinham o privilégio de não prestar serviço militar no exército romano), mas principalmente para saber a quantidade de pessoas de quem cobrar impostos. Os tributos cobrados por Roma passavam os 50% do rendimento das famílias dos povos colonizados. Dessa forma, Roma, além de ser o centro da dominação imperialista, tornava-se também um grande centro de acumulação de riquezas.

Mateus situa o nascimento de Jesus somente no contexto da Palestina, no tempo do rei Herodes (Mateus 2,1-12). Diferente é com a narrativa do nascimento de Jesus em Lucas. Ao situá-lo no contexto mais amplo do império, as comunidades de Lucas querem apresentar Jesus tendo uma missão universal. Ele veio trazer a libertação, a salvação para todos os povos. É essa também a razão por que Lucas faz recuar a genealogia de Jesus até Adão (pai de toda humanidade – Lucas 3,38), diferentemente de Mateus, em que a linha de filiação de Jesus vai somente até Abraão (pai somente do povo de Israel – Mateus 1,2).

A realidade do povo de Jesus não era muito diferente da nossa situação no Brasil hoje. Como no tempo de Jesus, ainda vemos se impondo, com a total subserviência dos poderes jurídico, político e midiático, o império do Deus Capital. E ele é comandado, não a partir de Roma, mas desde os centros de poder econômico, militar e de inteligência estadunidenses.

Maria deitou seu filho numa manjedoura…

Na segunda parte de nosso texto (Lucas 2,3-7), outra novidade nos é apresentada. Diferentemente dos poderosos, cujo poder está calcado nas armas do exército e nas riquezas acumuladas no centro do império, Jesus vem da periferia. Ele não só não vem de Roma, capital do império, ou de Jerusalém, capital dos judeus, mas vem de Belém, uma aldeia periférica na Judeia.

De um lado, seu nascimento é situado em Belém, especialmente para colocar Jesus na tradição e na esperança profética de seu povo (Miqueias 5,1-3). De outro, é para dizer que, desde o começo de sua vida, Jesus tem a mesa da partilha como centralidade de seu projeto. É que Belém quer dizer “casa do pão”. Daí ser teologicamente fundamental situar o nascimento de Jesus em meio ao pão. Já dizia Noemi, a sogra de Rute, que “Deus visitara seu povo dando-lhe pão” (cf. Rute 1,1.6). E, mais uma vez, em Jesus de Nazaré, Deus visita seu povo na casa do pão. Não é por acaso, que Jesus assumiu como eixo de sua missão a partilha dos pães de acordo com a necessidade de todas as pessoas. Temos, inclusive, dois relatos exemplares dentre as muitas partilhas que sua presença promoveu em meio ao povo (cf. Marcos 6,30-44; 8,1-10). Além disso, não pode escapar ao nosso olhar que Jesus colocou o pedido pelo pão no centro do Pai-nosso, no coração de sua oração, de sua conversa com o Pai, síntese do seu projeto (cf. Lucas 11,2-4; Mateus 6,9-13). Por fim, não é mera coincidência que também a partilha do pão foi o símbolo maior da boa nova do Pai, celebrada ao redor da mesa na santa ceia (Lucas 22,14-20).

Como vimos, Jesus não só não vem de Roma, capital do império, nem de Jerusalém, capital dos judeus, mas vem de Belém, uma aldeia periférica na Judeia. E mais. Se Belém já é uma aldeia marginal, Jesus nasce ainda mais na exclusão, nasce numa estrebaria, num estábulo nos arredores de Belém, “porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2,7). Ali, seu primeiro berço foi uma manjedoura, um cocho onde os animais comem o seu alimento. Também não é por acaso que o primeiro berço de Jesus é uma vasilha em que se coloca a comida, o pão cotidiano dos animais. Segundo o relato, os pais de Jesus eram forasteiros no lugar e não tinham onde pernoitar. É a partir dessa realidade extrema de marginalidade e de fragilidade, de abandono e de solidão de uma mãe dando à luz a sua criança, que vem a força do Deus libertador que quer incluir todas as pessoas de boa vontade em seu reinado de justiça e de paz. O poder de Deus consiste em que ele se revela na fragilidade e na ternura de uma criança. Jesus criança é o rosto humano da ternura de Deus e, ao mesmo tempo, o rosto divino do ser humano.

Hoje, podemos até concordar que o ambiente natalino respira um ar de harmonia e de confraternização universal. No entanto, o que se vê, de fato, é que a celebração do nascimento de Jesus foi manipulada e mascarada pelo mercado financeiro em função do consumismo que legitima relações desiguais, portanto, injustas.

Quantas crianças ficam de fora desse natal do consumismo? Neste sentido, não é o natal de Jesus um sinal subversivo, ao revelar que Deus está justamente nos lugares dos quais muitas pessoas fazem questão de passar longe? Não é revolucionária, ontem e hoje, a estrela da criança de Belém ao revelar a solidariedade de Deus para quem se encontra bem longe, na periferia? Não é subversivo amar quem se encontra à margem e acolher a diversidade em meio ao ódio e à intolerância? Não será que a sociedade capitalista justamente domesticou o natal de Jesus para manipular a sua força transformadora de todas as formas de violência e de exclusão? Por que será que nossas autoridades, que usurparam o poder popular com mentiras e a manipulação do judiciário, deixam-se fotografar ao lado do papai Noel, mas alimentam aversão ao presépio do menino de Belém e às ruas onde o povo está?

Eu vos anuncio uma grande alegria: nasceu-vos hoje um Salvador…

A terceira parte nos leva aos pastores, os primeiros destinatários dessa boa notícia da presença de Deus na frágil criança da manjedoura em Belém (Lucas 2,8-20). Um mensageiro levou a luz de Deus a pastores que, nos arredores, cuidavam dos rebanhos. Justamente a pastores, pessoas analfabetas, pobres e que eram marginalizadas. O mensageiro de Deus não anuncia essa boa nova a César Augusto em Roma, nem ao governador Quirino na Síria, nem em Jerusalém ou no centro de Belém. Mas é a partir dos últimos da sociedade que é anunciada a paz para todas as pessoas.

Sim, a luz da criança de Belém brilha para todas as pessoas, da mesma forma como o sol brilha para justos e injustos. No entanto, nem todas acolhem a luz de Deus. Assim foi no tempo de Jesus. Assim também é em nossos dias. Enquanto as autoridades buscam formas de difamar e matar o messias solidário com seu povo, os pastores reconhecem nele a revelação de Deus, pois se colocou a serviço da vida, a serviço de um mundo mais igual. A salvação não vem das autoridades, mas desta frágil criança. Os senhores deste mundo preferem a mentira, a calúnia, preferem a morte. A salvação, porém, está no senhorio do menino de Belém. Ele é o Senhor da vida e quer que o mundo todo seja Belém, a casa do pão sem exclusão.

Como Maria (Lucas 2,19), guardemos em nosso coração essa boa nova de Deus que continua se revelando a partir da margem. Guardar no coração, como Maria, é fazer uma profunda experiência com esse Deus que se revela na fragilidade da criança do estábulo de Belém e deixar que ela nos transforme e conduza as nossas vidas, ao ponto de tornar-nos sempre mais parecidas e parecidos com ela. Mais adiante, Jesus mesmo dirá: quem não receber o reinado de Deus como uma criança, não entrará nele (Lucas 18,17). Dessa forma, igualmente como Maria, daremos nossa contribuição, por pequena que seja, a serviço do reinado de Deus e de sua paz, fruto da justiça.

Que a luz das estrelas, especialmente da estrela de Belém, ilumine nossos corações, nossos lares e nossos caminhos…

Texto de Ildo Bohn  Gass, partilhado pelo autor.

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